Auxílio emergencial aumenta ganhos de brasileiro mais pobre

Estudo do Ipea com base em dados do IBGE mostra que o valor recebido foi 24% acima do ganho habitual de antes da pandemia

27 ago 2020 - 12h51
(atualizado às 13h03)

RIO - Embora, na média, o brasileiro tenha visto a renda do trabalho cair por causa da crise provocada pela covid-19, em julho, o rendimento total recebido ficou acima da renda habitual de antes da pandemia, por causa dos auxílios emergenciais pagos pelo governo federal. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado nesta quinta-feira, 27, mostra que entre as famílias mais pobres o valor efetivamente recebido foi 24% superior ao habitual.

Fila para saque do auxílio emergencial em agência da Caixa
Fila para saque do auxílio emergencial em agência da Caixa
Foto: PAULO CARNEIRO/PHOTOPRESS / Estadão Conteúdo

O estudo usou dados da Pnad Covid mensal de julho, versão especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na semana passada.

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O próprio IBGE já havia mostrado que os auxílios emergenciais estão turbinando a renda dos brasileiros, especialmente dos mais pobres - nas faixas de renda menor, o peso de outras fontes no rendimento total, como aposentadorias e transferências de renda pagas pelo governo, é maior do que no caso das famílias de renda mais elevada.

Para calcular o efeito do auxílio emergencial, o Ipea comparou a "renda média habitualmente recebida" - o valor recebido mensalmente, sem acréscimos extraordinários, como bonificação anual, salário atrasado, horas extras, participação anual nos lucros, 13.º salário, etc., nem descontos ocasionais, como faltas - com a "renda média efetivamente recebida" - valor de fato recebido.

Em tempos normais, as análises de conjuntura usam a renda habitual, até porque, "excluídos os efeitos da sazonalidade", os rendimentos efetivamente recebidos são "semelhantes aos habitualmente recebidos", diz o relatório do estudo do Ipea.

Só que a pandemia mudou isso, abrindo uma diferença entre a renda habitual e a efetiva, no caso do que é recebido pelo trabalho.

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Em julho, o rendimento do trabalho médio efetivo ficou em R$ 2.069,87 por domicílio, o equivalente a 87,1% do rendimento habitual do trabalho, que foi de R$ 2.376,76.

Nas famílias da faixa de renda "muito baixa" (que ganham menos de R$ 900 por domicílio por mês, conforme classificação própria do Ipea), a renda média do trabalho foi de apenas R$ 360,52 por domicílio em julho. Esse valor equivale a 61% do rendimento habitual do trabalho dessas famílias, que ficou em R$ 595,03.

Quando se somam outras fontes de renda (mas não o auxílio emergencial associado à covid-19), a renda média efetiva dos mais pobres sobe para R$ 707,83 por domicílio por mês. Esse valor ainda ficou abaixo da renda habitual de todas as fontes (R$ 942,34).

Como, na média, as famílias da faixa de renda "muito baixa" ganharam R$ 824,80 de auxílios emergenciais por domicílio em julho, o rendimento de todas as fontes efetivamente recebido foi de R$ 1.164,88, 24% acima da renda habitual.

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O efeito dos auxílios emergenciais foi tão forte que, na média nacional, o rendimento médio de todas as fontes, incluindo o pagamento extra por causa da pandemia, ficou em R$ 3.742,72 por domicílio em julho, 1% acima do rendimento médio habitual de todas as fontes sem o auxílio emergencial.

"Pela primeira vez, o AE (auxílio emergencial) já representa uma parcela da renda maior que a diferença entre a massa efetiva e a habitual para a economia como um todo, principalmente devido ao fato de ter-se observado maior recuperação da renda entre aqueles mais duramente afetados. Entretanto, essas diferenças permaneceram expressivas e, portanto, ainda muito fortes para os trabalhadores informais e domicílios de renda muito baixa", diz o relatório do estudo do Ipea, assinado pelo pesquisador Sandro Sacchet de Carvalho.

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