"Há briga por papel higiênico", diz brasileiro na Austrália

“Nossa equipe está aqui para ajudar, não se machucar”, diz aviso de um supermercado que passou a limitar itens por cliente após coronavírus

20 mar 2020 - 07h27
(atualizado às 08h00)

“Tolerância zero. Comportamentos agressivos e abusivos não serão tolerados. Nossa equipe está aqui para ajudar e não para se machucar”, diz o aviso da Woolworths, uma das maiores redes de supermercado da Austrália.

O recado chama a atenção na prateleira vazia. “É bem possível que algumas pessoas tenham brigado por causa de papel higiênico. Eu não vi, mas ouvi no rádio que estavam acontecendo casos assim”, conta Vitor Sachini, que deixou São Paulo há dois anos para fazer intercâmbio em Gold Coast, no estado de Queensland.

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Foto: Vitor Sachini / Arquivo pessoal

A reação “absurda” é reflexo da insegurança e tensão da população diante da pandemia do novo coronavírus, que fez o povo australiano correr para o mercado e estocar produtos. “Tem bastante gente com medo, principalmente de ficar sem comida. Pelo que vejo nos mercados, tudo está acabando”.

Um dos primeiros itens a fazer falta foi o papel higiênico, mas logo outros produtos de higiene também passaram a sumir das lojas. “Trabalho limpando imóveis em um dos meus empregos e, no começo do mês, já notava dificuldade para encontrar luvas, máscaras, produtos de limpeza e álcool em gel”, relata. Hoje, a situação é ainda mais problemática. "Não acho em lugar nenhum".

A escassez também atingiu os alimentos. “Acabou o macarrão. A parte de carnes no mercado está completamente vazia”, diz, mostrando fotos dos locais onde costuma fazer compras e que agora estão praticamente sem nenhum produto.

Medidas para evitar estocagem

Para minimizar a crise, as lojas estão começando a limitar a quantidade de um mesmo item por consumidor. Na rede de supermercado Coles, o aviso diz: “Por conta da alta demanda por ovos, nós estamos limitando temporariamente 2 itens por transação. Essa medida vai nos ajudar a manter a disponibilidade para todos os nossos clientes. Agradecemos sua paciência e nos desculpamos por qualquer inconveniência causada”.

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Aviso diz: “Por conta da alta demanda por ovos, nós estamos limitando temporariamente 2 itens por transação. Essa medida vai nos ajudar a manter a disponibilidade para todos os nossos clientes. Agradecemos sua paciência e nos desculpamos por qualquer inconveniência causada”
Foto: Vitor Sachini / Arquivo pessoal

Outra medida que está sendo tomada é a abertura desses espaços em horários diferenciados para idosos e pessoas com necessidades especiais. Alguns estabelecimentos permitem que apenas esse grupo faça suas compras em certos períodos - geralmente na parte da manhã -, para que todos tenham chance de abastecer suas casas.

Situação geral 

O primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus na Austrália foi registrado no fim de janeiro. Atualmente, a covid-19, como é chamada a doença causada pelo vírus, afetou 565 pessoas no país, que tem pouco mais de 25 milhões de habitantes, sendo que 6 foram a óbito, de acordo com as informações atualizadas no dia 19 de março. 

Os números parecem menos alarmantes quando comparados a outras nações como China e Itália, mas, ainda assim, os australianos estão levando medidas de prevenção a sério. “Não há nenhuma ordem oficial de quarentena até agora e nem deve ter, segundo a fala do primeiro-ministro [Scott Morrison]. Mas as pessoas passaram a evitar shoppings e restaurantes e quem pode fazer home office está fazendo”.

Até o momento, pessoas que chegavam de outros países eram obrigadas a ficarem isoladas por duas semanas, sob multa e prisão dependendo do estado. Contudo, na quinta-feira, 19, o governo australiano anunciou que as fronteiras estão fechadas para estrangeiros e não-residentes pelos próximos dias.

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Outras medidas de segurança também estão sendo tomadas, como a testagem de pacientes antes de entrarem em algum estabelecimento. “Trabalho limpando duas clínicas de radiografia. Agora, para poderem entrar lá, os pacientes devem passar por uma avaliação para ver se estão ou não com sintomas. Além disso, uma faixa de 1,5 metro foi colocada em frente à recepção, e o cliente não pode ultrapassá-la”.

Clínica de radiografia pede que os clientes sejam avaliados antes de entrarem
Foto: Vitor Sachini / Arquivo pessoal

Apesar de ter a situação controlada, Vitor conta que muitos brasileiros estão sentindo com o fechamento de empregos e diminuição de escalas de trabalhos, principalmente nas áreas de eventos e hotelaria, onde, geralmente, estudantes estrangeiros como ele conseguem oportunidade de trabalho.

Ainda assim, o brasileiro confia que a pandemia deve ser superada. “O governo estima que em seis meses tudo vai voltar a ficar bem. Acho que, ainda mais agora com as fronteiras fechadas, a situação deve melhorar”, finaliza esperançoso.

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Fonte: Redação Terra
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