BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro voltou a questionar, em transmissão nas redes sociais nesta quinta-feira, 10, a obrigatoriedade das pessoas se vacinarem contra a covid-19. A declaração, no entanto, contrasta com uma lei sancionada pelo próprio presidente em fevereiro deste ano, que permite a vacinação compulsória como forma de enfrentar a pandemia. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também determina ser "obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias".
Na "live", Bolsonaro insistiu para saber se a youtuber mirim Esther Castilhos, de dez anos, que participava da transmissão ao seu lado, tomaria uma vacina "sem comprovação científica".
"Você gosta de tomar vacina?", questionou o presidente. "Eu gosto, é muito melhor do que tirar sangue", respondeu a menina. "Mas você tomaria qualquer vacina, sem comprovação científica?", insistiu o presidente. "Sim", reforçou a youtuber.
Em seguida, Bolsonaro repetiu que as vacinas em desenvolvimento contra a covid-19 "ainda não tem uma comprovação científica". "Você acha que se chegar qualquer vacina por aí sem que passe pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), tem todo um procedimento lá...", afirmou.
Na semana passada, Bolsonaro já havia dito que ninguém é obrigado a se vacinar contra a covid-19. A declaração foi compartilhada nas redes sociais pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) e repercutiu na Organização Mundial de Saúde (OMS). Em transmissão online, a cientista-chefe do órgão, Soumya Swaminathan, destacou que o primeiro aspecto a ser considerado é que as vacinas erradicaram doenças como sarampo e varíola e fizeram muito pela humanidade. "Essas declarações mostram o quanto é necessário educação, transparência e informação pública sobre a importância das vacinas no geral, e em seguida sobre a vacina contra a covid-19".
A exemplo do que já havia feito em lives passadas, Bolsonaro voltou a criticar a lei, aprovada no Congresso Nacional, que fixa prazo de 72 horas para a Anvisa dar autorização excepcional e temporária à importação e distribuição de insumos médicos para o combate à covid-19 que já tenham sido validados por autoridades sanitárias estrangeiras. O veto do presidente a esse prazo acabou derrubado pelo Legislativo. "Você acha que está certo isso?", questionou o presidente.
Na sequência, ele citou que "deu problema com a vacina de Oxford", em referência ao produto desenvolvido pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a universidade britânica. Os testes foram suspensos nesta semana após um dos voluntários apresentar reações adversas.
"Estamos aguardando aí para saber das causas, porque uma das pessoas (pacientes) deu problema para, logicamente, continuar pesquisando, testando, para ver se pode ser aplicada ou não nas pessoas", disse Bolsonaro. "Quando chegar no Brasil, a Anvisa vai analisar."
Em junho, o governo federal começou a participar de um acordo de cooperação no desenvolvimento tecnológico e acesso do Brasil à vacina desenvolvida em Oxford, considerada, até então, uma das mais promissoras.