Um aumento súbito no tráfego de veículos do lado de fora dos hospitais de Wuhan em agosto de 2019 pode indicar que o coronavírus surgiu antes do que foi notificado pelas autoridades, de acordo com uma nova pesquisa.
Pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, dizem que imagens de satélite mostram um aumento de tráfego nos cinco hospitais da cidade chinesa entre fins de agosto e dezembro.
Esse aumento coincide também com mais procuras na internet chinesa por informações sobre sintomas como tosse e diarreia.
A China classificou o estudo como "ridículo" e baseado apenas em informações "superficiais".
Acredita-se que o vírus tenha surgido pela primeira vez na China por volta de novembro passado. A primeira vez que autoridades chinesas reportaram à Organização Mundial da Saúde (OMS) o aparecimento de casos de pneumonia de causa desconhecida foi em 31 de dezembro de 2019.
"Claramente houve algum nível de distúrbio social bem antes do que foi identificado como começo da nova pandemia de coronavírus", disse o John Brownstein, responsável pela pesquisa, à rede ABC News.
O estudo ainda não foi analisado por pares, como é de costume na comunidade científica.
O que o estudo mostra?
Pesquisadores analisaram dados de satélites comerciais ao redor de cinco hospitais de Wuhan, comparando dados do final de verão e início de outono de 2018 com o mesmo período de 2019.
Em outubro de 2018, eles registraram 171 carros estacionados do lado de fora do hospital Tianyou. Em 2019, os satélites revelaram a presença de 285 veículos, um aumento de 67%.
No mesmo período, houve um aumento no número de buscas no site chinês Baidu por palavras associadas aos sintomas do coronavírus.
"O que temos é um conjunto de informações que apontam para algo acontecendo em Wuhan naquela época", diz Brownstein.
"Muitos estudos ainda são necessários para que se possa descobrir totalmente o que aconteceu e para as pessoas realmente entenderem como foi que essa doença se desenvolveu e surgiu nas populações. Este é apenas um ponto de evidência."
A porta-voz do ministério chinês de Relações Exteriores, Hua Chunying, refutou o estudo em entrevista coletiva na terça-feira (09/6).
"Eu acho que é ridículo, incrivelmente ridículo, chegar a conclusões baseado somente em observações superficiais como volume de tráfego", disse ela.
Quais são as implicações deste estudo
O correspondente da BBC na China, John Sudworth, disse que o estudo tem algumas limitações. Nem sempre foi possível, por exemplo, comparar dias iguais de anos diferentes usando dados de satélite, já que, em alguns dias, o tempo estava encoberto.
Mas se a infecção de fato já existia naquela época, talvez ainda não detectada, e algumas pessoas tivessem viajado de Wuhan para o exterior, isso poderia explicar alguns casos de covid-19 que teriam surgido antes do começo da pandemia, afirma Sudworth.
Ele acredita que possa ser injusto, entretanto, usar este estudo para sugerir que autoridades chinesas tentaram esconder ou demoraram a reagir à doença, por ser possível que, quando surge uma nova infecção causada por um vírus desconhecido em uma comunidade, vários casos se espalhem antes de as autoridades entenderem o que está acontecendo.
Os primeiros casos, ainda de um tipo de pneumonia sem causa definida, foram reportados à OMS em 31 de dezembro de 2019. Nove dias depois foi identificado um novo vírus, o Sars-CoV-2.
A quarentena em Wuhan começou no dia 23 de janeiro. A OMS declarou que a covid-19 era uma emergência de saúde pública no dia 30 de janeiro de 2020, após 82 casos serem confirmados fora da China.