Quando a vacinação contra a covid-19 começou a acelerar em São Paulo, Felipe Neves sentiu falta de uma ferramenta capaz de evitar aglomeração na hora da picada. Foram seis semanas debruçado sobre um projeto que não só protegeu como facilitou a vida de todos que moram na capital. Ele é o pai do De olho na Fila, que já soma mais de 40 milhões de acessos.
O sucesso do site que mostra quais os imunizantes disponíveis em cada ponto de vacinação, assim como a situação da fila no local, coroa mais de 18 anos dedicados ao serviço público. Filho de mãe enfermeira e de pai músico, Felipe, de 43 anos, soube unir suas formações - gestão hospitalar e tecnologia da informação - em um trabalho que alcançou do morador da favela ao dos Jardins.
"Era um público muito diverso que precisávamos alcançar e, por isso, nossa ideia foi criar uma ferramenta de simples utilização e de rápido acesso. Ela só precisava mostrar onde tinha ou não fila. E, numa segunda fase, quais as vacinas disponíveis para a segunda dose", resumiu o servidor que hoje é diretor do Departamento de Tecnologia da Informação e Comunicação da Secretaria Municipal da Saúde.
Ao relatar como chegou ao modelo ideal do site, Felipe sempre usa o plural. Ele sabe que foi um trabalho de equipe que, aliás, começou bem antes da pandemia. Nascido em Ermelino Matarazzo, na zona leste, o servidor estudou em escola pública e trabalhou nove anos no McDonald's até conseguir juntar dinheiro e pagar uma faculdade privada.
"Comecei fazendo sanduíche e depois virei gerente. Até hoje sei o tempo exato para fritar as tortinhas doces, que depois devem descansar antes de serem entregues para não queimar a boca dos clientes. Esse emprego me ajudou a bancar o curso de TI. Quando não era suficiente, meus pais completavam o valor."
Um ano depois de entrar para a faculdade, Felipe passou em um concurso na Prefeitura, em 2004, e foi alocado no setor administrativo do Hospital Tide Setúbal, em São Miguel Paulista, também na zona leste. A unidade é velha conhecida da família - a mãe Jucelina, de 68, trabalhou lá e sempre o levou em consultas médicas no equipamento.
"É um local simbólico, está no coração da gente. Passei 11 anos lá, e foi quando peguei gosto pela gestão hospitalar. Começamos a usar as ferramentas do Google para organizar todos os pacientes da unidade. Planilhas compartilhadas com funcionários de diversas áreas mostravam o total de internados, o tempo da internação e o motivo. Foi um trabalho que me deu orgulho. A partir dele otimizamos o espaço e os leitos passaram a ter mais rotatividade."
A gestão compartilhada dos projetos é a marca de Felipe na secretaria. O site De olho na Fila só deu certo porque funcionários de cada posto de saúde ou ponto de vacinação aderiram ao projeto e o alimentam a cada duas horas. "Sem os profissionais da ponta nada seria possível. São eles que informam ao sistema se tem fila, qual o tamanho dela e também quais as vacinas disponíveis naquele momento", relatou.
E, para não dar divergência, a espera foi padronizada. Filas pequenas, por exemplo, são aquelas que têm de 11 a 20 pessoas aguardando pela dose. Há marcações também por cores, para facilitar ainda mais o entendimento.
A ideia deu tão certo que em três dias o endereço do site (URL) atingiu 150 mil acessos. "E hoje já temos mais de 147, 7 milhões de cliques internos na página. Vejo gente na rua, no shopping usando. É uma gratificação para a gente", resume. O "nós" tem nomes e sobrenomes: além de Felipe, a equipe é composta por Giovani Franco, Leandro de Souza Zan, Lucas Henrique Barbosa e Dionatan Rodrigues Soares. Foram eles que tiraram o paulistano da fila.