Pegos de surpresa pelo anúncio do presidente Jair Bolsonaro de que o governo federal não irá adquirir a vacina CoronaVac, da chinesa Sinovac e que está sendo testada e será produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, governadores reagiram e já falam em apelar ao Congresso e eventualmente à Justiça para garantir acesso à vacina uma vez que ela esteja aprovada.
Em conversa com a Reuters, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), explicou que os governadores apelarão inicialmente ao Congresso, mas podem ir à Justiça para garantir acesso a todas as vacinas registradas no país.
"A indignação é geral", disse o governador.
O acordo para compra de 46 milhões de doses da CoronaVac pelo Ministério da Saúde após obtenção de registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi anunciado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na tarde de terça-feira em uma reunião com governadores, assim como a intenção de incluí-la no Programa Nacional de Imunizações.
Em seguida, em uma nota, o próprio ministério anunciou o protocolo de intenções para aquisição a futura edição de uma Medida Provisória com crédito extraordinário de 1,9 bilhão de reais para a compra.
Nesta quarta, o secretário-executivo do Ministério, Élcio Franco, leu uma nota do ministério, depois distribuída à imprensa, negando que haja um compromisso de compra da CoronaVac e afirmando que o protocolo assinado não seria "vinculante".
"Essa nota agride o próprio ministro da Saúde, todos os governadores e a verdade do que aconteceu. Uma nota indecente", afirmou Dino.
Na terça, vários governadores que participaram da reunião com Pazuello usaram as redes sociais para comemorar a intenção do governo de facilitar o acesso às vacinas, que seriam distribuídas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Nesta quarta, depois do presidente negar o acordo a seus seguidores em uma rede social, a reação foi outra. Vários governadores reagiram com críticas à postura de Bolsonaro.
"Que o governo federal guie suas decisões sobre a vacina da Covid por critérios unicamente técnicos. Não se pode jamais colocar posições ideológicas acima da preservação de vidas", escreveu o governador do Ceará, Camilo Santana (PT).
Também em suas redes, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), cobrou que a decisão sobre a inclusão da vacina no programa nacional seja técnica, e não política.
"Temos renomadas instituições trabalhando sobre esse assunto e o que deve ser observado é a condição de segurança, a viabilidade técnica e também a agilidade de disponibilizar essa vacina para imunizar a população. Ou seja, sem análises políticas.", disse Leite.
O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), também presente na reunião com os governadores, reafirmou que o compromisso assumido pelo ministério com os governadores foi de comprar as vacinas produzidas no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz e pelo Instituto Butantan. "A saúde do povo tem que estar em primeiro lugar!", afirmou.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), afirmou que adquirir as primeiras vacinas que estiverem à disposição deve ser a meta primordial. "Nesse contexto não há espaço para discussão sobre assuntos eleitorais ou ideológicos", disse.