O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quarta-feira (1) que o Brasil está com um "grande problema" com o coronavírus e que o País "precisou parar". Trump conversou por telefone com o presidente Jair Bolsonaro na manhã desta quarta-feira, 1º, em uma ligação em que os dois "reiteraram importância de retardar a disseminação do vírus e proteger vidas através do compartilhamento de informações, aumento da preparação e cooperação em terapias e desenvolvimento de vacina", segundo a Casa Branca.
Trump vem sendo cobrado a se posicionar publicamente sobre a posição de Bolsonaro, que foi criticado na imprensa internacional por minimizar a gravidade da covid-19. Nos últimos dias, Trump se esquivou de responder especificamente sobre as recentes falas de Bolsonaro, apesar de ter sido questionado duas vezes. Os dois já se encontraram quatro vezes em um ano. Nos encontros, Bolsonaro falou a Trump que o admira e que apoia sua reeleição.
O americano passou todo o mês de fevereiro e início de março como um dos principais expoentes do negacionismo da crise. Quando Bolsonaro passou a chamar o coronavírus de uma "fantasia superdimensionada", no entanto, o presidente dos EUA já estava entrando em movimento contrário, para reconhecer o tamanho do problema.
Trump passou quase duas horas em coletiva de imprensa nesta tarde na Casa Branca, sem fazer qualquer menção à conversa com Bolsonaro. A última pergunta da longa entrevista foi sobre o telefonema do Brasil. "Ele (Bolsonaro) é um grande cara, está trabalhando duro. Ele está com um problema com o vírus, um grande problema. Falamos sobre isso hoje. O Brasil está paralisado, você sabe? Eles não iam paralisar, mas precisaram. O Brasil está paralisado. O mundo está paralisado", disse Trump.
Durante a tarde, o chanceler do Brasil, Ernesto Araújo afirmou que a conversa foi em tom de parceria diante da crise mundial com a pandemia e disse que Trump se colocou à disposição para a cooperação com o Brasil no que for necessário. Araújo disse que os dois presidentes não trataram especificamente de medidas de confinamento.
Em comunicado, a Casa Branca afirmou que Trump e Bolsonaro também de comprometeram a defender empregos e renda, usando as ferramentas necessárias para restaurar o crescimento global.
Na semana passada, quando Bolsonaro fez o primeiro pronunciamento em rede nacional sobre o tema e disse que era preciso voltar à normalidade, aliados do presidente do Brasil postaram nas redes sociais imagens de Trump defendendo que as atividades nos EUA fossem retomadas na Páscoa para não prejudicar a economia. Mas Trump, que já vinha calibrando seu discurso, tem defendido há quase 20 dias a imposição de medidas extremas de distanciamento social e restrição de circulação de pessoas para tentar conter o cenário dramática que os EUA têm enfrentado.
Nesta terça-feira, Trump voltou atrás do que disse em 26 de fevereiro e afirmou que o vírus "não é uma gripe". "É perverso", disse ele, mencionando a gravidade dos pacientes hospitalizados. "Tive muitos amigos, empresários, pessoas com um ótimo senso comum. Eles disseram 'Por que não esperamos passar?'. Muitas pessoas disseram, muitos pensaram sobre isso: 'Deixe passar. Não faça nada. Só aguente e deixe passar e pense nisso como uma gripe'. Mas isto não é a gripe. É perverso", disse Trump.
Há pouco mais de um mês, o americano afirmou que o vírus era "como uma gripe" e que os casos do vírus nos EUA estavam "caindo e não aumentando", a despeito de os dados mostrarem o contrário. Três dias depois, o país teve a primeira morte confirmada por coronavírus. Nesta terça-feira, os EUA superaram a China, primeiro foco da pandemia, no total de mortes em decorrência da covid-19. A expectativa mais otimista da Csa Branca prevê ao menos 100 mil mortes em decorrência do vírus nos próximos meses no país.
A comparação do coronavírus com uma gripe foi feita também por Bolsonaro na semana passada. Bolsonaro também já repetiu outra parte do roteiro outrora adotado por Trump durante a crise, ao sugerir que a cloroquina é um método de cura, quando o medicamento ainda precisa passar por testes. Duas pessoas morreram nos EUA depois de ingerir a medicação após as falas de Trump sobre o remédio.