Como curva de mortes por covid-19 do Brasil se compara às de outros países

Diversos países discutem os temores de uma segunda onda de covid-19 mas há casos - como o do Brasil - em que a 1ª onda ainda não acabou.

4 ago 2020 - 15h28
(atualizado às 15h36)

No dia 19 de maio, há quase dois meses e meio, o Brasil registrou pela primeira vez mais de mil mortes em um só dia devido ao coronavírus.

E desde então o País não baixou mais a sua média diária de mortes — sempre oscilando próximo dessa marca de mil vítimas por dia.

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A curva brasileira de mortes por covid-19 atingiu um platô alto, e é hoje muito diferente das de outros países que enfrentam a pandemia.

Alguns países do mundo que conseguiram baixar o número de mortes por covid-19 discutem hoje o temor de que haja uma segunda onda da doença nos próximos meses - resultado da reabertura das economias, fim das quarentenas e, em alguns casos, chegada do outono a partir de setembro.

Mas em lugares como o Brasil a "primeira onda" sequer parece ter acabado ainda, dado que a curva segue estacionada em um alto patamar.

O Brasil começou a pandemia com uma explosão de casos em alguns Estados como São Paulo, Amazonas e Ceará. Também houve uma intensa disputa entre governadores e o presidente Jair Bolsonaro sobre quem teria o direito de declarar quarentenas e fechamento de comércio.

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A Justiça deu aos governadores e prefeitos esse poder e muitos lugares decretaram fechamentos e quarentenas.

Ao longo dos meses, o número de casos e mortes sempre se manteve alto no Brasil, mas o foco da doença foi mudando: inicialmente forte nas capitais, os casos passaram a crescer no interior.

Agora, autoridades enfrentam o coronavírus também em meio ao inverno brasileiro, quando crescem os casos de gripe e outras doenças respiratórias. E muitas cidades e Estados estão reabrindo suas economias, mesmo sem diminuição nos números de mortes e casos.

O Brasil é o segundo país com o maior número de casos (2,75 milhões) e mortes (94 mil) no mundo, atrás dos Estados Unidos em ambos os quesitos.

Confira abaixo as curvas de mortes por covid-19 em países que adotaram estratégias distintas e veja como elas se comparam com a experiência brasileira.

1. Estados Unidos - a maior curva

Os Estados Unidos apresentam potencialmente a curva mais dramática entre todos os países afetados pelo coronavírus, quando se analisa o número de mortes diárias.

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Já no final de abril, apenas dois meses após a chegada do vírus nos Estados Unidos, o país já registrava mais de 2,6 mil mortes por dia - um patamar que não foi igualado por nenhuma outra nação nesta pandemia em números oficiais absolutos.

De abril a junho, período de quarentenas em diversas cidades e Estados americanos, a curva caiu bastante, para menos de 700 mortes por dia, mas vem se acelerando novamente desde então.

Americanos e brasileiros estão hoje no mesmo patamar - próximo a mil mortes diárias por covid-19 - mas não está claro qual será a tendência dessas curvas nos próximos dias.

Os americanos lideram o ranking mundial de número de casos (4,7 milhões) e mortes (156 mil) por coronavírus.

A disseminação da doença nos Estados Unidos segue a mesma dinâmica observada em diversos outros países: surtos iniciais são registrados em alguns lugares, que reagem com fortes medidas de quarentena e distanciamento social.

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Assim que os números de casos e mortes caem, as medidas são relaxadas. Mas logo o surto reaparece em outras regiões que não eram consideradas focos de preocupação.

Donald Trump enfrenta a covid-19 em ano eleitoral nos EUA
Donald Trump enfrenta a covid-19 em ano eleitoral nos EUA
Foto: Reuters / BBC News Brasil

No começo da pandemia, os Estados do Nordeste (como Nova York e Nova Jersey) respondiam pela maior parte de mortes. Já em junho, quando muitos Estados estavam em processo de reabertura das suas economias, os focos mais graves aconteceram no Sul (Texas e Flórida).

O governo do presidente Donald Trump passou por diversas crises em relação à pandemia: briga entre Estados e governo central sobre medidas de quarentena, protestos contra os danos à economia, críticas do governo à Organização Mundial da Saúde e ataques de críticos do governo pela lenta reação da Casa Branca e falta de testes no início da crise.

Agora as atenções começam a se voltar para eleição presidencial de novembro - Trump aparece atrás do democrata Joe Biden nas principais pesquisas.

2. Reino Unido - curva em queda

O Reino Unido já foi considerado um dos piores focos mundiais da doença no começo de abril, quando a média diária de mortes estava pouco abaixo de mil.

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No entanto, a curva diária só caiu de abril para cá, atingindo um patamar médio de 60 mortes.

Como resultado, o Reino Unido flexibilizou as quarentenas pelo país. Em julho foram reabertos vários setores que estavam fechados, como comércio, bares, restaurantes e escritórios.

