Gestores de SP não veem mudança com saída de Mandetta

Entorno do governador João Doria avalia que não depende tanto da União, pois já recebeu verba federal e Supremo decidiu a favor dos Estados na questão do isolamento

17 abr 2020 - 05h11
(atualizado às 07h28)

Embora as declarações oficias sejam de lamento com a demissão do ministro Luiz Henrique Mandetta, a avaliação dos gestores da saúde de São Paulo é de que a troca de ministro tem pouco a alterar ou atrapalhar a forma como a pandemia vem sendo combatida. Mesmo que o presidente Jair Bolsonaro mude os rumos do enfrentamento da doença, já há travas para ações que possam colocar em risco a saúde pública.

Governador João Doria (PSDB) em coletiva no Palácio dos Bandeirantes
Governador João Doria (PSDB) em coletiva no Palácio dos Bandeirantes
Foto: Governo do Estado de SP/Divulgação / Estadão Conteúdo

"O perigo é o vírus, não é mais Brasília", disse ao Estado uma das pessoas do primeiro escalão técnico do Centro de Contingência do Covid-19 de São Paulo. O entendimento é que os recursos financeiros da União que o Estado precisava para enfrentar a doença já foram transferidos, e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que reafirmou, nesta quarta-feira, 15, a autonomia para estados e municípios definirem as polícias de Saúde, já serve como barreira para eventuais ataques à política de isolamento social, pivô dos atritos entre Mandetta e o presidente Jair Bolsonaro e pilar da estratégia de enfrentamento da covid-19 entre os paulistas.

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A troca de nomes no ministério ocorreu enquanto o secretário da Saúde paulista, José Henrique Germann, fazia uma entrevista coletiva em que atualizava o número de mortes no Estado (853, mais 75 em reação à quarta-feira). Terminada a coletiva, questionado sobre a escolha do oncologista Nelson Teich, disse ao Estado: "Não o conheço". Na sequência, completou: "E olha que estou aqui (na Saúde) há 30 anos.".

Germann já havia dito que lamentava a saída de Mandetta e de sua equipe, destacando que o então secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, "conhecia muito" o Sistema Único de Saúde (SUS). Isso facilitava o diálogo porque os gargalos eram identificados em conjunto e ambas as equipes tinham conhecimento das ferramentas para resolvê-los. As duas equipes tinham uma reunião mensal. "Estrategicamente, não é interessante" a troca, afirmou.

Agora, entretanto, com hospitais de campanha já viabilizados, a chegada de centenas de milhares de testes para diagnóstico da doença e a garantia jurídica de que o Estado define se poderá aumentar ou não a quarentena, haveria pouco espaço para manobra. O enfrentamento "já pegou embalo", segundo uma dessas pessoas.

O governador João Doria (PSDB), que desde o início da crise detectou na postura de Bolsonaro diante da doença mais uma oportunidade de se diferenciar do presidente, com quem troca farpas semanalmente, chegou a dizer na quarta-feira que a saída de Mandetta era "um desastre". Nesta quinta, ao ter a confirmação da troca, publicou em suas redes que a saída "é uma perda para o Brasil". Sobre Nelson Teich, disse esperar que "siga os procedimentos técnicos e atenda às recomendações da OMS".

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