Bolsonaro: Doria é "lunático" e faz política com coronavírus

Em entrevista à CNN Brasil, presidente critica governador de São Paulo e volta a confrontar ações dos Estados

21 mar 2020 - 22h08
(atualizado em 22/3/2020 às 09h28)

O presidente Jair Bolsonaro chamou de "lunático" o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que mais cedo decretou quarentena a partir de terça-feira, 24, para conter o avanço do novo coronavírus. Questionado sobre a decisão de Doria em entrevista à CNN Brasil neste sábado, 21, Bolsonaro afirmou:

"Para falar a verdade, porque não vou fugir dessa minha característica, é um lunático. Está fazendo política em cima deste caso. Ora é um governador que nega ter usado o meu nome para se eleger governador, então eu lamento essa posição política dele. Ele está aproveitando desse momento para querer crescer politicamente", disse o presidente. "O assunto, no meu entender, tem de ser voltado exclusivamente para esse problema que temos pela frente que é o coronavírus."

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Hospital diz não ter sido notificado sobre divulgação de exames de Bolsonaro
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Foto: Wagner Pires / Futura Press

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou neste sábado, 21, o presidente Bolsonaro por ter relativizado a gravidade do novo coronavírus. Doria afirmou em entrevista coletiva que o Brasil não tinha uma liderança capaz de orientar o País durante a crise causada pela pandemia da covid-19. O governador determinou a realização de quarentena em todo o Estado a partir da terça-feira, 24.

"Gostaria de ter um presidente que liderasse o País em uma crise como essa e não relativizasse uma questão tão grave como o coronavírus para os brasileiros", afirmou o governador." Muito triste que não tenhamos neste momento uma liderança no País em condições de orientar os brasileiros, acalmar, tomar atitudes corretas, liderar a sua equipe de trabalho, seus ministros e secretários, para a tomada de decisões corretas e que atendam à expectativa da população".

Bolsonaro, na entrevista à CNN, voltou a confrontar ações dos governadores. "Medidas que esse governador (Doria) tem tomado, como outros, do Rio de Janeiro, Bahia, Piauí, o próprio DF, são questões no meu entender que extrapolam. É uma dose de remédio excessivo. E remédio em excesso torna-se um veneno. Você pode vê, o Rio de Janeiro, por exemplo, proibindo pouso de aviões em nossos aeroportos. Olha os aeroportos estão sendo usados ainda para trazer gente de fora do Brasil para cá. Você precisa trazer insumos para cá, muitos por aviões. Precisa continuar atendendo quem precisa de um transplante de órgãos, que não pode vir pelo meio rodoviário ou ferroviário. Então eles estão fazendo um clima de terror junto à população desses Estados."

Bolsonaro afirmou ainda que as "eleições de 2022" ainda estão longe. É uma referência a Doria e também o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC) - ambos, que foram eleitos em 2018 se apoiando no bolsonarismo, são potenciais candidatos à Presidência da República. "Esses governadores, poucos, que me criticam o tempo todo, dizem que não tenho liderança. Digo a esses governadores: as eleições de 2022 estão muito longe ainda para vocês partirem para esse tipo de ataque, para esse tipo de comportamento de desgaste infundado em cima do chefe do Executivo federal", afirmou Bolsonaro.

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O presidente disse ainda que é preciso ter "um limite" para o teto de gastos e que, uma vez aprovado o estado de calamidade pública, o governo terá recursos para investir no combate a doença. O pedido, feito pelo governo, foi aprovado por deputados e senadores. Com isso, o governo não será mais obrigado a cumprir a meta de resultado primário para o ano, ou seja, a de um déficit de R$ 124,1 bilhões.

"O que nós fizemos foi o estado de calamidade (pública), o parlamento já aprovou, estamos autorizados a gastar além do teto tudo que for necessário para combatermos o coronavírus. Acredito que é irresponsabilidade furar o teto, precisamos ter um limite", afirmou. "Aprovado o estado de calamidade, tem recurso para ganhar para questões voltadas exclusivamente ao combate ao vírus. Não temos problemas em atender inclusive ligações diretas com prefeitos."

Medicamento

O presidente afirmou neste sábado que o laboratório químico e farmacêutico do Exército vai ampliar imediatamente a produção de cloroquina, medicamento que tem sido testado no tratamento do novo coronavírus, mas não tem eficácia comprovada.

Em entrevista à CNN, Bolsonaro disse estar confiante em relação à eficácia do medicamento para o tratamento de pacientes com o novo coronavírus. Caso o funcionamento do medicamento seja confirmado, ele diz que a intenção do Governo é distribuir o produto para todos os infectados pela Covid-19.

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Por conta do aumento da procura pelo medicamento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) restringiu a compra de cloroquina e a incluiu na categoria de remédios controlados. "Não há recomendação da Anvisa, no momento, para a sua utilização em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus", diz comunicado oficial.

Além do fato de os Estados Unidos estarem analisando o medicamento, o presidente citou durante a entrevista que o Hospital Albert Einstein iniciou o protocolo de pesquisa para avaliar a eficácia da cloroquina nos pacientes com a Covid-19.

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