Na avaliação de economistas ouvidos pelo Estadão, a forma descoordenada como o Brasil vem lidando com a pandemia faz com que as medidas de distanciamento durem mais e sejam menos efetivas do que as soluções encontradas por outros países, o que vai prejudicar a recuperação da economia brasileira.
Eles ressaltam que, embora políticas importantes como a implementação do auxílio emergencial de até R$ 1.200 para desempregados e informais tenham sido acertadas, a falta de organização levou uma multidão de brasileiros de baixa renda a se aglomerar nas agências da Caixa Econômica Federal, prejudicando o isolamento.
Outras medidas, como as linhas de crédito, sobretudo para as empresas médias e menores, não chegaram na ponta. Uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) apontava que até o mês passado, 38% dos empresários solicitaram crédito. Desses, só 14% receberam e 86% aguardavam ou tiveram o pedido negado.
O balanço é que, na contramão de outros países, o governo federal coleciona uma série de erros. Nos últimos meses, o presidente Jair Bolsonaro chegou a subestimar a gravidade da covid-19 e insistiu no isolamento vertical. O governo alterou o protocolo para a hidroxicloroquina e tentou mexer na divulgação do número de mortes.
O ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Luiz Carlos Mendonça de Barros lembra que o mundo inteiro terá o grande desafio de se recuperar após o baque de 2020. "A Alemanha, pela primeira vez na história recente, vai reduzir o imposto sobre o consumo, dar um bônus de US$ 300 para as famílias de baixa renda, socorrer empresas. É o caminho."
"Estamos há mais de 90 dias sem sair de casa e a curva está subindo. Na Espanha, foram 45 dias de lockdown total e eles começaram a reabrir em maio. Outros países que reabriram, como Portugal, chegaram a trancar fronteiras", compara José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB).
Ele concorda que os sinais trocados do governo vão atrapalhar a recuperação, mas diz que o País poderá se reerguer, desde que a política econômica não crie obstáculos para a volta da demanda. "Se voltarmos a discutir austeridade fiscal, será outra década perdida. É preciso uma política contracíclica."
Já Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, defende que o País volte a fazer reformas, para crescer e gerar empregos sem descuidar das contas públicas. "Agora não há o que fazer, a dívida vai subir. Mas depois, as reformas devem voltar à mesa."