BRASÍLIA E SÃO PAULO - Um ano após o início da pandemia de covid-19, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, 3, que está pronto para colocar em prática seu plano de combate à crise sanitária no País, se o Supremo Tribunal Federal (STF) entender que é responsabilidade de seu governo a determinação de medidas para conter a doença. Bolsonaro deu a declaração após comentar pedido de secretários estaduais de Saúde para um "toque de recolher" nacional, na tentativa de evitar a disseminação do novo coronavírus.
"Se eu tiver poder para decidir, eu tenho o meu programa, o meu projeto, pronto para botar em prática no Brasil. Agora, preciso ter autoridade", afirmou o presidente. "Se o Supremo Tribunal Federal achar que pode dar o devido comando dessa causa a um poder central, que eu entendo ser legítimo e meu, eu estou pronto para botar o meu plano em prática", completou ele, após visita à residência oficial do embaixador do Kuwait.
Em abril do ano passado, o STF decidiu que Estados e municípios têm autonomia para executar as medidas necessárias para conter o avanço de covid-19. A decisão da Corte, no entanto, não retirou da União a responsabilidade pelas ações de combate à pandemia. Mesmo assim, foi usada por Bolsonaro, ao longo de 2020, como justificativa para os erros do governo federal na condução da crise. "Infelizmente, o poder é deles (Estados e municípios). Eu queria que fosse meu", disse o presidente, numa referência à decisão do Supremo.
Bolsonaro também ironizou o fato de os secretários pedirem a ele uma medida "nacional" para enfrentar a pandemia. "Agora, um ano depois? Lembraram de mim um ano depois? Estão sendo pressionados pela população que não aguenta mais ficar em casa e que tem que trabalhar por necessidade."
Sob o argumento de que o governo já liberou "uma quantidade enorme" de recursos para Estados e munícipios, Bolsonaro afirmou que vai conversar com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para verificar o que ainda é possível ser feito. "Ele não é o dono do cofre, mas nós vamos fazer de tudo para preservar vidas", disse o presidente.
"Nós aqui não nos furtamos a liberar recursos para isso. Foi liberada uma quantidade enorme de recursos no ano passado. Não quero culpar ninguém de nada, nem desconfiar de ninguém (...). Mas foram recursos vultosos, que grande parte do problema poderia ter solucionado", emendou.
"No que depender de mim, nunca teremos lockdown"
Horas depois, em conversa com apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, Bolsonaro criticou medidas decretadas pelo governador de São Paulo, João Doria. "Eu não tomei conhecimento do lockdown desse cidadão, não", afirmou o presidente ao responder a uma pergunta, sem citar o nome de Doria.
"No que depender de mim, nunca teremos lockdown. Nunca", disse Bolsonaro no dia em que o Brasil bateu novo recorde e registrou 1.840 mortes por covid-19 em 24 horas. "Uma política que não deu certo em lugar nenhum no mundo. Estados Unidos, vários Estados anunciaram que não tem mais. Mas não quero polemizar esse assunto aí."
Um apoiador observou, então, que os empresários não aguentam mais lockdown. "Não aguenta, não aguenta mais. O cara quando fecha uma empresa, dez, doze pessoas são mandadas embora, dificilmente arranja emprego novamente. E fica uma família para trás, vivendo da informalidade (...)", comentou Bolsonaro. "O cara que vendia picolé em estádio de futebol não vende mais. Tem alguns (prefeitos) que proíbem o cara de ir à praia. A praia é lugar do cara pegar vitamina D. Ajuda a resistir à covid. É um festival de absurdos".
Antes de se despedir, o presidente voltou a citar o Supremo, com sua interpretação do entendimento da Corte. "Mas a decisão disso tudo está nas mãos de prefeitos e governadores, de acordo com a decisão do Supremo Tribunal Federal", disse Bolsonaro.