O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), autorizou nesta quinta-feira, 17, que faculdades e universidades voltem a dar aulas presenciais em 7 outubro, mas a maioria delas pretende continuar com atividades online até o fim do ano. "Não tem mais sentido, com os dados que nós temos, continuar a proibir o ensino superior na cidade", disse Covas, em coletiva de imprensa.
Ele justificou a abertura com o resultado do inquérito sorológico dos adultos, também divulgado nesta quinta-feira, que indicou que 13,9% dos entrevistados já tinham anticorpos para a covid na cidade, com prevalência maior entre os mais jovens. O mesmo material foi base para definir que o retorno do ensino básico será gradual, começando pelo reforço.
A Universidade de São Paulo (USP) declarou que vai continuar com atividades a distância até o fim do ano na Cidade Universitária, como anunciou há alguns meses. Só as atividades que envolvem laboratórios de pesquisa foram flexibilizadas para que os pesquisadores continuem seus estudos. Trabalhos sobre a covid-19 continuaram sendo feitos presencialmente durante todo o período de pandemia.
Assim como a USP, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) também têm autonomia para decidir como ficarão suas atividades independentemente da liberação do prefeito. Segundo a reitora Soraya Smaili, a instituição vai continuar com aulas online até o fim do ano. "Os dados da pandemia ainda não nos permitem realizar um retorno seguro. Para seguir as regras sanitárias seria necessário triplicar o número de salas de aula, adquirir equipamentos e mudar sistemas inteiros de ventilação" diz Soraya.
Ela explica que os últimos anos dos cursos de Medicina e outros da área de Saúde estão tendo atividades práticas e, para eles, foram providenciados equipamentos e treinamentos para dar segurança aos alunos. A Unifesp tem câmpus na Vila Mariana, a antiga Escola Paulista de Medicina, e outros mais na região metropolitana.
Nos Estados Unidos, a volta das aulas presenciais nas faculdades fez os câmpus e cidades universitárias se tornarem o grande foco de transmissão da doença agora no segundo semestre. Mesmo com testagem dos alunos e medidas sanitárias, os jovens voltaram também com as festas e outros eventos e acabaram se contaminando.
Segundo estimativa do Semesp, que representa as mantenedoras de ensino superior privado, mais de 90% das instituições só retomarão as aulas teóricas presenciais no ano que vem. "A maioria das instituições só deverá retomar as aulas práticas, sobretudo nas áreas de Saúde e nas Engenharias", afirma Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp. Essa possibilidade já havia sido aberta em julho pelo governo do Estado.
Para Capelato, os alunos aprovaram o atual sistema de aulas em casa e muitos estariam preocupados com o risco de contaminação principalmente porque usam transporte público. As instituições, segundo ele, teriam dificuldade em manter um modelo híbrido, que misturasse elementos presenciais e remotos. Isso seria necessário mesmo com a decisão de volta porque estudantes de grupos de risco e que moram com pessoas com comorbidades iriam preferir continuar online.
A inadimplência nessas instituições está em 11,5%, ante 9,5% em 2019. "A ideia de que as atividades serão remotas, e não presenciais, e não haverá aquele ambiente acadêmico, pode fazer muitos postergarem a entrada na faculdade", diz Capelato, sobre as dificuldades para 2021. "Quando isso ocorre, muitos nem voltam a tentar, pois encontram outras ocupações e trabalhos." Segundo ele, instituições já preparam alternativas, como abrir mais os câmpus e planejar melhor o uso de espaços, para ampliar a as atividades presenciais em 2021.
Instituições procuradas pelo Estadão disseram que ainda avaliam a possibilidade de voltar ou não presencialmente este ano. Entre elas, a Faculdade Armando Alvares Penteado (FAAP), cujo câmpus fica no Pacaembu, zona oeste, e a Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), com prédio em Perdizes, na mesma região da cidade. "Todas as aulas da universidade, de graduação, pós-graduação e educação continuada, estão sendo dadas remotamente desde o início da pandemia", declarou a PUC, em nota. As universidades Mackenzie e Anhembi Morumbi também informaram que ainda não decidiram sobre o retorno ou não. Procuradas, UniFMU, Metodista e Unip não se pronunciaram. / COLABORARAM PALOMA COTES, LARISSA GASPAR, JOÃO KER e JOÃO PRATA