IDT Biologika está em diálogo com desenvolvedores para produzir Sputnik V na Saxônia. Governador diz não ter "ressalvas ideológicas". Se for aprovado, imunizante pode ser o quarto disponível na UE.A notícia oficial, neste começo de fevereiro, de que a vacina da covid-19 Sputnik V, da Rússia, é segura e eficaz gerou um frenesi de atividade na Alemanha.
Enquanto na quarta-feira (03/02) o ministro da Saúde Jens Spahn informou sobre negociações em Moscou para produzir a droga na Alemanha, no dia seguinte o governo da Saxônia confirmava que os desenvolvedores russos haviam contatado a empresa local IDT Biologika, a fim de discutir a produção conjunta da Sputnik V no leste alemão.
"Não há ressalvas ideológicas contra a Sputnik V. Saudamos tudo o que possa ajudar na luta contra o coronavírus", disse à imprensa um porta-voz do governador saxônio, Rainer Haseloff. "Se a IDT Biologika quer produzir a vacina russa e ela for aprovada pela União Europeia, nós, enquanto governo estadual, obviamente faríamos tudo para ajudar a companhia."
A possibilidade de outro imunizante estar disponível recebeu boas-vindas calorosas na Alemanha, onde cresce o descontentamento com a lentidão das inoculações, em comparação com países como os Estados Unidos, Israel ou o Reino Unido.
As críticas são especialmente veementes pelo fato de Berlim ter falhado em assegurar acesso ao medicamento da BioNTech-Pfizer, embora a empresa de biotecnologia seja sediada no país e sua vacina tenha sido a primeira aprovada no Ocidente.
IDT envolvida na campanha global por vacinas
A IDT Biologika é uma companhia de desenvolvimento e fabricação por contrato, que produz vacinas antivirais e outros artigos biológicos para farmacêuticas de diversos países. Fundada quase exatamente 100 anos atrás, ela tem cerca de 1.400 funcionários trabalhando tanto em Dessau-Rosslau e Magdeburg (ambos no Leste alemão) quanto em Rockville, em Maryland, EUA.
Quando o vírus Sars-Cov-2 começou a se alastrar em 2020, a IDT lançou seu próprio projeto de vacina, subvencionado com 114 milhões de euros do governo alemão para os testes de fase 1. No entanto, a droga MVA-Sars-2-S, desenvolvida com apoio do Centro Alemão de Pesquisa de Infecções (DZIF), não foi capaz de desencadear uma resposta imunológica suficiente em seres humanos.
No início de janeiro, a empresa informou que começara a otimizar sua vacina, mas que estava dois meses atrás no cronograma. Como fabricante contratada, entretanto, ela está ativamente envolvida nos esforços globais para a imunização contra a covid-19. Em sua nova unidade em Dessau-Rosslau, inaugurada em 2019, a IDT Biologika produziu desde janeiro 8 milhões de doses da vacina criada pela AstraZeneca e a Universidade de Oxford.
Corrida contra o tempo
Até o momento, o diretor-executivo da IDT, Jürgen Betzing, declinou de comentar a perspectiva de produzir a Sputnik V, só informando que a companhia está em diálogo com diversos fabricantes para discutir "os desafios do suprimento confiável de vacinas".
"Nossa expertise está atualmente em alta demanda", comentou Betzing ao jornal Mitteldeutsche Zeitung, nesta quinta-feira, frisando que sua firma é uma das mais importantes fabricantes de vacinas do mundo.
Ao mesmo tempo, ele abafou as esperanças de uma distribuição rápida do imunizante russo na Alemanha, já que os preparativos de produção levariam "de quatro a cinco meses". E isso, num cronograma "ambicioso", mas que ele afirma que a IDT seria "capaz de cumprir".
Há alguns dias, o diretor de desenvolvimento da empresa, Andreas Neubert, advertiu, em geral, contra expectativas públicas exacerbadas em relação às fabricantes de vacinas. À emissora Deutschlandfunk, enfatizou que a IDT Biologika "na verdade não possui excedente de capacidades, mas capacidades capazes de expansão".
Também nesse aspecto a questão do tempo é crucial: "Cada processo que estabelecemos, cada controle de qualidade e tecnologia que aplicamos, exigem uma parcela de tempo específica. Se não me dão esse tempo, a coisa simplesmente não funciona - é tudo o que posso dizer."
Quarta candidata na UE
Caso aprovada pela agência regulamentadora da UE, a Sputnik V poderá ser a quarta vacina disponível no bloco, depois das da BioNTech-Pfizer, Moderna e AstraZeneca, cujas distribuições, contudo, estão atualmente travadas por atrasos de entregas, gargalos de produção e fiascos políticos.
Na terça-feira, a revista médica The Lancet noticiou que a droga desenvolvida pelo Centro Nacional de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, da Rússia, seria 91,6% eficaz contra casos sintomáticos de covid-19. A avaliação se baseou em testes clínicos de fase 3, contrapondo-se às críticas da decisão de Moscou de iniciar a vacinação em massa em 2020, antes de os testes estarem concluídos e os resultados analisados.
A chefe de governo alemã, Angela Merkel, ofereceu a ajuda de seu governo para acelerar a aprovação da Sputnik V na UE, e tanto a França quanto a Espanha sinalizaram disposição de usar o medicamento.
Segundo o fundo de investimento público russo RDIF, que vem financiando a pesquisa da vacina, já foram inoculados com o imunizante mais de 2 milhões habitantes de 15 nações, a maioria em desenvolvimento.