Decisão sobre lockdown em São Paulo deve acontecer na quarta

O governador João Doria e o prefeito Bruno Covas terão de tomar difícil decisão; na quarta, 31, vence o prazo dos decretos de quarentena

23 mai 2020 - 11h52
(atualizado às 12h08)

Até a próxima quarta-feira, o governador de São Paulo, João Doria, e o prefeito do Município de São Paulo, Bruno Covas, terão de decidir se decretam ou não o isolamento radical da população, o lockdown, como procedimento destinado a enfrentar o novo coronavírus.

Será quarta-feira porque no dia 31 de maio se esgota o prazo dos decretos que impuseram a quarentena e é preciso saber o que vem depois.

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Movimentação de veículos e pessoas na Marginal do Rio Pinheiros durante feriado prolongado determinado pelo governo de São Paulo
Movimentação de veículos e pessoas na Marginal do Rio Pinheiros durante feriado prolongado determinado pelo governo de São Paulo
Foto: ANDERSON LIRA/FRAMEPHOTO / Estadão Conteúdo

Epidemiologicamente, esta parece a melhor opção, diante do agravamento da crise e do aumento do risco de colapso do sistema público de saúde. No Estado, até esta sexta-feira, já são mais de 76 mil infectados e 5,7 mil mortes, os leitos de UTI estão com ocupação de 75% no Estado e de 91% na Grande São Paulo.

Antes de mais nada, é preciso saber se o lockdown não viria tarde demais e até que ponto poderia funcionar. E, se não funcionar, saber se os resultados não poderiam ser piores do que se o isolamento simples fosse mantido. Não há resposta conclusiva para essas perguntas.

A população não parece motivada a enfrentar o bloqueio de circulação. Cerca de metade das pessoas não vem observando nem sequer a quarentena, em parte porque está cansada do isolamento e, também, porque precisam tratar de arrumar algum sustento.

Nova pergunta: confinar os moradores das periferias em suas casas não produziria efeito mais nocivo, o de infectar mais rapidamente os mais pobres, os que não dispõem de condições mínimas de higiene para se proteger?

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Só na Grande São Paulo são 21,5 milhões de habitantes. Por aí se vê que, se for para adotar a saída radical, será preciso engajar todos os prefeitos da região e não apenas o do Município de São Paulo. Qual seria o índice de sucesso de uma operação de lockdown? Elevar de 60% a 70% o confinamento poderia reduzir o número de mortos e o nível de utilização dos leitos de UTI? O que garantiria esse sucesso numa cidade que não conseguiu nem sequer bloquear meia dúzia de avenidas nem manter por apenas uma semana o rodízio de 24 horas nos veículos?

Para exigir a observância do lockdown, seria preciso garantir punições severas para infrações. Que tipo de punição poderia ser usada? Prender os transgressores, quando as autoridades vêm fazendo o contrário e vêm soltando presos para evitar o alastramento da contaminação nos presídios? Ou aplicar multas sobre quem não tem dinheiro nem para se alimentar?

Além disso, não deixa de ser limite incontornável à eficácia de um isolamento radical o funcionamento de supermercados, feiras livres, farmácias, postos de gasolina, bancas de revistas e oficinas de reparo de veículos. Além disso, o mercado financeiro não pode parar, a Bolsa tem de seguir os mercados internacionais, os bancos precisam permanecer abertos, os portos e os corredores de acesso e de saída de mercadorias não podem fechar.

Ah, sim, as autoridades poderiam optar por um lockdown seletivo. Nesse caso, que critério adotar? Por idade, por localização geográfica? E como administrar a obediência a essa decisão? Por tudo isso se vê que tanto o governador como os prefeitos terão de optar por saídas de enorme gravidade sem clareza do que estão decidindo.

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