Gestantes que o coronavírus levou deixaram gêmeos saudáveis

O Brasil é o país que mais perde grávidas e puérperas para o novo coronavírus, segundo estudo

15 jul 2020 - 05h12
(atualizado às 07h30)

SOROCABA - Duas gestantes próximas de dar à luz, um novo vírus, duas vidas ceifadas. Mas a história não termina assim. As duas estavam grávidas de gêmeos e deram à luz quatro bebês saudáveis. As mães, as paulistas Priscila e Larissa, entraram para uma triste estatística. O Brasil é o país que mais perde gestantes e puérperas para o novo coronavírus, segundo estudo publicada na International Journal of Gynecology and Obstetrics. Oito em cada dez mulheres nessas condições que morreram até agora no mundo pela pandemia eram brasileiras.

Brasil é o país que mais perde gestantes para o novo coronavírus
Brasil é o país que mais perde gestantes para o novo coronavírus
Foto: Pixabay

Ao mesmo tempo em que ainda chora a perda da esposa Priscila da Silva dos Santos, de 36 anos, o cabeleireiro Osvaldo Batista dos Santos Filho, de 38, morador de São Vicente, no litoral de São Paulo, encontra forças para cuidar dos bebês gêmeos que ela deixou. Priscila tinha completado a 34ª semana de gestação e começou a sentir dores que imaginou serem próprias da proximidade do parto. Internada no Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, ela acabou levada a uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com quadro de pneumonia, mas não resistiu. A gestante morreu no dia 15 de abril, vítima de covid-19. Os meninos João e Levi nasceram saudáveis.

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Osvaldo conta que, quando a deixou no hospital, Priscila se queixava de dores e indisposição, mas não havia suspeita de contaminação pelo novo coronavírus. "Naquele dia, eu a visitei às 16h e parecia que ela estava bem, mas depois ela mandou um áudio para a irmã dizendo que as coisas não estavam boas, que tinha feito exames e deu algo ruim no rim. Quando fizeram o parto de emergência, a saturação de oxigênio no sangue estava baixa. Depois do parto ela foi levada para a UTI e não saiu mais. O atestado de óbito falava em pneumonia e insuficiência respiratória decorrentes da covid-19", rememorou.

Conforme o cabeleireiro, os bebês passaram por exames e não tinham o vírus. "Eu e nosso outro filho de 12 anos não tivemos nenhum sintoma. Até cheguei a ir a um hospital para fazer o exame, mas fiquei meia hora e desisti, pois tinha muito paciente com coronavírus e fiquei com receio, por causa das crianças."

Osvaldo disse que a mulher era forte e saudável, não tinha comorbidades. Eles já tinham o menino Lucas, mas ela queria ter outro filho. "Depois que o Lucas nasceu, a gente decidiu esperar um pouco até ajeitar a vida. Assim que conseguimos comprar nossa casa, ela achou que estava na hora de engravidar. Precisava ver a alegria dela quando soube que seriam gêmeos", lembrou.

Com a morte da esposa, o cabeleireiro passou por momentos difíceis, mas encontrou apoio na solidariedade de vizinhos e conhecidos. "Graças a Deus e a eles não faltou nada em casa, pois ainda não consegui o auxílio maternidade." Nesta terça-feira, 14, ele voltou a trabalhar, atendendo clientes com hora marcada - o salão fica em Santos. "Minha mãe e minha cunhada cuidam dos bebês, que estão com três meses, enquanto eu trabalho, mas só faço meio período. Não foi isso o que a gente tinha planejado, mas não posso esmorecer. Estou fazendo o máximo para cuidar bem deles, que é o que a Priscila esperaria de mim."

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'Eles vão ouvir histórias e saber da mamãe que tiveram'

Morador de Macatuba, pequena cidade do interior de São Paulo, o inspetor técnico de qualidade Diego Rodrigues, de 24 anos, também teve a vida transformada quando sua esposa Larissa Blanco, 23 anos, grávida de gêmeos, foi diagnosticada com o novo coronavírus, no dia 12 de junho. A jovem gestante apresentou sintomas de gripe, mas só precisou ser internada no dia 26 daquele mês.

No dia seguinte à noite, ela foi transferida para um hospital particular de Botucatu e entrou em trabalho de parto. Em uma cesariana de emergência, nasceram com saúde, livres do vírus, os pequenos Guilherme e Gustavo, mas a mãe não resistiu. "Deus permitiu que ela deixasse dois anjinhos para eu cuidar, para me dar forças. Os dois pequenos vão precisar muito de mim e eles vão ouvir histórias e saber da mamãe que tiveram", disse.

Os médicos disseram que Larissa teve uma hemorragia e precisou de transfusão de sangue. Por causa da covid-19, o corpo não respondeu bem à necessidade de conter a hemorragia e ela sofreu uma parada cardíaca. Diego e Larissa se conheceram em 2019 durante uma festa surpresa de aniversário que amigos tinham preparado para ela. "Foi Deus que a colocou na minha vida, ela era muito querida por todos, era tratada como filha pelos meus pais", disse o jovem.

Logo veio a notícia de gravidez e, em seguida, de que Larissa teria gêmeos. "Quando ela me ligou e contou que eram dois coraçõezinhos batendo, foi aquela alegria". Com a gravidez adiantada, o casal decidiu fazer um ensaio fotográfico. As fotos, guardadas com carinho, agora confortam o pai dos gêmeos e logo serão mostradas aos pequenos Guilherme e Gustavo. "Ela sempre vai estar em nossos corações e vamos guardar sempre o sorriso dela." As crianças, que tiveram alta hospitalar no dia, voltaram para casa, em Macatuba, nos braços do pai.

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No último dia 9, o palmeirense Diego foi surpreendido com a chegada à sua casa dos mascotes Periquito e Porco do Palmeiras. Durante a visita surpresa, o pai e os gêmeos foram agraciados com homenagens e presentes. O jovem recebeu um título de sócio do clube por um ano e um vídeo gravado pelo atacante Willian Bigode. Dias antes, fotos de Diego e dos gêmeos vestindo camisa e boné do Palmeiras, divulgadas em redes sociais, tinham chegado até os mascotes palmeirenses. Segundo o jovem, seu pai é palmeirense roxo e fez questão que os netinhos saíssem da maternidade com a homenagem ao time do coração. Os presentes, agora, enfeitam o quarto dos pequenos torcedores.

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