A adoção do autoteste da Covid-19 já devia ser uma realidade no Brasil desde a primeira semana de janeiro. Essa é a avaliação de Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor da Unesp, diante da explosão de casos que vivemos nesse início de 2022.
Dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) indicam que desde 3 de janeiro o número de novos casos diários está acima de 10 mil, depois de um mês de dezembro que chegou a registrar pouco mais de 1,4 mil casos novos em um dia. Em 2022, chama a atenção o volume de diagnósticos contabilizados nesta terça-feira: 137.103, o maior para o período compreendido entre 1º e 18 de janeiro.
Em entrevista ao Terra, o médico infectologista explica que os números, potencializados pela chegada da variante Ômicron, caracterizam o estado de excepcionalidade que requer iniciativas capazes de desafogar o sistema de saúde e diminuir o risco de profissionais de saúde serem contaminados.
“É um exame que não deve ser feito em situações normais de pressão e temperatura. Mas com a explosão de casos que a gente está vivendo, acaba sendo uma medida que pode ajudar”, argumenta.
O uso do autoteste da Covid-19 foi solicitado pelo Ministério da Saúde à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na última sexta-feira (14). Segundo o órgão, a Gerência-Geral de Tecnologia e Produtos para Saúde (GGTPS) está analisando a nota técnica enviada pelo governo federal, para então elaborar um relatório sobre o pedido e submetê-lo à votação da Diretoria Colegiada. Não há prazo definido para a decisão.
Como funciona o autoteste da Covid-19
O autoteste da Covid-19 é um teste antígeno que pode ser feito em casa, sem a necessidade de um profissional de saúde. A aplicação é simples: basta colocar o cotonete no nariz para coletar a secreção, colocar o material em um tubinho com o reagente líquido que acompanha o teste, e em seguida colocar o material em contato com a fita que fará a leitura da amostra.
Caso dê positivo, a linha marca o diagnóstico. A bula que acompanha os kits de autoteste orienta sobre sua aplicação e como identificar o resultado.
Eficácia do autoteste da Covid-19
Feito em casa sem a necessidade de um profissional de saúde, o autoteste já é utilizado nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, como a Inglaterra. O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alexandre Naime Barbosa, explica que essa modalidade de testagem tem sensibilidade considerada alta, acima de 80%, e em casos de resultado positivo, é 100% específico.
Isso ocorre porque, assim com o teste de antígeno feito em farmácias, é detectada a estrutura que fica na superfície do vírus. A diferença para o tipo PCR é a maior sensibilidade deste último, que procura o RNA do coronavírus.
O infectologista pondera que, apesar da sensibilidade, podem acontecer casos de falso negativo, ou seja, o exame apontar que a pessoa testada não está com Covid-19. Para tornar o diagnóstico mais preciso, o recomendado é repetir o teste dois ou três dias depois.
“O ideal é que esse teste seja dado somente para pacientes sintomáticos e que seja gratuito, para evitar a questão de elitizar o diagnóstico. Porque se for vendido, somente pessoas com poder aquisitivo vão poder ter acesso. Em se entendendo o caráter de excepcionalidade, o mais importante seria garantir o acesso universal”, destaca.