Covid-19: quais as chances de pegar coronavírus de embalagens de alimentos? 

Traços de coronavírus foram encontrados recentemente em embalagens de um lote de frango na China, exportado pelo Brasil.

21 ago 2020 - 07h54
(atualizado às 13h19)
Traços de coronavírus foram encontrados recentemente em embalagens de um lote de frango na China, exportado pelo Brasil
Traços de coronavírus foram encontrados recentemente em embalagens de um lote de frango na China, exportado pelo Brasil
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Traços de coronavírus foram encontrados recentemente em embalagens de um lote de frango na China, exportado pelo Brasil, o maior produtor mundial.

Segundo a prefeitura da cidade chinesa de Shenzhen, o vírus foi detectado em um controle de rotina e o lote pertencia ao frigorífico Aurora, de Santa Catarina.

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Em nota divulgada, o Ministério da Agricultura informou que pediu explicações à Administração Geral de Alfândega da China (GACC) e acrescentou que "segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há comprovação científica de transmissão do vírus da Covid-19 a partir de alimentos ou embalagens de alimentos congelados".

O episódio levantou novamente questões sobre se o coronavírus pode ser transmitido por meio de embalagens de alimentos.

Chances de contágio

Em teoria, pode ser possível ser infectado por covid-19 a partir de embalagens.

Estudos conduzidos a partir de experimentos em laboratório mostraram que o vírus pode sobreviver por horas, senão dias, em alguns materiais de embalagem — principalmente papelão e várias formas de plástico.

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Além disso, o vírus é mais estável em temperaturas mais baixas, que é a forma pela qual muitos alimentos são transportados.

No entanto, alguns cientistas questionaram se esses resultados poderiam ser replicados fora do laboratório.

Julian Tang, professor associado de Ciências Respiratórias da Universidade de Leicester, no Reino Unido, diz que, no mundo exterior, as condições ambientais mudam rapidamente, o que significa que o vírus não pode sobreviver por tanto tempo.

E Emanuel Goldman, professor de microbiologia da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, também apontou que os estudos de laboratório usaram amostras de até 10 milhões de partículas virais, enquanto o número de partículas virais em uma superfície atingida por um espirro é de menos de 100, por exemplo.

Em artigo publicado na revista científica The Lancet em julho, Goldman disse: "Na minha opinião, a chance de transmissão por meio de superfícies inanimadas é muito pequena e apenas nos casos em que uma pessoa infectada tosse ou espirra na superfície e outra pessoa toca essa superfície logo após a tosse e o espirro (dentro de uma a duas horas). "

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OMS diz que não há "comprovação científica" de transmissão do coronavírus em embalagens
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Como o vírus pode ser transmitido?

O risco de transmissão é geralmente baseado na suposição de que trabalhadores contaminados de fábricas onde alimentos são embalados podem ter passado o vírus a superfícies de embalagens após tocarem olhos, nariz ou boca.

Mas os cientistas acham essa rota de transmissão bastante improvável.

"Pode ser possível que uma pessoa contraia covid-19 tocando em uma superfície ou objeto que contenha o vírus", informou a agência de saúde dos Estados Unidos, os Centros de Controle de Doenças (CDC) em seu site. No entanto, o órgão acrescenta que "esta não é considerada a principal forma de propagação do vírus".

Na verdade, especialistas estão cada vez mais seguros de que o coronavírus se espalha diretamente de pessoa para pessoa, nas seguintes formas:

  • Entre pessoas que estão em contato próximo umas com as outras (dentro de 2m (6 pés))
  • Através de gotículas produzidas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou fala
  • Quando as gotas caem na boca ou nariz de pessoas próximas (ou são inaladas pelos pulmões)

Tang diz que provar que alguém pegou o vírus através da embalagem também seria difícil.

Segundo ele, seria necessário "excluir qualquer exposição recente de qualquer outra fonte" — incluindo contatos sociais assintomáticos (aqueles que têm o vírus, mas não apresentam sintomas) — para ter certeza de que a exposição relacionada à embalagem de alimentos era a verdadeira causa da infecção.

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Como manter-se em segurança

A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que "não há atualmente nenhum caso confirmado de covid-19 transmitido por alimentos ou embalagens de alimentos". Mas lista uma série de precauções que podemos tomar para evitar contaminação cruzada.

Também diz que não há necessidade de desinfetar as embalagens dos alimentos, mas "as mãos devem ser bem lavadas após manusear as embalagens dos alimentos e antes de comer".

A OMS recomenda ainda usar desinfetante de mãos antes de entrar na loja, se possível, assim como lavar bem as mãos quando voltar para casa e também após manusear e armazenar os produtos comprados.

A entrega a domicílio não deve ser motivo de preocupação desde que o entregador siga boas práticas de higiene pessoal e alimentar. É importante lavar as mãos após receber entregas de alimentos. Alguns especialistas também recomendam o uso de sacolas plásticas apenas uma vez.

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