A prefeitura de Botucatu pretende mobilizar toda a estrutura de saúde para realizar, em tempo recorde, a vacinação em massa da população adulta contra a covid-19, usando a vacina AstraZeneca/Oxford, distribuída pela Fiocruz. O projeto, anunciado pelo Ministério da Saúde, prevê vacinação ampla, testagem em massa e o sequenciamento genético do vírus e suas cepas. O município conta com 22 unidades de saúde, dois hospitais particulares e um hospital municipal, além de um grande hospital-escola estadual - o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
O objetivo é testar os efeitos da vacina quando aplicada em massa e sua eficácia contra novas cepas do novo coronavírus. De acordo com o secretário municipal de Saúde, André Spadaro, a imunização deve começar nos próximos dias e será encarada como um desafio. "O ministro nos acenou e, de certa forma, nos estimulou para que essa vacinação ocorra dentro de um prazo curto. Deve ser algo rápido. Vamos ter de utilizar toda estrutura de atenção primária, todos os parceiros que a gente já tem para acelerar essa vacinação, para que a gente comece em duas semanas e, depois de começar, que a gente conclua essa vacinação dentro de sete a dez dias", disse.
O município já tem os cadastros de todos os usuários da rede municipal de saúde e os inscritos no Sistema Único de Saúde (SUS), mas ainda vai definir de que forma acontecerá a vacinação. O plano é vacinar apenas moradores da cidade, como foi feito em Serrana, também no interior paulista. "Tudo isso deve ser definido nos próximos dias", informou a gestão municipal. O prefeito Mário Pardini (PSDB), que esteve em Brasília nos últimos dias definindo detalhes do projeto com o Ministério da Saúde, vai divulgar mais informações sobre a aplicação do plano nesta quinta-feira, 29.
Em 2009, quando a cidade viveu um surto de febre amarela, com 29 casos confirmados e 11 mortes, praticamente toda a população foi vacinada em duas semanas. Na época, porém, não havia pandemia e as filas e aglomerações não eram problemas. O infectologista Carlos Magno Fortaleza, professor da Unesp e coordenador do projeto, afirma que a cidade tem logística para vacinar a população-alvo em pouco tempo. "O que esperamos é que a vacina venha no prazo prometido, pois é um estudo que vai mostrar o funcionamento da vacina em vida real e não beneficia apenas os moradores de Botucatu, favorece todos os brasileiros", disse.
População apoia iniciativa
Muitos moradores se manifestaram por redes sociais, a maioria aprovando a iniciativa. À reportagem, a assistente social Adriana Moraes disse que está pronta para receber a vacina Oxford. "Minha avó, mãe e tias já foram vacinadas, graças a Deus. Acredito que esta iniciativa nos dá a esperança de que, com a proteção em massa, possamos proteger a população, bloqueando a transmissão. Caso a infecção venha ocorrer, os sintomas e sequelas serão bem menos severos do que estamos vivenciando hoje. E o número de óbitos, com certeza será muito menor."
Ela também acha importante contribuir para um estudo mais detalhado da doença e suas variantes. "Acredito que a cidade inteira esteja ansiosa para o início da vacinação", afirma Adriana. O jornalista Júnior Quinteiro, que é jovem, disse que, em um primeiro momento, ficou com uma sensação estranha ao saber que poderia se vacinar antes de milhões de pessoas dos grupos prioritários que ainda não conseguiram a vacina. "Porém, estando inserido no contexto de uma pesquisa, de um ensaio clínico, não posso deixar de ajudar e colaborar, já que a efetividade do estudo depende da vacinação em massa", afirmou.
Segundo ele, a cidade tem estrutura e know-how em vacinação. "São dezenas de unidades de saúde, centros de saúde, além do Hospital das Clínicas e rede privada. Somos um polo de referência na saúde." Quinteiro classificou como "imensa" a importância do projeto por incluir o sequenciamento genético do vírus e cepas em circulação na cidade. "O Brasil virou uma fábrica de variantes e a necessidade de se investigar a eficácia do imunizante nessa mutação é um passo importante. A Unesp é um celeiro com alguns dos melhores pesquisadores do País e tornará essa pesquisa com a Fiocruz algo de muito valor, não só para o Brasil", pontua.