BRASÍLIA - Seis Estados do País investigam a morte de 390 pessoas por suspeita de coronavírus. Os dados constam em boletins de saúde dos governos de São Paulo (201 casos em investigação), Rio de Janeiro (49), Rio Grande do Sul (89), Bahia (5), Minas Gerais (45) e Espírito Santo (1) checados pela reportagem do Estado.
Os dados reforçam uma prática que, entre o fim da última semana e o início desta, se alastrou por todas as regiões do País: o enterro express, com caixão lacrado, sem que familiares tenham sequer uma previsão de quando vão saber a real causa da morte do ente. Com déficit de pessoal e equipamentos, os laboratórios de diversos Estados têm priorizado realizar os testes de pessoas vivas.
Uma portaria conjunta do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) autorizou o sepultamento e a cremação de corpos antes mesmo da emissão das certidões de óbito por conta da pandemia do novo coronavírus. As novas determinações, publicadas na última terça-feira, 31, também determinam que os registros de óbito mencionem a possibilidade de acometimento pela doença em casos de morte por doença respiratória suspeita.
No Rio Grande do Sul, 89 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) evoluíram para óbito e não tiveram causa identificada até o momento. Os corpos foram enterrados, também neste caso, sem que os parentes soubessem a real causa da morte.
No Estado, todos os exames são realizados no Laboratório Central (Lacen/RS), em Porto Alegre, que, desde o último dia 6 de março, realiza o diagnóstico para o novo coronavírus. Até o momento, o Lacen realizou 2.694 exames, com 177 positivos para covid-19.
"São considerados suspeitos para o coronavírus todos os casos de pessoas internados com quadro de SRAG, caracterizada por uma síndrome gripal (febre e sintoma respiratório) e que apresente dispneia (falta de ar) ou outro sinal de gravidade conforme avaliação médica", explicou a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul.
Na Bahia, cinco mortes estavam em investigação na tarde desta quarta-feira. Para melhorar a identificação de casos de coronavírus, o governo do Estado adotou o método da busca ativa, contatando cada um dos hospitais da unidade da federação diariamente. Dessa forma, já identificou, de 27 a 30 de março, 92 pacientes com suspeita de covid-19 que encontram-se internados.
Transparência
No Nordeste, há mortes suspeitas em quase todos os Estados, mas muitos governos se recusam a divulgar os dados. Também não há transparência sobre quais critérios cada estado usa para declarar uma morte como suspeita. Isso tem levado, inclusive, a um processo de judicialização das mortes por covid, já que parentes não admitem ter seus entes enterrados sem saber a real causa da morte.
No Ceará, por exemplo, a juíza Luciana Teixeira de Souza, da Corregedoria dos Presídios e Estabelecimentos Penitenciários de Fortaleza, ordenou que seja investigada a morte de um preso suspeito de ter contraído coronavírus.
George Ivan Dionísio da Silva, de 31 anos, morreu no dia 22 de março. Ele estava preso na Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Elias Alves da Silva (CPPL 4). Até o momento, a defensoria pública estadual diz não saber se a Secretaria Estadual da Saúde fez qualquer exame no cadáver. O homem, portador de HIV, foi encaminhado à Unidade de Pronto atendimento do município de Horizonte, depois de apresentar complicações respiratórias.
Conforme revelou o Estado, na última semana, o governo de Minas Gerais cogita inclusive exumar corpos que foram enterrados sem passar por exames, caso o procedimento seja solicitado pela autoridade policial. Minas analisa 34.018 casos suspeitos para coronavírus. Um total de 45 mortes estão em investigação e três foram confirmados. O governo mineiro considera óbitos em investigação ou suspeitos "aqueles casos que aguardam a realização de exames laboratoriais e levantamento de informações clínicas e epidemiológicas".
Nos Estados, fica por conta das Secretarias de Saúde, e dos seus laboratórios centrais, fazer a análise do material que é enviado para testagem. O material também pode ser coletado após o óbito do paciente. Nas regiões onde há deficiência nos laboratórios que realizam os testes, como em boa parte do Nordeste, familiares de mortos demoram até 15 dias para saber se o parente morreu ou não por conta da covid-19.
Testes
Após ser cobrado pela demora para entregar os testes para familiares de mortos com suspeitas de covid-19, o Governo do Estado de São Paulo anunciou que vai ampliar a rede de testes para o novo coronavírus no Estado.
As unidades regionais do Instituto Adolfo Lutz, sitiadas em Santo André, Sorocaba, Ribeirão Preto, Bauru e São José do Rio Preto, estarão habilitadas a processar amostras, com capacidade de 500 exames por dia em um primeiro momento, podendo chegar até mil.
"Vamos reforçar a rede de exames e garantir, desta forma, um monitoramento efetivo sobre a circulação do coronavírus em nosso Estado. Assim, poderemos adotar as medidas necessárias para proteger nossa população", disse o governador João Doria.