Condução da covid-19 deve afetar recuperação econômica

Para economistas, governo falha ao dar sinais trocados no enfrentamento à pandemia, o que torna muitas das medidas anunciadas ineficazes

16 jun 2020 - 05h09
(atualizado às 07h24)

Na avaliação de economistas ouvidos pelo Estadão, a forma descoordenada como o Brasil vem lidando com a pandemia faz com que as medidas de distanciamento durem mais e sejam menos efetivas do que as soluções encontradas por outros países, o que vai prejudicar a recuperação da economia brasileira.

Ministro da Economia, Paulo Guedes, fala próximo a Bolsonaro e ao presidente do BC, Roberto Campos Neto
27/04/2020
REUTERS/Ueslei Marcelino
Ministro da Economia, Paulo Guedes, fala próximo a Bolsonaro e ao presidente do BC, Roberto Campos Neto 27/04/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

Eles ressaltam que, embora políticas importantes como a implementação do auxílio emergencial de até R$ 1.200 para desempregados e informais tenham sido acertadas, a falta de organização levou uma multidão de brasileiros de baixa renda a se aglomerar nas agências da Caixa Econômica Federal, prejudicando o isolamento.

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Outras medidas, como as linhas de crédito, sobretudo para as empresas médias e menores, não chegaram na ponta. Uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) apontava que até o mês passado, 38% dos empresários solicitaram crédito. Desses, só 14% receberam e 86% aguardavam ou tiveram o pedido negado.

O balanço é que, na contramão de outros países, o governo federal coleciona uma série de erros. Nos últimos meses, o presidente Jair Bolsonaro chegou a subestimar a gravidade da covid-19 e insistiu no isolamento vertical. O governo alterou o protocolo para a hidroxicloroquina e tentou mexer na divulgação do número de mortes.

O ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Luiz Carlos Mendonça de Barros lembra que o mundo inteiro terá o grande desafio de se recuperar após o baque de 2020. "A Alemanha, pela primeira vez na história recente, vai reduzir o imposto sobre o consumo, dar um bônus de US$ 300 para as famílias de baixa renda, socorrer empresas. É o caminho."

Ele avalia que o governo brasileiro precisa fazer um novo pacote fiscal para acelerar a recuperação a partir do ano que vem. "O problema aqui é que o governo é uma bagunça. Mas é preciso acenar com um projeto de reconstrução para depois da quarentena, dar esperança, mostrar à sociedade que algo está sendo planejado."

"Estamos há mais de 90 dias sem sair de casa e a curva está subindo. Na Espanha, foram 45 dias de lockdown total e eles começaram a reabrir em maio. Outros países que reabriram, como Portugal, chegaram a trancar fronteiras", compara José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB).

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Ele concorda que os sinais trocados do governo vão atrapalhar a recuperação, mas diz que o País poderá se reerguer, desde que a política econômica não crie obstáculos para a volta da demanda. "Se voltarmos a discutir austeridade fiscal, será outra década perdida. É preciso uma política contracíclica."

Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, defende que o País volte a fazer reformas, para crescer e gerar empregos sem descuidar das contas públicas. "Agora não há o que fazer, a dívida vai subir. Mas depois, as reformas devem voltar à mesa."

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