Durante a pandemia, pacientes que se curaram da covid-19 começaram a apresentar sintomas de outras doenças que não tinham antes da infecção.
De acordo com o relato de alguns especialistas, problemas como distúrbios cardiovasculares, metabólicos, gastrointestinais, neurológicos, anemia, dores articulares, fadiga, cefaleia e dispneia são alguns dos que acometem os pacientes no pós-covid.
Para o Dr. Marcio Petrel Bermal, cardiologista da Clinipae e diretor Médico da UPA - Unidade de Pronto Atendimento Jardim Iris, da Baixada Fluminense, as doenças cardiovasculares estão entre os maiores atendimentos. "O coronavírus desregula a pressão dos hipertensos, mesmo com o uso de medicamento, o que facilita a formação de coágulos e evolua para complicações, como AVC e infarto".
Ainda segundo o médico, houve casos de pessoas que contraíram o vírus e, mesmo sem histórico de doenças cardiovasculares, apresentaram cardiopatia dilatada, que é um aumento da área global do coração, após se recuperarem da Covid-19.
"Diversos pacientes relatam cansaço excessivo, falta de ar e fraqueza. Subir a escada de casa, uma ladeira da rua e fazer atividades que exigem pequenos esforços ficaram difíceis após a doença, o que mostra a necessidade de saber se há outras sequelas que precisam ser monitoradas e tratadas", diz o especialista.
Além disso, aumentou a demanda para os fisioterapeutas, pois é uma aliada importante no processo de reabilitação pós-covid. A fisioterapeuta Michelle Lessa da Silva, especialista em fisioterapia respiratória, as dores articulares aumentaram em 50% nos pacientes que foram contaminados pelo vírus.
"A fisioterapia respiratória está presente em todo o processo de combate à doença, desde o momento em que o paciente é internado, começando pelos exercícios de fortalecimento dos músculos respiratórios para evitar a entubação, até a necessidade de ventilação mecânica", explica.
A fisioterapeuta ressalta que após a alta hospitalar, há pacientes que precisam de reabilitação, como a cinesioterapia, que envolve exercícios para fortalecimento da musculatura respiratória, treino de força, equilíbrio, controle muscular e treinamento de marcha. "O tratamento pode durar de seis semanas a seis meses, dependendo do nível de comprometimento e da evolução de cada paciente".
Outra consequência da pandemia foi o aumento de casos de doenças mentais. Segundo o Dr. Jonatas Davi Stroher, clínico geral pela Universidade Iguaçu (UNIG) e médico da Clinipae, 70% das pessoas atendidos no consultório apresentam algum transtorno de saúde mental, como ansiedade, depressão e pânico, geralmente associados às perdas familiares, desemprego e falta de perspectiva.
O clínico geral destaca a importância de procurar ajudar profissional após ter passado por isso. "É fundamental que os profissionais deem mais atenção às queixas, até para que o diagnóstico seja preciso. Muitas doenças são originadas devido a problemas psicológicos e o tratamento médico precisa ir além dos sintomas", finaliza o médico.
Diante desse cenário e ainda sem estudos científicos e clínicos sobre as sequelas que essa doença pode gerar, o que se sabe é que o caminho a ser percorrido é longo e ainda pouco conhecido. O acompanhamento de quem contraiu a doença e está passando pela reabilitação deve incluir uma equipe multidisciplinar e bastante disposição dos profissionais e pacientes para vencer mais essa etapa.