BRASÍLIA - A deputada Bia Kicis (PSL-DF) apareceu nesta quarta-feira, 20, no plenário da Câmara, usando máscara de proteção com a inscrição "E daí?". A pergunta virou o símbolo do descaso quando, no dia 28 de abril, o presidente Jair Bolsonaro afirmou não ter o que fazer em relação ao recorde de mortes na pandemia do novo coronavírus.
"E daí´? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre", disse Bolsonaro há cerca de 20 dias ao ser questionado, na ocasião, sobre o fato de o Brasil ter ultrapassado a China no número de mortes. Depois dessa frase, Bolsonaro foi bombardeado nas redes sociais e ensaiou uma mudança de tom sobre a doença, apesar de defender o afrouxamento do isolamento social.
Vestida com a máscara, Bia Kicis elogiou no plenário da Câmara a mudança no protocolo a respeito do uso da cloroquina. Na quarta-feira, por determinação do presidente Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde passou a recomendar o medicamento também para casos leves de covid-19, embora não haja evidência científica sobre a eficácia do tratamento.
"Eu quero aqui louvar o novo protocolo do Ministério da Saúde, agora que libera para os atendimentos do SUS, no início do tratamento, a hidroxicloroquina junto com outros medicamentos que têm se mostrado eficientes no combate ao coronavírus, desde que usados no momento adequado", afirmou Bia.
Após receber críticas nas redes, a deputada disse ao Estadão/Broadcast que a máscara com o questionamento "E daí?" foi um presente de um apoiador, após ela ter feito um vídeo usando o questionamento para denunciar "irregularidades" cometidas por governos estaduais durante a pandemia. "E daí que o governo de Santa Catarina comprou por 33 milhões aparelhos respiradores e não recebeu nenhum deles?" é uma das frases do vídeo.
"Isso é um texto de um anônimo que eu resolvi transformar em um vídeo. Então, eu li o texto. Esse vídeo viralizou. Um seguidor meu, que trabalha com brindes, fez a máscara e camisetas e levou para mim na manifestação (de apoio ao presidente)", contou Bia. "Essa máscara está, inclusive, com a foto do vídeo porque se refere a esse texto que eu gravei".
Em 2006, a então deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) dançou no plenário da Câmara logo depois de a Casa absolver seu colega petista João Magno do pedido de cassação por quebra de decoro parlamentar. Magno era acusado de envolvimento no esquema do mensalão.
À época, a comemoração de Ângela foi apelidada de "dança da pizza" e ela acabou fazendo um pedido público de desculpas.
Quando Bolsonaro saiu-se com um "E daí?", em 28 de abril, o Brasil registrava 474 mortes pelo coronavírus em 24 horas. Atualmente, porém, esse número praticamente dobrou.