BRASÍLIA - Antes mesmo da demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde, o governo intensificou uma ofensiva nas redes sociais para atacar sua gestão. Na prática, um dossiê foi montado contra Mandetta, sob a supervisão do "gabinete do ódio", núcleo ideológico que incentiva o presidente Jair Bolsonaro a adotar posições beligerantes nas mídias digitais. A ideia era mostrar que Mandetta cometeu erros na condução da pandemia do coronavírus, para que não saísse como "vítima" da crise.
A estratégia foi desenhada para desgastar a imagem de Mandetta desde que o confronto entre ele e Bolsonaro aumentou. Como mostrou o Estado, áreas técnicas do governo detectaram falhas na execução de medidas de combate à pandemia por parte do Ministério da Saúde, como a distribuição de respiradores que não estavam em perfeito estado para Estados como Amazonas, Amapá e Ceará.
No comando do "gabinete do ódio", o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos -RJ), filho "02" do presidente, foi um dos que sempre defenderam a saída de Mandetta. Na avaliação da ala ideológica, a permanência do ministro após a série de atritos com Bolsonaro foi um "tiro no pé", que deve ser debitado na conta dos militares da Esplanada.
Até a semana passada, os generais tentaram segurar Mandetta, sob o argumento de que a saída dele poderia mostrar falta de rumo do governo no combate ao coronavírus. Além disso, até hoje pesquisas indicam que a popularidade dele é maior do que a de Bolsonaro.
SUS
Nos bastidores, os bolsonaristas compartilharam, nos últimos dias, um dossiê acusando Mandetta de ser lobista de planos de saúde e de ter defendido "a destruição do SUS (Sistema Único de Saúde)".
Mandetta foi dirigente de uma operadora de saúde entre 2001 e 2004 em Campo Grande (MS). Deixou o posto para assumir a Secretaria de Saúde daquela cidade. Permaneceu no cargo entre 2005 a 2010, no governo do atual senador Nelsinho Trad (PTB-MS), que é seu primo.
Em 2015, Mandetta chegou a ser investigado por crimes relacionados à compra e instalação de um sistema de informática denominado Gerenciamento de Informações Integradas de Saúde (Gisa). A aquisição ocorreu quando ele era secretário de Campo Grande. Segundo uma ação de 2015, movida pela Procuradoria de Campo Grande, o serviço nunca foi entregue.
O mesmo documento afirma que o município teve de devolver à União R$ 14,8 milhões. Mandetta sempre contestou a acusação e não chegou a virar réu. Todas essas informações constam do dossiê que foi montado para desconstruir a imagem do homem que um dia mereceu a confiança de Bolsonaro, mas, depois, entrou em rota de colisão com ele.