Ex-ministros da Saúde dos governos petistas criticaram nesta quinta-feira (26) o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia do novo coronavírus. Em carta, eles defenderam as restrições impostas por governos estaduais e ressaltaram a importância do isolamento.
"Bolsonaro, principal dirigente do Executivo Federal, negou as evidências científicas que vêm embasando as ações governamentais de combate à pandemia a covid-19 em todo o mundo", diz o texto. Os ministros destacam a "a inquestionável relevância" do isolamento social para enfrentar a pandemia, garantindo assim "o atendimento aos casos mais graves", além de "diminuir o número de óbitos".
Assinado por José Saraiva Felipe, Jose Agenor Alvarez da Silva, José Gomes Temporão, Humberto Costa, ministros do governo Luiz Inácio Lula da Silva, e por Marcelo Castro, Arthur Chioro e Alexandre Padilha, do governo Dilma Rousseff, a carta ressalta que os países que têm conseguido melhores resultados são justamente aqueles que impuseram restrições duras.
"Ao advogar o isolamento vertical, restrito à população idosa e com comorbidades, Bolsonaro considera viável trancafiá-las em casa, sem nenhum contato com familiares, cuidadores, que passariam a circular livremente num ambiente totalmente favorável à disseminação do vírus", diz o texto.
Segundo os ministros, esse posicionamento do presidente desmobiliza os cidadãos que estão seguindo as recomendações de autoridades de saúde. "As medidas implementadas pelo Ministério da Saúde, pelos gestores da saúde, técnicos e profissionais do SUS não podem ser desrespeitadas e precisam ser defendidas. As vidas dos trabalhadores da saúde, atualmente expostas para salvar nossa população, não podem ser relativizadas em função de interesses da economia".
Escrita em resposta ao pronunciamento de Bolsonaro, no qual ele minimizou a pandemia e atacou a imprensa, a carta elogia a cobertura dos meios de comunicação sobre a covid-19 e pleita a união de líderes republicanos na "defesa da vida".
"Seu pronunciamento pode resultar em uma sobrecarga do sistema de saúde brasileiro de trágicas consequências, particularmente entre os grupos mais vulneráveis da sociedade", acrescentam os ministros e lembram que primeiro é importante salvar vidas e depois a economia.
"Da nossa parte, na condição de ex-Ministros da Saúde, vamos recorrer à Organização Mundial de Saúde e à Comissão de Direitos Humanos da ONU para que acompanhem o enfrentamento da pandemia de covid-19 no Brasil. Temos compromisso de nos engajarmos no esforço da sociedade brasileira na proteção de nossa população, independentemente de sua condição econômica e social e de sua faixa etária", conclui o documento.
Desde o início do surto de coronavírus, Bolsonaro vem minimizando a doença, a qual chamou de "gripezinha" em diversas ocasiões. Com estados impondo restrições para tentar controlar o avanço da covid-19, o presidente passou a questionar as medidas decretadas por governadores e defender a continuidade das atividades econômicas.
De acordo com o último balanço do Ministério da Saúde desta quarta-feira, o Brasil tem 2.433 casos confirmados da covid-19 e já registrou 57 mortes em decorrência da doença.
CN/ots
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