O aumento simultâneo de casos da gripe e da covid-19 no Brasil nos últimos dias e a baixa testagem geraram um cenário epidemiológico desconhecido no País. As duas doenças apresentam sintomas respiratórios bastante semelhantes. Por isso, em meio ao cenário atual, é normal que pacientes tenham incertezas sobre qual quadro apresentam.
O melhor caminho para descobrir qual vírus gerou a infecção é a testagem, segundo especialistas. O diagnóstico é essencial, principalmente para os grupos de risco, como gestantes e idosos - que se repetem para o coronavírus e para o influenza. A vacinação, o uso de máscara e o distanciamento social são as principais medidas preventivas.
"A covid normalmente é uma doença evolutiva. É uma doença que tende a progredir até o final da primeira semana", diz o infectologista Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). "A gripe (causada pelo influenza) normalmente já começa grave."
Apesar de ser um vírus endêmico há décadas, a gripe também pode causar quadros graves e mortes. Por isso, os pacientes devem estar atentos aos sintomas e procurar ajuda médica caso necessário.
Quais sintomas as duas doenças apresentam?
Na infecção "clássica" pelo influenza, logo no primeiro dia o paciente já apresenta muita dor no corpo, dor de cabeça, dor de garganta, febre, calafrio ou sensação febril. Normalmente, tosse com expectoração aparece em 24 horas, e o quadro segue assim por cerca de dois ou três dias.
Sintomas nas vias aéreas superiores, como coriza, tosse e espirros, mesmo podendo aparecer nas infecções causadas pelos dois vírus, são mais frequentes em pacientes infectados pelo influenza. Já a covid-19 costuma se apresentar com sintomas semelhantes, mas com uma intensidade menor. Além dos sintomas gripais clássicos, o paciente também pode ter problemas estomacais e diarreia, além da perda de olfato e paladar.
Quando buscar uma unidade básica de saúde?
A apresentação de pelo menos dois sintomas gripais (febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza e distúrbios no olfato ou no paladar) por mais de 24 horas já caracteriza uma síndrome respiratória aguda e justifica a ida em uma unidade básica de saúde.
A recomendação é que as pessoas que tenham acesso à telemedicina realizem as consultas online para evitar a exposição e a sobrecarga das unidades hospitalares. "Se você tem um quadro respiratório hoje, frente à pandemia, frente ao surto de influenza, o ideal é conversar com seu médico", diz Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
Além dos sintomas comuns, os pacientes também precisam estar atentos a sintomas mais graves para ambas as doenças, como falta de ar, cansaço, febre alta e difícil de controlar, além de dor intensa no corpo. Otsuka destaca que pacientes da covid, com queda de saturação de oxigênio no sangue, por vezes não "aparentam tanto falta de ar". Por isso, o monitoramento com um oxímetro é importante. Marcações abaixo de 95 são preocupantes.
Para pessoas dos grupos de risco, a apresentação de sintomas, mesmo que leves, exige a busca de atendimento médico para avaliação do quadro.
Como e onde realizar o diagnóstico da doença?
Devido às semelhanças entre as duas doenças, o melhor caminho para diagnosticar o vírus é a testagem. Os testes estão disponíveis na rede de saúde pública e particular, incluindo farmácias.
Há dois tipos de testes mais utilizados: o RT-PCR, considerado o mais seguro, e o antígeno, que tem como vantagem o resultado praticamente imediato. Em São Paulo, por exemplo, a secretaria municipal de saúde anunciou uma campanha de testagem rápida para aumentar a velocidade do diagnóstico dos pacientes que apresentam sintomas gripais
Qual teste é mais adequado e seguro para detectar as doenças?
O teste RT-PCR é considerado o "padrão ouro" para a identificação dos vírus. Ele está disponível na rede de saúde pública e particular, incluindo farmácias. As amostras coletadas podem ser analisadas para vários tipos de vírus ao mesmo tempo.
No Brasil, esse tipo de análise é normalmente feito atualmente em laboratório privado. A rede pública prioriza o diagnóstico de covid-19. Entretanto, com o aumento de casos das duas doenças, algumas secretarias de saúde estão alterando a estratégia para identificar os casos de covid-19 e os de influenza.
Os dois vírus também podem ser identificados através do teste de antígeno, que tem o resultado imediato. Em São Paulo, a secretaria municipal de saúde iniciou nesta quarta-feira a realização de 300 mil testes rápidos de antígeno nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) para identificar os casos positivos de Covid-19. O objetivo, segundo a secretaria, é fazer um levantamento da proporção dos casos de influenza e de Covid-19 entre os sintomáticos respiratórios da cidade. As UBS também realizam o teste de influenza.
Segundo a secretaria, a orientação para os pacientes é realizar o teste rápido e, em caso negativo para a covid, realizar o teste rápido para influenza, causador da gripe. Caso o teste rápido seja positivo para a covid-19, o RT-PCR é coletado e posteriormente encaminhado ao Instituto Butantan para a identificação da variante.
Como se prevenir das doenças?
As medidas de prevenção da gripe e da covid são as mesmas. É recomendado o uso de máscara, distanciamento físico e higienizar as mãos são maneiras de se proteger das doenças.
Privilegiar e incentivar a ventilação natural em ambientes fechados e a higiene adequada das mãos são outras medidas que servem de cuidados contra a gripe e a covid-19. Os infectologistas também indicam que a população busque a vacinação para ambas doenças.
Qual o tratamento adequado para as doenças?
Hoje, há medicamentos autorizados tanto para a covid-19 quanto para a gripe que podem aliviar os sintomas. Para a gripe, em específico, o Brasil costuma usar o tratamento antiviral Tamiflu, que deve ser instituído rapidamente até o segundo dia e, em alguns casos, até o quinto.
Já para a covid-19, estão autorizados o uso de medicamentos monuclonais, que agem sobre a proteína do vírus. Os antivirais ainda não estão disponíveis no Brasil. Mas as recomendações principais para o tratamento são: repouso e hidratação. /COLABOROU LEON FERRARI