Bolsonaro recua e diz que vai discutir com Maia e governadores veto a reajuste de servidores

Durante encontro com o líder da Câmara dos Deputados, presidente disse que governadores e prefeitos estão no 'limite' com a questão dos gastos públicos

14 mai 2020 - 20h18
(atualizado às 21h45)

BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira, 14, que pretende discutir com governadores e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), o veto ao trecho do projeto de auxílio a Estados e municípios que trata de congelar o reajuste de servidores públicos até 2021.

"Ele pretende, juntamente comigo, fazer videoconferência com governadores de todo o Brasil e ali sair compromisso no tocante a possível veto ou não de artigos desse projeto", afirmou Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada.

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Bolsonaro disse que fala a mesma língua de Maia em relação ao aumento dos gastos.
Bolsonaro disse que fala a mesma língua de Maia em relação ao aumento dos gastos.
Foto: Isaac Nóbrega/Presidência da República / Estadão

Bolsonaro e Maia se encontraram nesta quinta-feira, 14, após meses de afastamento e trocas de farpas em público. Depois da reunião, Bolsonaro disse que não há "ataques" e eles estão em "paz e harmonia". Horas, antes, no entanto, a empresários, sem citar o nome de Maia, Bolsonaro disse que o presidente da Câmara "parece que quer afundar a economia para ferrar o governo para talvez tirar proveito político lá na frente", disse. "A tendência é a gente afundar mesmo".

Bolsonaro disse que o ministro da Economia, Paulo Guedes, teme que parte dos R$ 60 bilhões de socorro aos Estados e municípios previstos no projeto seja usada para reajustar salários de funcionários públicos. A contrapartida pensada pela equipe econômica é o congelamento do salário do funcionalismo até o fim de 2021.

O presidente disse ainda que fala "a mesma língua" de Maia neste tema. "Está todo muito preocupado com a questão de gastos. Quase todos os prefeitos e governadores estão no limite sobre a questão de gastos", disse Bolsonaro.

O presidente prometeu ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que vetaria o trecho do projeto, que blinda uma série de carreiras do congelamento, incluindo as de segurança pública. Conforme mostrou o Estadão/Broadcast, foi o próprio Bolsonaro que deu aval para que o Congresso aumentasse a lista de categorias que podem ter reajuste até o fim do ano que vem, contrariando as orientações da equipe econômica. Com as modificações, a economia com a medida, prevista inicialmente em R$ 130 bilhões, caiu para R$ 43 bilhões.

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Depois, no entanto, Bolsonaro passou a se comprometer, em público, a vetar a possibilidade dos reajustes. Na segunda-feira, disse que até hoje decidiria sobre o veto e atenderia 100% a Guedes. Hoje, no entanto, mudou o discurso.

O presidente tem até o dia 27 de maio para sancionar o socorro aos Estados e municípios, com o veto à possibilidade de aumento salarial para o funcionalismo. Como mostrou o Estadão/Broadcast, o presidente segurou os vetos para permitir reajustes a algumas categorias, como as polícias civil e militar do Distrito Federal, cuja autorização para o aumento foi aprovada na quarta-feira, 13, pelo Congresso.

O presidente afirmou que a videoconferência com governadores pode ser feita na próxima semana. A reunião marcaria reaproximação do presidente com os chefes do Executivo nos Estados. Bolsonaro tem feito duras críticas a medidas de distanciamento social decretadas por governadores para conter o avanço da covid-19 e voltou a defender a reabertura do comércio e retorno de atividades nos Estados.

O presidente disse que irá "trocar impressões" com Maia e governadores, sobre "começar a abrir o comércio". "Começam a falar que vírus não vai embora daqui a um ou dois meses. Pode durar mais de um ano", disse. "Nossa economia está no limite. Com desemprego, pessoal em casa começa a faltar tudo", completou.

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O presidente alertou que o governo federal não tem condições seguir pagando o auxílio emergencial de R$ 600 após a terceira parcela. Bolsonaro disse ainda que, se a quarentena não for encerrada, inflação e juros devem subir no futuro.

Segundo Bolsonaro, a reabertura "sempre" está na pauta do ministro da Saúde, Nelson Teich. "(Ele) entende que tem de buscar uma saída para que voltemos a trabalhar. Não é só o povo quer trabalhar, o Brasil precisa", disse.

Reformas

Bolsonaro disse que "várias reformas" podem ser "potencializadas agora", sem especificar quais seriam elas. Ele afirmou que Maia levanta a mesma bandeira. "Está faltando colocar em prática. Parece que o mar está de almirante. Dá para buscar solução para tudo isso", disse.

Medida Provisória

O presidente afirmou que o Congresso poderá "aperfeiçoar", se necessário, medida provisória publicada na madrugada desta quinta-feira, 14, que isenta agentes públicos de serem responsabilizados por erros que cometerem durante o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus ou de seus efeitos na economia do País.

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"Foi um pedido, se não me engano, do Roberto Campos (presidente do Banco Central). Sempre tem críticas. Tudo o que faz se faz tem crítica. O Parlamento vai poder, agora, aperfeiçoar o que por ventura não está de acordo com o entendimento deles", disse Bolsonaro.

Polícia Federal

Ao deixar entrevista à imprensa em frente ao Alvorada, Bolsonaro apontou para máscara que usava, com logo da Polícia Federal. "A PF agora é do Brasil. Como sempre foi, independente, vai continuar nos orgulhando do seu trabalho", disse. A declaração veio após um suposto pedido do presidente para interferir na PF, que também motivou a demissão de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e abriu uma crise no governo.

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