A exceção foi a cidade de Leicester, onde o número de casos e mortes ainda crescia. Ela foi mantida sob quarentena rígida quando o resto do Reino Unido reabria.

Cidade de Leicester seguiu em quarentena mesmo quando Reino Unido reabriu a economia
Foto: PA Media / BBC News Brasil

O processo de reabertura vai continuar em agosto, com a volta de teatros e cinemas, e setembro, com a volta total às aulas.

Mas, nos últimos dias, o governo britânico tem dado indícios de que pode frear algumas etapas de reabertura.

Nesta semana, surpreendendo muitos turistas, o governo voltou a exigir que pessoas vindas da Espanha entrem em quarentena de 14 dias.

A Espanha é um dos maiores destinos turísticos dos britânicos, que estão nas suas férias de verão, e recentemente registrou um repique no número de casos de covid-19.

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Reino Unido voltou a impor quarentena para pessoas que chegam da Espanha
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Britânicos estão tendo que voltar imediatamente de férias e alguns podem ficar impedidos de trabalhar em seus escritórios na volta devido a essa quarentena. Além disso, algumas nações como a Inglaterra voltaram a obrigar o uso de máscaras dentro de supermercados e lojas.

O premiê Boris Johnson alertou que se a Europa e o Reino Unido não prestarem atenção em alguns indícios, serão atingidos por uma segunda onda da doença.

3. Índia - curva em ascensão

A Índia é um dos casos em que a curva diária de mortes por covid-19 praticamente não parou de crescer desde o começo da pandemia.

Autoridades da Índia sequer reconhecem transmissão comunitária do coronavírus
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Inicialmente o país registrou poucas mortes, quando a Europa e os Estados Unidos enfrentavam o pior momento da doença.

Nos primeiros meses, críticos disseram que a quarentena imposta pelo governo do premiê Narendra Modi matou mais pessoas do que o coronavírus em si.

Modi decretou o fechamento de diversos setores da economia, provocando um êxodo de trabalhadores pobres para o interior. Muitos não teriam condições econômicas de seguir nas grandes cidades sem emprego e optaram por voltar às suas cidades de origem, onde poderiam ficar perto de seus familiares.

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Mas os sistemas de transporte e estradas não deram conta do fluxo de pessoas, e muitos morreram atropelados quando enfrentavam jornadas de centenas de quilômetros a pé. Modi pediu desculpas pelos problemas ocasionados pela quarentena.

Agora a Índia vive um momento distinto, com temores de que a doença possa matar uma quantidade enorme da sua população, que é a segunda maior do mundo.

O país já é o terceiro com o maior número de casos no mundo (1,8 milhão, atrás dos Estados Unidos e Brasil) e sexto em mortes (quase 39 mil). A média diária de mortes ainda é inferior à do Brasil, ficando perto de 700.

O governo da Índia vem sendo acusado por críticos de ignorar a pandemia. Autoridades sequer reconhecem que existe transmissão comunitária do vírus.

Um dos pilares do combate à doença — o rastreamento de pessoas que tiveram contato com infectados — é considerado praticamente impossível em um país pobre e populoso como a Índia.

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4. Suécia e Alemanha - curvas em queda

Um dos países que causaram maior controvérsia na pandemia foi a Suécia, que desde cedo adotou medidas bem menos drásticas que os demais contra o coronavírus.

As autoridades suecas evitaram quarentenas e se apoiaram na boa vontade de seus cidadãos de manterem distanciamento social voluntário.

A Suécia registrou mais de 5,5 mil mortes por covid-19 nesta pandemia, em uma população de 10 milhões. É um dos maiores índices de mortalidade na Europa e o pior disparado entre os países escandinavos, que optaram por quarentenas mais rígidas.

Mesmo assim, a curva diária de mortes por covid-19 caiu de um patamar de 100 mortes diárias em abril para menos de dez agora.

Tática da Suécia de não impor medidas severas contra a covid-19 provocou polêmica
Foto: BBC News Brasil

A Suécia debate se sua estratégia foi um sucesso ou um fracasso. Alguns dizem que o governo poderia ter evitado mais mortes no começo da pandemia, mas não parece haver um consenso sobre o assunto.

Outro país que seguiu uma curva parecida foi a Alemanha: o número de casos só caiu de abril até hoje. A média diária de mortes passou de mais de 200 para abaixo de 5.

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O país começou a pandemia com medidas duras de quarentena e foi um dos primeiros na Europa a promover a reabertura gradual da sua economia.

Mas nesta semana o diretor da agência de saúde pública da Alemanha, a RKI, disse que está muito preocupado com o aumento recente no número de casos.

Ele disse que os alemães estão se tornando "negligentes" diante da pandemia e pediu que eles usem máscaras e respeitem regras de distanciamento social e higiene.

A Alemanha também alertou para os perigos de se viajar a três regiões da Espanha — Aragão, Catalunha e Navarra — onde há aumento no número de casos.

Visitantes de países com alto número de infecções — entre eles o Brasil — que chegam à Alemanha são obrigados a se submeter a um teste gratuito de covid-19.

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