O ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu na noite desta terça-feira ter usado uma "imagem infeliz" mais cedo quando disse que o coronavírus havia sido inventado pela China e que a vacina do país asiático seria menos efetiva que a dos Estados Unidos, ao procurar desfazer "mal entendido" sobre suas declarações.
Pela manhã, Guedes teceu comentários críticos à China durante reunião do Conselho de Saúde Complementar, na qual também estava presente o chefe da pasta da Saúde, Marcelo Queiroga. "O chinês inventou o vírus, e a vacina dele é menos efetiva do que a do americano", afirmou.
Após saber que o vídeo estava sendo gravado, Guedes disse: "Só não manda para o ar, por favor." A transmissão do evento fora feita pelas redes sociais do Ministério da Saúde, mas após o término da reunião o vídeo não estava mais disponível.
Guedes falava sobre a relevância do investimento privado para o avanço de tecnologias em países desenvolvidos e chegou a citar como exemplo a vitória de Estados Unidos e Reino Unido na Segunda Guerra Mundial, que, segundo ele, ocorreu pela força do setor industrial de ambos.
Em entrevista na noite desta terça, em que falou sobre a troca de integrantes da Economia, Guedes aproveitou para tentar explicar suas declarações de mais cedo sobre a China. Segundo ele, ao ter dito que o vírus foi inventado na China, quis ressaltar a região de onde acredita-se que surgiu o coronavírus, e que pretendia com isso enfatizar a resposta da iniciativa privada dos Estados Unidos ao ter produzido uma vacina eficiente contra Covid-19.
"Quis dar a importância ao setor privado de como consegue produzir respostas. Então mesmo um vírus desconhecido que veio de fora, eles conseguiram fazer uma vacina que parece mais eficaz ainda do que a da própria região que saiu o vírus. Foi só essa imagem que eu quis usar", disse.
"Nós somos muito gratos à China por ter nos enviado vacina. Eu tomei a CoronaVac, tomei a primeira dose 30 dias atrás e a segunda dose neste domingo, então eu não vou falar mal da vacina", completou.
Na entrevista, o ministro da Economia disse que suas declarações não tinham "nenhum objetivo" e que o próprio presidente Jair Bolsonaro comunicou-o de que o ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, iria entrar em contato com autoridades chinesas para desfazer o que chamou de "mal entendido".
Após as declarações do ministro da Economia, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, usou seu Twitter para destacar a relação entre os dois país no enfrentamento à pandemia.
"Até o momento, a China é o principal fornecedor das vacinas e os insumos ao Brasil, que respondem por 95% do total recebido pelo Brasil e são suficientes para cobrir 60% dos grupos prioritários na fase emergencial. A CoronaVac representa 84% das vacinas aplicadas no Brasil", disse.
Críticas de integrantes do governo e de pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro à China causaram mal-estar no ano passado. O país asiático --maior parceiro comercial do Brasil-- é fornecedor do insumo farmacêutico ativo (IFA) da CoronaVac, vacina do laboratório chinês Sinovac, e da vacina da AstraZeneca com a Universidade de Oxford -- os dois únicos imunizantes que estão sendo aplicados no Brasil atualmente.