O medo de serem alvo de investigação por genocídio de povos indígenas em razão da acusação de inação do governo federal diante da pandemia de covid-19 foi o que provocou a reação do Ministério da Defesa e dos comandantes das três Forças às declarações do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. O argumento dos generais é que qualquer leigo poderia usar o termo genocídio de maneira imprópria, mas o tipo penal na boca de um ministro tem um sentido preciso, que não pode ser ignorado. Daí o pedido para que a Procuradoria-Geral da República apure os fatos.
Era noite de sábado quando o general Edson Pujol foi informado sobre as declaração de Gilmar. "Mas não é possível", reagiu. O comandante do Exército havia se encontrado com o ministro havia um mês, em um movimento que visava pacificar a relação da Corte com os militares. Gilmar saiu de lá convencido de que as ameaças de ruptura institucional feitas por Jair Bolsonaro eram um blefe, jogo de cena para sua militância. Com o fim da presença do presidente em manifestações antidemocráticas, tudo parecia calmo.
Para um general da ativa, a declaração poderia levar um procurador ou um tribunal internacional a instaurar um procedimento para apurar genocídio. Foi assim que afastou-se o argumento de que a nota da Defesa levava ao pé da letra a declaração do ministro, que só apontaria ser insustentável a pasta da Saúde permanecer 60 dias sem titular na pandemia. Ideia que levaria ainda à constatação de que os generais escalaram uma crise sem necessidade. Por fim, não houve estranhamento ao fato de a Defesa, em vez de o Planalto, ter respondido a uma crítica à Saúde e ao ministro interino, o general Eduardo Pazuello. Mesmo os generais mais moderados acreditaram que, desta vez, precisavam reagir. A reação da Defesa teve outra consequência: foi a senha para a militância bolsonaristas na internet retomar o discurso contra o STF, exigindo novamente um cabo e um soldado aos generais.