Dimas Covas cobra Bolsonaro por insumos para vacina

"Se a vacina agora é do Brasil, que o nosso presidente tenha a dignidade de defendê-la", disse o presidente do Butantan

19 jan 2021 - 15h51
(atualizado às 15h55)

O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse nesta terça-feira esperar uma rápida solução para o atraso da vinda de insumos da China, necessários para que o instituto produza doses da CoronaVac, vacina contra covid-19 do laboratório chinês Sinovac, e cobrou que o presidente Jair Bolsonaro atue para agilizar a liberação do produto pelo governo chinês.

10/11/2020
REUTERS/Amanda Perobelli
10/11/2020 REUTERS/Amanda Perobelli
Foto: Reuters

Em entrevista coletiva em Ribeirão Preto, onde acompanhou o governador João Doria (PSDB) no início da vacinação na cidade, Dimas Covas afirmou que a retórica contrária à China de Bolsonaro e de aliados do presidente atrapalhou os esforços do Butantan pela CoronaVac, até agora o único imunizante contra a covid-19 à disposição no Brasil.

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"De fato nós estamos com um atraso que é meramente burocrático neste momento, esperamos resolver isso rapidamente para que esse fluxo se estabeleça", disse ele.

"Obviamente que esse processo político que aconteceu aqui no Brasil teve influência não no atraso de agora, no atraso anterior, no ano passado. Quer dizer, a todo momento criticando a vacina, criticando a China."

A CoronaVac obteve autorização para uso emergencial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no domingo, assim como a vacina da AstraZeneca desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford.

O governo federal espera importar da Índia 2 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca, mas foram os 6 milhões de doses da CoronaVac importadas pelo Butantan que deram a largada na vacinação no Brasil no domingo, em uma vitória política de Doria sobre Bolsonaro. Os dois são desafetos políticos e prováveis adversários na eleição presidencial de 2022.

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Covas disse esperar que a autorização da Anvisa e o início da vacinação com a CoronaVac agilizem o processo de chegada da vacina concentrada, que o Butantan envasa para entregar as doses para o Ministério da Saúde.

No domingo ele disse que o instituto aguardava há duas semanas uma autorização do governo chinês para a exportação do equivalente a 11 milhões de doses em matéria-prima.

"Essa demora com relação à vinda dessa matéria-prima eu espero que fique agilizada agora com a aprovação do uso emergencial pela Anvisa, porque agora muda o status, e pela própria incorporação da vacina ao Programa Nacional de Imunização", afirmou.

Ele também aproveitou para cobrar Bolsonaro, que passou meses criticando a CoronaVac, chegando a comemorar a interrupção dos testes clínicos com a vacina, realizados pelo Butantan, após a morte de um voluntário que se provou posteriormente não ter relação com o imunizante.

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O presidente também chegou a afirmar que o governo não compraria doses da CoronaVac e que ela não inspirava confiança dada sua origem chinesa.

Na segunda, entretanto, após o início da vacinação com a vacina da Sinovac, Bolsonaro disse que o imunizante "é do Brasil" e não de um governador, em referência indireta a Doria.

"Se a vacina agora é do Brasil, que o nosso presidente tenha a dignidade de defendê-la e de solicitar inclusive apoio do seu Ministério de Relações Exteriores na conversa com o governo da China", cobrou o presidente do Butantan.

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