Surpreendida pela necessidade de ficar confinada em razão da pandemia de coronavírus - ela é diabética -, a designer Gina Elimelek, de 58 anos, se ressente, sobretudo, da ausência de contato físico. "Sempre adorei abraçar e beijar, sentir as pessoas."
Também isolado, o arquiteto Darlan Firmato, 43, sente falta de um convívio social mais intenso, embora acredite que as pessoas estejam mais disponíveis. "Mais abertas ao diálogo, ainda que remoto."
O psicólogo Lucas de Francisco Carvalho, do Laboratório de Avaliação Psicológica e Educacional da Universidade São Francisco (USF), de Campinas, acabou de publicar um estudo na revista Trends in Psychiatry and Psychotherapy, em que avalia a relação entre os perfis de personalidade e a adesão ao isolamento.
"A principal contribuição do nosso trabalho foi reforçar a ideia de que os traços de personalidade têm papel importante no engajamento às medidas de contenção", afirmou o psicólogo.
Aplicado online, o questionário foi respondido por cerca de 900 pessoas com idade superior a 18 anos, a maioria mulheres (77,3%), solteiras (52,2%), caucasianas (69,5%) e com ensino superior (68,8%). Ao todo, foram formuladas 30 questões, com ênfase em isolamento e higienização.
Com base nos resultados apresentados, Carvalho concluiu que pessoas mais extrovertidas, por serem mais comunicativas, gostarem mais de sair e de estar em grupo, têm mais dificuldade de se engajar nas medidas de contenção, principalmente o confinamento social, do que indivíduos de perfil mais controlado e consciencioso.
Segundo o pesquisador, reconhecer esses traços pode ajudar a indicar os melhores caminhos para lidar com a questão. Um novo estudo, para o qual já coletou cerca de mil entrevistas, vai avaliar como traços mais específicos de personalidade reagem ao isolamento social.