Os resultados foram divulgados no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro decidiu flexibilizar o isolamento social, ampliando a lista de serviços essenciais que podem funcionar durante o período de enfrentamento ao novo coronavírus no País. O decreto inclui atividades relacionadas a alimentação, atendimento bancário, mecânica automotiva, transporte e armazenamento de cargas, além daqueles exercidos por start-ups.
O levantamento revela que número de óbitos deverá ser "muito alto" (acima de 5 mil) em apenas dois países, Brasil e Estados Unidos. A estimativa do Imperial College é de que o número de mortes no Brasil possa chegar a até 9,7 mil. Numa previsão menos pessimista, os cientistas previam 5,6 mil óbitos até o fim desta semana - nesta quarta-feira, 29, o Ministério da Saúde contabilizava 5.466 registros, mas especialistas alertam para possível subnotificação, por falta de testes suficientes para testar as vítimas. Os números previstos para os EUA são maiores, entre 13 mil e 15 mil, mas, por lá, a epidemia já está se estabilizando, enquanto que, por aqui, está ainda está crescendo.
A Imperial College é uma das mais conceituadas do mundo em modelagem matemática e vem publicando projeções desde que a epidemia chegou à Europa. Foi por conta dos números apresentados pela instituição que o primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, se convenceu de que o isolamento social era a única medida possível para evitar um número catastrófico de mortes no país.[
A projeção do Imperial College avaliou a tendência da epidemia em 48 países do mundo. O levantamento lista os países em que a disseminação do novo coronavírus está "provavelmente declinando" (República Dominicana, França, Itália e Espanha); "provavelmente estável ou em crescimento lento" (Argélia, Bangladesh, Bélgica, Colômbia, República Tcheca, Equador, Egito, Alemanha, Grécia, Indonésia, Irã, Israel, Holanda, Panamá, Filipinas, Portugal, Romênia, Suécia, Suíça, Turquia, Ucrânia, Reino Unido e EUA).
A pior previsão é para nove países em que a epidemia ainda se encontra "em provável crescimento" (Brasil, Canadá, Índia, Irlanda, México, Paquistão, Peru, Polônia e Rússia). A tendência é incerta para os demais 12 países avaliados (Argentina, Áustria, Chile, Dinamarca, Finlândia, Hungria, Japão, Marrocos, Noruega, Arábia Saudita, Sérvia e Coreia do Sul), segundo a universidade.
"Estamos virando uma referência mundial negativa", resumiu o infectologista Antônio Flores. "Isso tem a ver com as nossas estratégias de testagem, que não são satisfatórias; da forma como o distanciamento social foi implementado em diferentes regiões do País e das mensagens conflitantes do nosso governo. Ter uma mensagem consolidada é muito importante para que a comunidade tenha confiança na resposta; e por aqui estamos vendo protestos contra o isolamento."
Com base nas tendências de crescimento da epidemia, o número de mortes estimadas para esta semana deve ser "relativamente baixa" (menos de 100 óbitos) em Argélia, Argentina, Áustria, Bangladesh, Chile, Colômbia, República Tcheca, Dinamarca, República Dominicana, Equador, Egito, Grécia, Hungria, Israel, Marrocos, Noruega, Panamá, Filipinas, Arábia Saudita, Sérvia, Coreia do Sul e Ucrânia.
A tendência das mortes será "relativamente alta" (entre 100 e 1.000 óbitos) em outros 14 países (Finlândia, Índia, Indonésia, Irã, Japão, Holanda, Paquistão, Peru, Polônia, Portugal, Romênia, Rússia, Suíça e Turquia). O número deverá ser alto (entre mil e 5 mil mortes) em dez países: Bélgica, Canadá, França, Alemanha, Irlanda, Itália, México, Espanha, Suécia e Reino Unido. Finalmente, o número de óbitos devera ser "muito alto" (acima de 5 mil) em apenas dois países, Brasil e EUA.
Para o infectologista Roberto Medronho, coordenador da força-tarefa contra a covid-19 da UFRJ, as mortes estão crescendo no País porque a velocidade na oferta de leitos hospitalares para o novo coronavírus não está acompanhando o crescimento da epidemia como deveria.
"O Brasil adotou as medidas de distanciamento social precocemente, diferentemente dos EUA, e, com isso, conseguimos achatar a curva (de crescimento da epidemia), diminuir a velocidade de crescimento, adiar o pico, mas isso tem de ser acompanhado pela oferta de leitos", explicou. "Os leitos extras e os hospitais de campanha já deveriam estar preparados para fazer frente a essa situação. Meu medo é que essa lentidão faça disparar os óbitos dentro das residências e nas portas das emergências."