Imunidade de rebanho para covid-19 é 'falácia', diz pesquisa

Carta aberta sobre pandemia foi publicada em revista científica

15 out 2020 - 12h14
(atualizado às 12h34)

A ideia de criar uma imunidade de rebanho para controlar a pandemia do coronavírus é uma "falácia perigosa", apontam um grupo de 80 cientistas em uma carta aberta publicada na revista científica "The Lancet" nesta quarta-feira (14).

Imagem de computador criada pelo Nexu Science Communication e Trinity College em Dublin mostra representação estrutural de um betacoronavirus que é o tipo de vírus ligado à Covid-19
18/02/2020
NEXU Science Communication/via REUTERS
Imagem de computador criada pelo Nexu Science Communication e Trinity College em Dublin mostra representação estrutural de um betacoronavirus que é o tipo de vírus ligado à Covid-19 18/02/2020 NEXU Science Communication/via REUTERS
Foto: Reuters

Os especialistas afirmam que o método "não tem apoio de nenhuma evidência científica" e que é extremamente "custoso" em termos de perdas de vida humana e de quebra econômica, além de não arrefecer a Covid-19, que continuaria voltando em novos ciclos, representando "um sério risco para as populações vulneráveis".

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Para eles, a melhor forma de proteger a sociedade e a economia é adotando medidas de controle e de restrição até que um tratamento ou uma vacina sejam aprovados. Até porque, cada vez mais, os especialistas acreditam que o Sars-CoV-2 deixa uma imunidade pós-infecção de poucos meses e consideram que o risco de reinfecção "não é algo remoto".

Além disso, a constante transmissão em pessoas mais jovens apresenta um risco de mortalidade não apenas para os grupos de risco, mas para a sociedade em geral. Por isso, "servem com urgência medidas eficazes de controle da transmissão do vírus, alinhadas com programas sociais e econômicos para ajudar os mais vulneráveis e para combater as desigualdades amplificadas pela pandemia".

"A proteção de nossas economias está intimamente ligada ao controle da Covid-19. Devemos proteger nossa força de trabalho e evitar incertezas de longo prazo", acrescentam.

O documento, que será apresentado no 16º Congresso Mundial de Saúde Pública, foi assinado por especialistas do Reino Unido, Alemanha, Itália e Estados Unidos, e pontuou ainda algumas das ações adotadas ao redor do mundo para contar a pandemia, destacando que os lockdowns implantados por inúmeros países no início dos casos foi fundamental para poupar milhares de vidas e para diminuir a mortalidade, "protegendo os serviços de saúde".

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Reconhecendo que o isolamento também acabou tendo como uma das reações adversas um impacto na saúde mental e física das pessoas, os cientistas alertam para os novos desafios com a segunda onda de casos que vem sendo registrada na Europa.

"Isso, compreensivelmente, levou à desmoralização generalizada e à diminuição da confiança. A chegada de um segunda onda e a compreensão dos desafios à frente levaram a um interesse renovado na chamada imunidade de rebanho, o que sugere permitir um grande surto não controlado na população de baixo risco enquanto se protege os vulneráveis. Isso é uma falácia perigosa", afirmam.

A imunidade de rebanho foi defendida por alguns países, como no caso da Suécia, que apostou na iniciativa, mas reconheceu que "houve mortes em excesso", e foi defendida publicamente pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. .

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