Coronavírus: afinal, dá para pegar covid-19 mais de uma vez? Entenda o que a ciência sabe até agora

Cinco casos de reinfecção foram confirmados em uma semana; cientistas já desconfiavam que isso era possível, mas ainda não se sabe como isso afeta chances de vencer a pandemia.

1 set 2020 - 08h52
(atualizado às 09h18)
O primeiro caso de reinfeção foi confirmado em Hong Kong há uma semana
O primeiro caso de reinfeção foi confirmado em Hong Kong há uma semana
Foto: EPA / BBC News Brasil

Cientistas confirmaram na última semana uma suspeita sobre a covid-19: nós podemos pegar essa doença mais de uma vez.

Todo mundo se perguntava isso desde que novo coronavírus começou a se espalhar na China há nove meses. Agora, os cientistas dizem não ter dúvidas.

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A primeira prova veio, há uma semana, de Hong Kong, onde um caso foi confirmado. Outros quatro foram anunciados desde então em quatro países diferentes — Bélgica, Estados Unidos, Equador e Holanda.

Não é exatamente uma surpresa que o Sars-Cov-2 infecte uma pessoa de novo. Definitivamente, não é uma boa notícia no âmbito do combate à pandemia (ou para quem acha que está seguro porque já pegou covid-19).

Mas também não é motivo para pânico. Entenda a seguir por quê.

O que se sabe sobre o paciente de Hong Kong?

Em 24 de agosto, pesquisadores da faculdade de Medicina da Universidade de Hong Kong anunciaram um caso de reinfecção. Foram as primeiras evidências científicas de que isso é possível.

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O paciente, que está na casa dos 30 anos, teve covid-19 quase cinco meses depois da primeira vez, quando ficou duas semanas internado. Agora, ele nem teve sintomas: testou positivo ao fazer um exame em uma triagem de aeroporto.

A análise genética do vírus envolvidos nos dois episódios mostram que eles são de linhagens diferentes, disseram os cientistas em um artigo publicado no periódico Clinical Infectious Diseases.

"As análises epidemiológicas, clínicas, sorológicas e genômicas confirmaram que o paciente teve reinfecção em vez de disseminação viral persistente desde a primeira infecção", afirmaram os autores.

Quais foram os outros casos de reinfecção?

O paciente de Hong Kong não foi o único caso. No dia seguinte, a imprensa holandesa informou que outros dois casos, um na Bélgica e outro na Holanda, haviam sido confirmados.

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O paciente holandês é idoso e tem um sistema imunológico enfraquecido, noticiou a emissora NOS. Não há relatos de que o caso tenha sido grave.

O paciente belga também teve sintomas leves na segunda vez em que ficou doente, em junho — a primeira havia sido em março.

Um caso de reinfecção foi anunciado em Nevada, nos Estados Unidos
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O quarto caso foi confirmado em 29 de agosto no Equador. Um homem de 46 anos teve covid-19 em maio e voltou a ser infectado em agosto. Os sintomas foram mais intensos desta vez, mas o paciente não chegou a ficar em estado grave.

Um teste genético mostrou que os vírus que o deixaram doente são de variedades diferentes do Sars-Cov-2, disse o Instituto de Microbiologia da Universidade San Francisco de Quito, que identificou o caso.

Também no dia 29, foi anunciada uma possível reinfecção nos Estados Unidos. Um homem de 25 anos do Estado de Nevada adoeceu de novo um mês depois de se curar da covid-19.

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Na segunda vez, ele teve de hospitalizado e precisou de ajuda para respirar.

O caso foi descrito em um artigo publicado no Social Science Research Network, que ainda não foi revisado por pares, o que significa que seu resultados não foram verificados por outros cientistas.

De acordo com seus autores, testes genéticos confirmam que os episódios foram causados por duas variedades diferentes do novo coronavírus.

"Concluímos que é possível que humanos se infectem múltiplas vezes pelo Sars-Cov-2."

O que significam esses casos de reinfecção?

Já era esperado que uma pessoa pudesse ser infectada pelo coronavírus mais de uma vez.

"Isso é comum com vírus, ainda mais aqueles que causam uma doença aguda (como a covid-19)", diz Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.

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É algo que vale especialmente para os vírus respiratórios, como o Sars-Cov-2. "São uma característica desses vírus, que têm uma capacidade maior de sofrer mutações", diz a infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O novo coronavírus pode sofrer mutações facilmente. Até agora, há cerca de 500 cepas diferentes, afirma Stucchi. A dúvida é como nosso corpo reage a cada uma delas.

"O que parece é que, se uma pessoa desenvolve imunidade, isso acontece contra uma variedade específica do coronavírus e não contra outras", diz a infectologista.

Por enquanto, apenas cinco casos foram confirmados entre mais de 25 milhões de infecções
Foto: EPA / BBC News Brasil

Isso é um alerta para quem achava que estava a salvo por já ter contraído covid-19 e que poderia relaxar medidas como uso de máscaras e distanciamento social.

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Também vai contra algo que muita gente já ouviu (ou falou) por aí. "Há quem ache melhor se infectar logo para ficar livre do vírus. Infelizmente, essas pessoas podem se reinfectar", diz Spilki.

O que ainda precisamos descobrir?

Os cientistas confirmaram que é possível ter covid-19 mais de uma vez, mas ainda não sabemos muito além disso.

Não podemos dizer, por exemplo, se a reinfecção é comum ou frequente. Há só cinco episódios confirmados no mundo entre mais de 25 milhões de casos de covid-19 até agora.

São necessários mais estudos para entender também qual costuma ser a carga viral do paciente na segunda infecção.

Só assim será possível saber como isso afeta nossas chances de vencer a pandemia com uma vacina ou a imunidade de rebanho.

A quantidade de vírus que temos no corpo influencia na facilidade com que transmitimos a doença. "Se a carga viral for mais alta, é motivo de preocupação", diz Spilki.

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Também ainda não sabemos qual será a proporção de casos graves entre quem pegar covid-19 de novo.

"Por enquanto, não há motivo para alarde. Tivemos só um paciente grave", diz Stucchi.

"O placar está quatro a um a favor dos quadros leves. Mas ainda temos que descobrir o que é mais comum na segunda vez em que uma pessoa é infectada pelo coronavírus."

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