Desde que reabriu seus dois bares na capital Paulista - o Pasquim, na Vila Madalena, e o Vero, em Pinheiros -, o empresário Humberto Munhoz, de 38 anos, passa os dias contando e recontando os prejuízos. As casas, que ficaram fechadas por quatro meses, reabriram no dia 6 de julho. De lá para cá, não faturaram o suficiente nem para pagar os custos. "Um dos meus bares, o Pasquim, está faturando 15% do que faturava antes da pandemia", diz ele. "O dinheiro dá para pagar o aluguel e, talvez, a conta de água e a luz, no máximo", afirma.
Para manter os 60 funcionários e pagar o boleto dos fornecedores, ele conta que está tirando recursos do próprio bolso. De março para cá, já foram cerca de R$ 2,5 milhões sacados de suas aplicações. "Queimei todo o meu patrimônio. Agora ou pego dinheiro emprestado ou fecho as portas."
A situação financeira de Munhoz e de suas empresas é, de certa forma, comum no mercado de bares e restaurantes, um dos primeiros a fechar após a escalada do novo coronavírus. Ao lado do comércio como um todo, ele vem patinando em uma retomada lenta e custosa.
Segundo levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), obtida com exclusividade pelo Estadão, dos 70 mil bares e restaurantes registrados na cidade de São Paulo, 62% já retomaram as atividades. No entanto, mais da metade, 54% deles, tiveram queda na receita superior a 90% do que registravam antes do início da pandemia. A pesquisa foi realizada entre os dias 27 e 31 de julho, com 124 empresários.
"É uma situação dramática para o setor", afirma Paulo Solmucci, que preside a instituição. "A retomada em São Paulo, com a restrição de horários, está fazendo o dono de bar faturar três vezes menos que os empresários, por exemplo, do Rio de Janeiro, que voltaram a trabalhar em período integral", conta Solmucci.
Crédito
Para além da restrição do horário e do protocolo de segurança sanitária, que reduz o fluxo de clientes dentro dos restaurantes, outra queixa comum entre os empresários do setor é a dificuldade em obter acesso às linhas de financiamento subsidiadas pelo governo.
Segundo a Abrasel, apenas 35% dos donos de bares e restaurantes conseguiram acessar os programas de crédito. "O Pronampe até que chegou para o empresário, mas o dinheiro acabou rápido e muita gente entrou em agosto sem o benefício da MP 936, que permitiu a flexibilização de salários, e sem nenhum dinheiro. O resultado será de demissões e negócios fechados", diz o presidente da Abrasel.
O empresário Humberto Munhoz não conseguiu acessar o Programa de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). "Nem eu, nem nenhum dono de restaurante que eu conheço", diz. Para não ficar sem dinheiro para pagar a folha de pagamento de agosto e de setembro, ele pegou uma linha com taxa de 1,5% ao mês em um banco privado. "É uma vergonha ter a taxa básica de juros da economia a 2% ao ano e eu estar pagando quase a mesma coisa, só que ao mês."
Dono do bar e da casa de shows Bourbon Street, no bairro de Moema, Edgar Radeska, de 73 anos, também não conseguiu sacar os recursos do Pronampe. "Eu tive o crédito aprovado, só que no dia de pegar o dinheiro parecia uma gincana. Todos os empresários ficaram com o aplicativo aberto, apertando em sacar o dinheiro, até que de repente acabou tudo e muitos poucos pegaram a verba."
Com os recursos para empréstimos praticamente esgotados, o Pronampeé, até o momento, reconhecido pelo mercado como o único programa de crédito do governo bem-sucedido na crise. Dos R$ 18,7 bilhões ofertados, R$ 18,6 bilhões - ou 99,5% do total - chegaram ao final de julho efetivamente emprestados a empresas em dificuldades.
Nas demais linhas lançadas durante a pandemia do novo coronavírus, os porcentuais não superam os 30% e os montantes envolvidos são bem menores. Segundo a Abrasel, cerca de 160 mil trabalhadores formais e informais foram demitidos pelo setor desde o início da crise.