Logo após impor derrotas ao governo de Jair Bolsonaro, a CPI da Covid foi inundada por requerimentos de informações, convocações e de esclarecimentos, principalmente por parte de parlamentares da oposição. Ao todo, 173 pedidos foram protocolados até a noite desta terça-feira, 27.
Todos ainda precisam passar por aprovação do plenário da comissão. No entanto, o ritmo sinaliza o foco no governo federal. Dos requerimentos, mais da metade (88) partiu de senadores de oposição. Considerando os pedidos dos parlamentares considerados independentes, 64% de todos os pedidos protocolados partiram de não governistas.
Até o início da tarde desta quarta, 28, integrantes do colegiado podem apresentar suas sugestões de plano de trabalho para o relator, Renan Calheiros (MDB-AL). O roteiro básico das investigações deve ser aprovado pela CPI na sessão de amanhã. Também nesta quinta o grupo deve votar os primeiros requerimentos dessa lista de 173, que ainda deve crescer. O primeiro depoente, porém, já foi definido por acordo. De acordo com o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-BA), na sessão da próxima terça-feira, o colegiado pretende ouvir o depoimento do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
A CPI deve realizar suas reuniões às terças e quintas-feiras pela manhã e terá 90 dias para concluir as investigações.
Na primeira reunião, realizada ontem, o Palácio do Planalto sofreu derrotas em série após várias tentativas de aliados de adiar os trabalhos. O principal revés para o presidente Bolsonaro foi a confirmação de Renan Calheiros como relator da comissão parlamentar de inquérito. O senador alagoano foi designado pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), e, ao assumir o posto, fez um duro discurso com recados ao Planalto, dizendo que não se curvará a "intimidações".
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) foi eleito vice-presidente. Sozinho, ele já apresentou 45 requerimentos, incluindo um que mira no ministro da Economia, Paulo Guedes. Randolfe quer que o Facebook disponibilize vídeo da reunião do Conselho de Saúde Suplementar, de terça-feira, no qual o ministro aparece dizendo que "o chinês inventou o vírus".
O conteúdo foi publicado e depois removido pela página oficial do Ministério da Saúde. Na mesma reunião, o chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, disse ter tomado escondido a vacina contra o novo coronavírus e que a saúde de Bolsonaro "corre risco".
Alessandro Vieira (Cidadania-SE) fez um requerimento para que Guedes compareça ao Senado e preste informações sobre o pagamento do auxílio emergencial na pandemia. Um dos articuladores da CPI, apesar de estar na suplência, Vieira apresentou nove requerimentos de convocação.
Entre os aliados de Bolsonaro que Alessandro Vieira quer interpelar estão o ex-chanceler Ernesto Araújo e o assessor internacional do presidente Jair Bolsonaro, Filipe Martins.
Também está formalizada a proposta de convocação do tenente-coronel Alex Marinho, coordenador-geral de Logística de Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde na gestão de Pazuello.
"Para prestar depoimento e esclarecer acerca da demora da resposta na crise de oxigênio, em Manaus e também sobre a troca de lotes de vacinas entre Amazonas e Macapá", salientou o autor do requerimento, Otto Alencar (PSD-BA).
Como mostrou o Estadão, militares que estavam em funções relacionadas ao combate à pandemia devem ser cobrados pela CPI.
Também existe interesse de os embaixadores da China e da Rússia serem convocados. "É do conhecimento de todos que o ex-ministro Ernesto Araújo em diversos momentos deixou clara a má vontade com os chineses, colocando em risco a parceria para fabricação da vacina e, ao que tudo indica, atrasando a importação do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo)", diz o senador Angelo Coronel (PSD-BA).
Assinados pelos sete governistas, entre titulares e suplentes, há 62 requerimentos. Partem deles os principais pedidos de informação para Estados e municípios. É interesse dos aliados do Palácio do Planalto dissolver o impacto político da CPI com governadores e prefeitos.
Marcos Rogério (DEM-RO) quer dos chefes dos Executivos estaduais e municipais detalhes da execução orçamentária dos recursos repassados pela União para aplicação no combate à pandemia. Ciro Nogueira (PP-PI) deseja inclusive as notas de empenho dos gestores locais em até 15 dias.
Outra estratégia do parlamentar do Piauí para pressionar os Estados é o pedido para o envio de cópias de todos as investigações que tramitam em órgãos regionais como Polícia Civil, Ministério Público Estadual e Tribunal de Contas.