Um professor do ensino fundamental não vacinado e infectado com a variante Delta, altamente contagiosa, propagou o vírus para a metade dos alunos na sala de aula, desencadeando um surto que acabou infectando 26 pessoas, segundo novo levantamento do CDC - Centros de Prevenção e Controle de Doenças.
O estudo bastante detalhado, divulgado num momento em que as instituições de ensino em todo o país foram reabertas, deve intensificar o debate sobre a vacinação nas escolas. Uma série de distritos escolares, incluindo a cidade de Nova York, já anunciou a obrigatoriedade de professores e funcionários das escolas se vacinarem.
Outras cidades devem seguir o exemplo agora que a Food and Drug Administration - FDA concedeu aprovação total à vacina Pfizer.
"A coisa mais importante a fazer para proteger os alunos, particularmente aqueles ainda muito jovens para receberem a vacina e garantir que os adultos, incluindo professores e funcionários das escolas sejam vacinados", disse Jennifer Nuzzo, epidemiologista da Johns Hopkins University, que não estava envolvida no relatório.
O relatório foi um dos três elaborados pelo CDC focado nas escolas e nas crianças. Num outro estudo, pesquisadores encontraram mais evidências de que as escolas podem ser ambientes com risco baixo se combinadas várias medidas de precaução. Mas essa pesquisa foi feita antes de a variante Delta começar a se propagar.
Um terceiro estudo focado nos índices de vacinação de adolescentes. Metade das crianças entre 12 e 17 anos receberam pelo menos uma dose de uma vacina contra o coronavírus, segundo anúncio da Casa Branca. Mas esse novo estudo revelou que a vacinação desse grupo de idade continua bastante irregular no país.
Juntos, esses estudos realçam o quanto os cientistas aprenderam sobre como proteger as crianças nas escolas e quanta coisa permanece incerta com a nova variante.
Um surto ocorreu numa escola em Marin County, Califórnia, em maio. Nem a escola, ou funcionários e alunos envolvidos foram identificados.
Um professor primeiro apresentou sintomas em 19 de maio, mas trabalhou dois dias antes de ser testado. Durante este tempo ele deu aula, sem máscara, para uma classe de 24 alunos, apesar das regras que exigem que professores e alunos usem máscara em sala de aula.
Todos os alunos eram muito jovens para serem vacinados, já que a permissão de vacina foi autorizada somente para crianças com mais de 12 anos de idade.
Em 23 de maio o professor testou positivo para infecção por coronavírus. Nos dias seguintes, 12 alunos também testaram positivo.
"Pensei ter respeitado sua transmissibilidade", disse a Dra. Lisa Santora, vice-secretária de saúde da Marin Health and Human Services e autora do relatório, sobre a variante Delta. Mas sua eficiência em ultrapassar a sala de aula "surpreendeu e humilhou".
Na sala de aula, o número de infectados correspondeu ao mapa de cadeiras da classe. Todos que estavam na primeira fileira testaram positivo, chegando a 80% nas duas primeiras filas.
Nas três fileiras no fundo da sala, somente 28% dos alunos testaram positivo. "Se o professor não tem máscara, vá para o fundo da sala", disse Edward Traver, um colega do Centro Médico da Universidade de Maryland, em uma mensagem do Twitter.
Seis alunos de uma outra série na escola também testaram positivo. Os casos se propagaram para a comunidade: pelo menos oito pais e irmãos dos alunos infectados, três deles plenamente vacinados, também contraíram o vírus.
Em um novo estudo os pesquisadores se concentraram no número de casos em Los Angeles, onde alguns alunos e professores tiveram aulas presenciais no ano passado, ao passo que outros estudaram remotamente.
Escolas que abriram para aulas presenciais necessitam adotar uma série de precauções, incluindo exames de sintomas, uso de máscaras, distanciamento físico e monitoramento de contatos. Durante a maior parte do período entre setembro e março - especialmente durante o aumento de casos no inverno - o número de infectados foi menor nas escolas, tanto no caso de professores como de alunos, do que no condado em geral.
As conclusões estão de acordo com estudos realizados anteriormente que concluíram que, quando as escolas reúnem várias medidas de proteção, os números de infectados com frequência são menores comparados com escolas na comunidade em torno.
"A escola é um local mais seguro sob muitos aspectos para as crianças porque é estruturada e supervisionada", afirmou Santora, mãe de duas crianças de nove e onze anos de idade que voltaram a ter aulas presenciais neste outono.
Mas os estudos envolvendo as medidas de precaução adotadas pelas escolas, incluindo o realizado em Los Angeles, foram concluídos antes de a variante Delta começar a se espalhar. Essa variante é duas vezes mais transmissível do que o vírus original e é responsável hoje por quase todas as infecções registradas nos Estados Unidos.
Se as mesmas precauções adotadas anteriormente conseguirão frear essa variante nas escolas é algo incerto e muitas instituições de ensino abriram sem implementar as medidas de segurança recomendadas pelos especialistas de saúde pública.
O número de vacinados aumentou nas últimas semanas à medida que a Delta continua provocando novas infecções, um aumento de hospitalizações e mortes no país. Mas os pais estão ansiosos para enviar os filhos de volta para a escola quando ainda não podem ser vacinados.
A FDA autorizou vacinas para os jovens de 12 a 15 anos de idade em maio e em 31 de julho mais de um terço deles havia tomado pelo menos uma dose, segundo relatório do CDC. Mais da metade daqueles entre 16 e 17 anos, com permissão para serem vacinados meses antes, receberam pelo menos uma dose.
Mas as taxas de vacinação variam enormemente no país. No Mississipi somente 11% dos adolescentes receberam as duas doses da vacina, em comparação com 60% em Vermont, segundo pesquisadores.
O Dr. Westyn Branch-Elliman, pesquisador de doenças infecciosas da Harvard Medical School, disse em um e-mail que esperava ver as escolas "mais envolvidas na promoção da vacina para todos que são elegíveis na comunidade escolar, adotando uma estrutura dentro da escola especialmente para a vacinação de modo a melhorar o acesso e aliviar as dificuldades".
Testes clínicos das vacinas em crianças já estão em curso. A Pfizer indicou que os resultados estarão disponíveis em setembro.
Tradução de Terezinha Martino