O número de novos casos de covid-19 atingiu um pico de 77 mil notificações diárias em 27 de março, um recorde na pandemia, e depois passou a cair ao longo de abril. Mas as infecções voltaram a subir em maio, e em 10/05 atingiram o maior patamar em três semanas.
É importante deixar claro que há uma enorme subnotificação desses dados, mas ela tem se mantido mais ou menos constante. Ou seja, a realidade é pior do que os números oficiais apontam, porque muita gente infectada não fez teste de covid-19, mas, segundo estimativas, essa diferença entre dados e realidade foi praticamente a mesma em março, abril ou maio.
Para especialistas, os fatores ligados tanto à queda de casos quanto ao novo aumento são conhecidos desde o início da pandemia em quase todos os países do mundo.
Mais recentemente, houve um recuo na média semanal do número de mortes a cada dia, mas espera-se que esse número também volte a subir já que há um descompasso entre os dados de infecção, de internação e de óbitos, porque alguém que venha a morrer por covid-19 costuma perder a vida semanas depois do primeiro dia de sintomas.
Dessa forma, o aumento de contágio percebido hoje levará dias até se refletir no número de mortes.
O pico de óbitos, por exemplo, ocorreu em 12/04, duas semanas depois do auge das infecções, em 27/03. Na terça-feira, 11/05, o Brasil registrou uma média de 1.980 óbitos nos últimos sete dias. A primeira vez, em quase dois meses, que a média móvel de mortes por covid-19 fica abaixo de 2.000.
Recuo
Por um lado, distanciamento social mais rígido e vacinação ampla levam a um recuo de infecções, hospitalizações e mortes. De outro, a flexibilização de regras de distanciamento, a circulação maior das pessoas e variantes mais transmissíveis levam ao avanço da doença.
No caso do Brasil, cientistas apontam que restrições mais rígidas surtiram efeito em março, mas a suspensão delas antes que a transmissão do vírus estivesse de fato controlada levou a essa reversão de tendência em diversas partes do país. Ou seja, os casos podem parar de cair e voltar a subir rapidamente.
Segundo dados coletados pelo Google por meio da localização de telefones celulares, desde o fim de março há cada vez mais pessoas no Brasil indo ao comércio e estações de ônibus e metrô, por exemplo.
O número de novas infecções segue na mesma direção.
Os dados oficiais, divulgados pelas secretarias estaduais de Saúde, indicam aumento de casos em nove Estados: Alagoas, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.
Outros 13 se mantêm relativamente estáveis: Acre, Amapá, Bahia, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins.
Por fim, há queda no Distrito Federal e em quatro Estados: Amazonas, Espírito Santo, Goiás e Mato Grosso.
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o mapa de tendência de casos aponta hoje para a manutenção do patamar atual em todas as unidades da federação, exceto no Rio de Janeiro, onde há tendência de alta.
Em 07/05, a Fiocruz afirmou em boletim epidemiológico que a "ligeira redução em casos e óbitos por covid-19" nas últimas duas semanas de abril "não significa que tenhamos saído de uma situação crítica".
Para a instituição, "somente a redução sustentada por algumas semanas poderá permitir a melhoria dos vários indicadores de monitoramento da pandemia". Os indicadores a que a Fiocruz se refere incluem a taxa de ocupação dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) e o número de mortes por covid.
Atualmente, são registradas, em média, 1.980 mortes no país a cada 24 horas. O número vem em queda desde 12/04 e está no menor patamar desde meados de março. Mas, segundo especialistas, pode ser questão de tempo até voltar a subir mais uma vez.
O mesmo pode ocorrer com as internações, que voltaram a crescer no Paraná, por exemplo.
Segundo a Fiocruz, "as taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos mantiveram a tendência lenta de queda em quase todo o país entre 26 de abril e 3 de maio".
Mas há apenas sete Estados fora da chamada "zona crítica": Acre, Alagoas, Amazonas, Amapá, Maranhão, Pará, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Seria possível evitar novos avanços? Especialistas dizem que sim, por meio diversas medidas conhecidas.
"A aceleração da vacinação, a manutenção do distanciamento físico com pessoas fora da convivência domiciliar, o cuidado com a higiene frequente das mãos e o uso de máscaras adequadas de forma apropriada", resume a Fiocruz.