Demorou, mas as máscaras compradas na China, ainda na gestão de Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde, estão finalmente chegando ao País. No total, são 200 milhões de máscaras descartáveis e 40 milhões de N95 para profissionais de saúde. A entrega começou no início de maio e deverá se estender até julho, pelo cronograma oficial.
Diante da impossibilidade de vendedor chinês fazer a entrega no Brasil, a Saúde repassou a tarefa de viabilizar o transporte da mercadoria e os recursos para a sua execução, de R$ 108 milhões, ao Ministério da Infraestrutura, que atua na área.
Segundo Ronei Glanzmann, secretário nacional de Aviação Civil, o ministério montou uma complexa operação logística para trazer o material. Devido à urgência da missão, o ministério decidiu fazer o transporte por avião e não por via marítima, já que um navio cargueiro levaria, de acordo com ele, de 40 a 60 dias para cumprir o percurso.
Como o Ministério da Defesa informou que não teria condições de realizar a tarefa, porque os aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) têm capacidade de carga limitada e teriam de fazer pelo menos cinco escalas para chegar ao Brasil, a saída foi buscar uma empresa privada no mercado para executar a empreitada.
Valor do contrato
Glanzmann afirma que o Ministério da Infraestrutura realizou uma tomada de preços simplificada para fretar os aviões, aproveitando a dispensa de licitação autorizada na pandemia, e recebeu cerca de 30 propostas. Com a demanda por aviões de carga aquecida, por causa das compras de medicamentos e de materiais médicos e hospitalares feitas por vários países, as melhores propostas vieram das companhias de passageiros, que estão com a frota quase toda em terra.
A melhor proposta, segundo o secretário, foi a da Latam, que venceu a concorrência. A empresa ofereceu, de acordo com Glanzmann, o preço mais competitivo, de US$ 355 mil por voo (R$ 1,9 milhão, ao câmbio de R$ 5,35), e aviões de maior porte, os Boeing 777-300, com grande autonomia e capacidade de transportar até 7,2 milhões de máscaras (270 metros cúbicos) por viagem. Glanzmann diz que as propostas das empresas de carga aérea chegaram a alcançar de US$ 1,5 milhão a US$ 2 milhões por voo em avião equivalente, quase seis vezes mais.
Considerando que serão necessários 42 voos para trazer tudo, dos quais 12 já foram realizados, o valor total do contrato com a Latam deverá ficar em US$ 14,9 milhões (R$ 79,7 milhões em valores atuais), 26% a menos que o estimado inicialmente. A sobra será devolvida para o Ministério da Saúde, segundo o secretário, ao final da operação.
O material é transportado tanto no compartimento de carga como na cabine de passageiros. Em alguns voos, quatro a cada cinco fileiras de assentos são removidas, criando as chamadas cargo bays (baías de carga), para abrir espaço para os pacotes. Em outros, a carga vem em cima dos assentos mesmo. "O problema neste caso não é peso, é volume", afirma Glanzmann.
Ao chegar ao Brasil, no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, o material é desembaraçado rapidamente, em questão de duas ou três horas, graças a uma força-tarefa montada com os órgãos aduaneiros, e transportado para um centro de distribuição do Ministério da Saúde que fica perto do terminal. De lá, com o apoio da FAB, as máscaras chinesas seguem para todo o País. Agora, resta saber se, com a demora do Ministério da Saúde em efetuar a compra, uma boa parte do material não ficará encalhada por aí.