O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, criticou o estudo do Ministério da Saúde para avaliar a aplicação de uma terceira dose em pessoas vacinadas com o imunizante CoronaVac contra a covid-19. De acordo com o diretor, o Butantan ficou sabendo do estudo pela imprensa, e afirmou ter achado "estranho" que a pesquisa fosse especificamente sobre a CoronaVac. "Isso me leva a ficar pensado que possa ter outra motivação por trás dessa decisão", disse.
"Na apresentação do ministro (Marcelo Queiroga) junto a uma pesquisadora foi dito que a CoronaVac seria testada em relação à terceira dose, porque tem uma queda de anticorpo, informações absolutamente erradas. A pesquisadora que estava ali infelizmente se enganou profundamente nas suas declarações", comentou Dimas, que classificou o estudo como extraoficial.
Em críticas à falta de comunicação pela Saúde sobre a pandemia da covid-19, o diretor pediu para que o órgão tenha transparência com o andamento da pesquisa, apresentando planejamento e registros de cada etapa. "Estranhei muito que o Butantan não ter sido pelo menos gentilmente ou educadamente comunicado que estaria sendo planejado um Estudo", complementou Dimas.
A pesquisa, patrocinada pelo Ministério da Saúde, será realizada em parceria com a Universidade de Oxford e terá início nas próximas duas semanas. "Não temos publicação na literatura detalhada acerca de sua efetividade (da Coronavac). As respostas precisam ser dadas através de ensaios clínicos", afirmou Marcelo Queiroga, nesta quarta-feira, 28, em entrevista a jornalistas em Brasília.
De acordo com a pesquisadora Sue Ann Clemens, que coordenará o estudo, é preciso saber a duração da proteção de cada vacina. Para os imunizantes da Pfizer, AstraZeneca e Janssen, diz ela, já há publicações demonstrando a duração da proteção. "Em relação à Coronavac, precisamos avaliar isso. Estudos já mostraram que a proteção começa a cair com seis meses", disse Sue, brasileira que trabalha na Universidade de Oxford.
Entrega de doses
As declarações aconteceram nesta manhã, durante a entrega de mais 1,2 milhão de doses da vacina do Butantan contra a covid-19 ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). Com a nova entrega, as liberações chegam à marca de 62,849 milhões de doses fornecidas ao Ministério da Saúde desde 17 de janeiro deste ano.
Mantendo o apelo feito ao Ministério da Saúde nas últimas entregas, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e a coordenadora do Programa Estadual de Imunização (PEI), Regiane de Paula, reforçaram o pedido para maior agilidade do órgão federal na entrega dos imunizantes da Pfizer e AstraZeneca.
Conforme pede Regiane, a antecipação do intervalo entre as doses dos imunizantes está no radar, mas só será possível oficializar a medida quando houver envio de mais vacinas. Doria reforçou o apelo e disse que o governo já revisou por oito vezes volumes e datas de entrega, sem o cumprimento. "Isso evidentemente atrapalha e reduz a velocidade da vacinação não apenas em São Paulo, mas no Brasil", disse. "Ao anunciar volumes e datas, cumpra", acrescentou.