Coronavírus: corpos dos mortos por covid-19 podem transmitir a doença?

As vítimas da covid-19 podem abrigar o vírus em seu interior mesmo após a morte, o que levou as autoridades e a população a questionar como devem lidar com os cadáveres. A OMS oferece várias respostas.

23 abr 2020 - 12h58
(atualizado às 13h01)
A OMS responde sobre como lidar com um cadáver de quem morreu devido à covid-19.
A OMS responde sobre como lidar com um cadáver de quem morreu devido à covid-19.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A cidade equatoriana de Guayaquil passou por alguns de seus piores dias durante a crise fúnebre que eclodiu desde meados de março.

Imagens de dezenas de caixões e corpos expostos nas ruas, na falta de opções para enterrá-los, mostraram uma das piores faces da pandemia de covid-19 no mundo.

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Além do colapso do sistema de saúde na província de Guayas, a mais afetada pela doença no Equador, outra parte do problema foi o medo gerado pelo manejo de cadáveres.

"Havia uma completa falta de controle. O medo fez com que muitas casas funerárias fechassem as portas. Muitos se esconderam e restaram poucas funerárias (em funcionamento)", disse à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Merwin Terán, presidente da Federação Equatoriana de Diretores Funerários.

"De fato, no Equador, estamos muito atrasados no sistema funerário e não temos orientações (do governo) para fazer nosso trabalho", diz o líder do grupo que representa 700 funerárias do país.

Dúvidas sobre o que fazer e como lidar com os corpos dos mortos devido à covid-19 ou relacionados a casos suspeitos não existem apenas no Equador.

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Na Cidade do México, as autoridades emitiram suas próprias recomendações: não realizar funerais nem fazer autópsia, além de transferências para fora da cidade.

E em Honduras, no Departamento (Estado) de Cortés, que concentra 70% das mortes por covid-19, alguns moradores até usaram facões e paus para impedir o enterro das vítimas da doença, informou a agência Reuters.

Com sistema funerário em colapso, muitos cadáveres acabaram ficando nas ruas de Guayaquil
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Mas os corpos transmitem a doença? Um funeral pode ser realizado? Eles devem ser cremados ou enterrados?

O contágio pode ser evitado

Quando os cuidados necessários são tomados e o manuseio correto é praticado, não há razão para temer a disseminação da covid-19 por cadáveres, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) em um guia solicitado pela BBC News Mundo.

"Exceto nos casos de febre hemorrágica (como Ebola ou febre hemorrágica de Marburg) e cólera, os cadáveres geralmente não são infecciosos", diz a OMS.

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"Só podem ser (infecciosos) os pulmões dos pacientes com gripe pandêmica se forem manipulados de forma incorreta durante uma autópsia. Caso contrário, os cadáveres não transmitem doenças", acrescenta a entidade.

Somente funcionários de funerárias e de serviço forense precisam de equipamento de proteção especial.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Isso não significa que o vírus morre com a pessoa, porque no caso de doenças respiratórias agudas, os pulmões e outros órgãos "podem continuar a abrigar vírus vivos".

Mas eles só são liberados, em geral, nos procedimentos de autópsia (como o uso de serras elétricas ou lavagem interna) por funcionários de funerárias e de serviços forenses.

Familiares e amigos de uma pessoa que morreu devido à covid-19 devem esperar por pessoal treinado e adequadamente protegido para preparar o corpo para o enterro ou a cremação.

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Pode haver um funeral?

A OMS não proíbe que os funerais aconteçam, mas exige que isso seja feito com algum cuidado.

"Se a família só quer ver o corpo, sem tocá-lo, pode fazer isso desde que tome as precauções padrão o tempo todo, principalmente a higiene das mãos. A família deve receber instruções claras para não tocar ou beijar o corpo", indica a OMS.

Deve-se continuar praticando a distância física entre as pessoas, lavando as mãos constantemente quando estiverem em um funeral. Não é recomendado que pessoas com mais de 60 anos ou pessoas imunodeprimidas interajam diretamente com o cadáver.

Os necrotérios não tinham capacidade para lidar com o alto número de mortes em Guayaquil
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Merwin Terán lembra as difíceis condições enfrentadas no Equador pelos serviços funerários e pelas famílias das vítimas.

"Para nós, acostumados a ver a realidade da morte, era muito difícil entrar para reconhecer um corpo. Os trabalhadores não queriam mais entrar, começaram a abandonar o trabalho", diz ele.

Dado o grande número de mortes em Guayaquil, os hospitais fizeram uso de armazéns sem equipamento de refrigeração ou procedimentos de preservação de cadáveres. As famílias entram nesses locais, segundo ele, para encontrar os falecidos.

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Isso contraria as recomendações da OMS, que enfatizam que os corpos devem ser manuseados e preparados por profissionais desde o local em que morrem até a funerária, o crematório ou local do enterro.

Mas "não há necessidade de usar bolsas especiais" (a menos que haja vazamento excessivo de fluidos corporais), e também não precisam ser transportados por veículos especiais.

Enterrar ou cremar?

A escolha entre enterro e cremação de um cadáver dependerá da família.

"Existe uma crença generalizada de que as pessoas que morreram de uma doença transmissível devem ser cremadas, mas isso não é verdade", diz a OMS. "A incineração é uma questão de escolha cultural e disponibilidade de recursos."

As maiores precauções devem ser tomadas pelos responsáveis ​​pelo transporte do caixão
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Quem precisa de proteção especial em um enterro, como luvas, são as pessoas que colocam o corpo no túmulo ou nicho.

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Em locais onde não há serviços funerários ou é tradição preparar um corpo para o enterro, a pessoa encarregada disso deve ter todas as proteções.

Deve-se usar luvas, proteção para os olhos, máscara, avental impermeável, lavar as mãos e as roupas após o término, diz a OMS.

Não é necessário incinerar ou descartar os pertences do falecido, mas devem ser tomadas precauções como manuseio com luvas e lavagem com detergente, além de desinfetar objetos com álcool ou alvejante.

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