Em tom de retaliação, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira, 25, que determinou à Polícia Federal uma investigação do "prontuário" do deputado federal Luís Miranda (DEM-DF). O parlamentar vai depor nesta sexta-feira, 25, à CPI da Covid, ao lado do irmão Luís Ricardo, servidor do Ministério da Saúde, após dizer que avisou o presidente Jair Bolsonaro, em março, sobre um esquema de corrupção envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin.
"Isso aconteceu em março. Quatro meses depois, ele resolve falar para desgastar o governo. O que ele quer com isso?", perguntou Bolsonaro em transmissão ao vivo pelas redes sociais. "Andou comigo de moto em Brasília. Esteve aqui conversando comigo. Eu abro as portas do Alvorada para todo mundo. De repente, o cara 'vapt'. Vai ser apurado. Com toda certeza, quem buscou armar isso daí vai se dar mal".
Eleito em 2018 na esteira do bolsonarismo, Miranda era apoiador de primeira hora do governo, mas agora virou inimigo. Bolsonaro admitiu que conversou com o deputado, mas disse não ter acesso a tudo dos ministérios. "Nem posso ter", destacou. O presidente também não deixou claro o que exatamente Miranda disse.
"Ele não falou nada de corrupção em andamento. Não tem nada. Passados quatro, cinco meses depois que ele conversou comigo - conversou sim, não vou negar isso aí -, não aconteceu nada. Não entrou no Brasil uma só dose de Covaxin". Não foi gasto um centavo com aquilo", insistiu o presidente. "Então, falar que 'descobriu corrupção no governo' via esse deputado Luís Miranda aí, que veio dos Estados Unidos para cá, que tem um irmão envolvido nisso tudo, que estava lá dentro do ministério da Saúde, isso não tem cabimento".
Como revelou o Estadão/Broadcast, o governo empenhou, ou seja "reservou" no orçamento, a quantia de R$ 1,6 bilhão para fechar o contrato de compra de 20 milhões de doses da Covaxin, por US$ 15 a unidade. O valor é 1.000% maior do que o anunciado pela própria fabricante Bharat Biotech seis meses antes.
Bolsonaro também não explicou se pediu à Polícia Federal investigações sobre a acusação em si. Dirigentes da corporação ouvidos pela reportagem disseram que ele não encaminhou a denúncia. "Determinei que a Polícia Federal investigue o caso desse deputado aí, que tem uma ficha, tem um prontuário, na verdade, bastante extenso", afirmou.
Durante a live, Bolsonaro minimizou as suspeitas de superfaturamento envolvendo a Covaxin. "Que corrupção é essa, se não recebemos nenhuma dose?", questionou. O presidente disse que, ainda em março, auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) não viram indícios de sobrepreço na Covaxin.
"Por que 1.000%? Porque tem uma nota onde estava escrito lá 'trezentas mil vacinas'. E faltava um zero. Na verdade, eram três milhões. Então, dá mais ou menos mil por cento a diferença. E o preço, a própria Covaxin disse, está de acordo com treze outros países que manifestaram intenção de comprar. Se tiver roubalheira no meu governo, em um ministério qualquer (...), a gente vai tomar as providências", repetiu.
Sem máscara
Ao lado do ministro das Comunicações, Fábio Faria, Bolsonaro voltou a criticar o uso de máscaras para conter a disseminação da covid-19, em especial por crianças, e falou novamente sobre o estudo encomendado ao Ministério da Saúde para desobrigar a proteção.
"Já estava na imprensa aí: 'Bolsonaro manda menina de dez anos tirar a máscara para continuar recitando'. Estava uma menina sozinha recitando um poema. Ninguém ouvia, quase, o que ela falava. Pedi para ela assim: "Pode abaixar a máscara?" Ela abaixou a máscara, e falou", disse. Bolsonaro se referia às críticas recebidas nas redes sociais depois que abaixou a máscara de um garoto de colo e pediu para uma menina ficar sem a proteção ao recitar poesia em homenagem a ele, na visita que fez ao Rio Grande do Norte.
"Se você tirar a máscara da cara da criança, ela está com a boca aberta. Eu entendo, pelo que sei da minha mãe e meus avós, que criança de boca aberta tem problema", disse Bolsonaro, ao acrescentar que, se estiver errado, se desculpará na próxima semana.
Ao falar sobre a proposta de voto impresso, Bolsonaro criticou o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). "É um palpiteiro", afirmou ele. O ataque ocorreu após o magistrado classificar a adoção do voto impresso, bandeira do bolsonarismo, como "violência contra Constituição".
"Se o Congresso Nacional aprovar o voto impresso, teremos eleições auditáveis no ano que vem e ponto final", disse Bolsonaro. A proposta é avaliada na Câmara dos Deputados, mas recebe críticas de especialistas. Não há indícios de fraudes no modelo de urna eletrônica como é hoje.
Apesar das crises enfrentadas, Bolsonaro disse que o Brasil "vai muito bem". "Vão ter de me engolir", avisou, sinalizando confiança na reeleição, em 2022.
Fábio Faria, por sua vez, minimizou uma foto que circulou nas redes sociais, nesta quinta-feira, 24. Na imagem, alguns operários a seu lado, na Barragem de Oiticica, em Jucurutu (RN), pareciam fazer a letra "L" com as mãos. "Estavam apontando para o céu, a pedido de Bolsonaro", disse o ministro. O gesto foi entendido por políticos de oposição como demonstração de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
De olho nas eleições de 2022, Bolsonaro afirmou que Lula "fica dizendo por aí" que foi inocentado. "Se delatores devolveram R$ 3 bi é porque os chefes roubaram muito mais que isso", concluiu ele, numa referência às denúncias de corrupção envolvendo a administração petista.
Lula teve processos anulados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por irregularidade na competência do foro de Curitiba. A Corte, porém, não julgou o mérito das condenações agora anuladas.