Último grupo da lista de trabalhadores exposta a um enfrentamento direto do coronavírus, os agentes e diretores funerários são os responsáveis pela remoção, preparação, apresentação às famílias e sepultamentos das vítimas. Nos últimos dias, eles estão sendo mais exigidos. Funerárias particulares já registram aumento na quantidade de óbitos da ordem de 10% a 20% nas últimas semanas.
O representante de um dos grandes serviços funerários de São Paulo, que realizava cerca de 20 sepultamentos por dia e atingiu a média de 30 nas últimas duas semanas, explicou que os números ainda são tímidos diante da percepção subjetiva dos profissionais do setor.
"O impacto maior que estamos vivendo ainda é a questão do medo. Muitos profissionais têm receio de contaminação, principalmente por causa da família", afirmou. "Já atuamos em um setor que sofre preconceito e discriminação. Agora, ainda convivemos de perto com a preocupação do contágio", disse.
Esse receio está presente na vestimenta do dia a dia. As luvas simples e uniformes comuns deram lugar a trajes especiais, completamente vedados, com máscaras para o rosto. Em alguns casos, até as luvas são duplas. Por baixo das antigas, os profissionais utilizam outras, cirúrgicas, para reforçar a precaução contra o contato. Álcool em gel se tornou ferramenta de trabalho.
Lourival Panhozzi, presidente do Sefesp (Sindicato das Empresas Funerárias do Estado de São Paulo), afirma que a alta é observada apenas em algumas regiões. Para ele, ainda não é uma realidade do mercado. "Esse impacto na nossa atividade ainda não é tão grande porque tivemos menos acidentes e menos cirurgias. A elevação do coronavírus acaba se equilibrando com a queda em outras ocorrências", afirmou.
Leonardo Martins, empresário do setor funerário no Rio de Janeiro, chama a atenção para o aumento dos casos de óbito por problemas respiratórios. "Como os testes demoram muito para chegar, vários casos de pneumonia grave, que estão aparecendo com frequência, podem ser de coronavírus."
A percepção de medo do setor privado é a mesma da esfera pública. Para os funcionários do Serviço Funerário Municipal de São Paulo, a pandemia do coronavírus se resume a uma sigla específica: D3.
Todos os casos confirmados ou suspeitos de morte pela doença, como pessoas acima de 60 anos com problemas respiratórios ou outras doenças preexistentes, como diabete, recebem essa letra e esse número no atestado do serviço que acompanha todas as etapas. A sigla prevê, por exemplo, velório de dez minutos, ao ar livre, com limite de até dez pessoas, e caixão lacrado.
Na manhã desta segunda-feira, 30, na funerária de Santana, na Zona Norte de São Paulo, esse ritual de um enterro às pressas se repetiu pelo menos três vezes em menos de uma hora.
Investimento
A Prefeitura de São Paulo anunciou nesta segunda o aumento da frota de veículos para traslado de corpos. O número passou de 36 para 56 automóveis para atender o serviço funerário municipal. Dez deles são destinados para corpos de vítimas ou suspeitas da covid-19.
O poder municipal também contratou mais coveiros. Dos 257 sepultadores dos quadros da Prefeitura, 60% foram afastados por pertencer ao grupo mais vulnerável ao coronavírus, aquele com 60 anos ou mais. Uma empresa privada vai fornecer 220 profissionais temporários.
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