Foram duas semanas de incerteza, angústia e desencontros. A advogada carioca Carla Rocha Freire, 39 anos, chegou a temer pela sua integridade, mas jamais se deixou levar pelo abatimento e a falta de esperança. Retida na cidade de Mandrem, na Índia, ficou trancada num quarto de hotel, mesmo depois de ter esgotado seu tempo de hospedagem. Graças ao dono do estabelecimento, recebia arroz e lentilha todos os dias – era sua única refeição. Sem a ajuda esperada do Itamaraty, a quem recorreu para ser resgatada, só conseguiu voltar ao Brasil, no domingo (5), graças a uma ação da OAB, que lhe ofereceu transporte terrestre e aéreo, via Roma.
“Foi uma luta. Muita solidão, insônia. Eu já me via em depressão. Chorava sem parar nos primeiros dias. Mas sempre tive fé de que tudo se resolveria e agora estou engajada em poder ajudar outros tantos brasileiros que estão na mesma situação pela qual eu passei. São 250 pessoas na Índia e uma galera que está presa no Everest, no Nepal”, contou Carla ao Terra.
Depois de um período na Tailândia, onde fez três cursos de thai massage, a turista brasileira desembarcou na Índia em 23 de fevereiro para aprofundar seus estudos de ioga e foi pega de surpresa com as medidas do governo local tão logo a pandemia da covid-19 se alastrou. Viveu dias de pavor notadamente a partir da segunda quinzena de março. Tudo, porém, terminou no domingo, quando chegou ao Rio.
Mandrem é um vilarejo com cerca de dez mil moradores no Estado de Goa. Por causa da propagação do novo coronavírus, o governo da Índia determinou o fechamento de várias estradas e houve bloqueios nos acessos a muitas cidades do país. Voos internacionais passaram a ser escassos nas últimas semanas, mesmo os que saem da capital, Nova Délhi. Em Mandrem, agências bancárias e caixas eletrônicos suspenderam suas atividades e Carla ficou sem dinheiro.
Para agravar o dilema, havia o risco de se expor ao coronavírus se fosse à rua para tentar comprar algo – o que seria difícil também, porque mercearias, padarias e mercados estão com as portas fechadas na cidade, até segunda ordem.
“Minha eterna gratidão ao dono do Hotel Parvati Studios, sr Jimmy, uma pessoa muito iluminada. Se não fosse ele, não sei o que seria de mim e de mais
dez hóspedes de outras nacionalidades que ele adotou por vários dias. A água estava sendo racionada e todos temíamos pelo dia seguinte. Também tenho de estender minha gratidão à OAB, fundamental nesse episódio, e à imprensa, que noticiou tudo isso.”