A pandemia de coronavírus está impactando a vida de milhares de estudantes brasileiros que vivem no exterior. Com escolas e universidades fechadas, muitos intercambistas estão interrompendo seus cursos e retornando ao país.
Segundo a Aiesec, organização de estudantes que promove intercâmbios e trabalhos voluntários ao redor do mundo, 70% dos 244 jovens que estavam fazendo intercâmbios de curta duração no exterior já retornaram ao país. A instituição também cancelou todas as viagens programadas até o dia 1º de junho.
O programa de intercâmbio do Santander Universidades, que oferece bolsas em Portugal e na Espanha, divulgou que cerca de 50 estudantes já voltaram ao país e outros 54 devem voltar nos próximos dias. De acordo com a empresa, todos os benefícios serão mantidos e os bolsistas não precisarão devolver os valores.
Já na agência de intercâmbios STB, todos os alunos que estavam no exterior foram orientados a seguir as recomendações do governo local. A empresa também sugeriu o adiamento e a remarcação gratuita dos intercâmbios que já estavam agendados.
Uma das estudantes que precisou interromper o curso foi a engenheira civil Julia Mangano, 24, que estava estudando inglês em San Diego, na Califórnia. Uma semana após chegar na cidade, a escola foi fechada e a cidade entrou em estado de emergência para o coronavírus. Após muitas tentativas e voos cancelados, ela conseguiu comprar uma passagem de volta para São Paulo.
“Os mercados estavam ficando vazios e não tinha mais ninguém nas ruas. Não faria sentido eu ficar em San Diego trancada no quarto, perdendo oportunidade de estudar e ter contato com pessoas de outras culturas”, relata.
Aulas online
Com o fechamento dos campi, muitas universidades têm substituído as aulas presenciais pela modalidade à distância. Na STB, os estudantes poderão finalizar os cursos online ou adquirir um crédito para retornar e terminar os estudos no futuro.
Segundo Rui Pimenta, diretor da agência, a recomendação é que os alunos não abandonem os cursos. “Muitas escolas e universidades parceiras mantiveram as suas atividades online e nossa orientação é que os estudantes que já estavam no exterior terminem o programa de maneira remota, quando possível”, explica.
É o caso da estudante Laura Carneiro, 24, que faz mestrado em uma universidade irlandesa. Após a suspensão das aulas presenciais e a decretação da quarentena, ela decidiu voltar para Curitiba. “A universidade e os professores estão oferecendo todo o apoio necessário para que continuemos nossos estudos. Consigo acessar a biblioteca pela internet e seguir com a minha pesquisa daqui enquanto a situação não se normaliza”, explica.
A estudante Thaís Barbieri, 22, também optou por voltar da Holanda quando a situação se agravou e a universidade fechou as portas. Ela estava fazendo um intercâmbio de seis meses na cidade de Maastricht, com bolsa da Universidade de São Paulo (USP), e conseguiu embarcar no mesmo dia em que a União Europeia anunciou o fechamento de suas fronteiras, na terça-feira (17). Agora, ela irá terminar o semestre com aulas online.
“Decidi voltar porque vi muitos intercambistas do prédio onde eu morava indo embora, e descobri que o seguro viagem não cobria pandemias e epidemias. Também percebi que, se eu demorasse muito, talvez não conseguisse mais sair”, conta.
Já a estudante Rafaela Malechesk, 22, viajava com uma amiga pela Eslováquia quando as fronteiras do país foram fechadas. Ela precisou pedir ajuda à embaixada brasileira para atravessar a fronteira com a Áustria a pé e retornar para a Milão, na Itália, onde também estava estudando com uma bolsa da USP.
Rafaela decidiu, então, voltar ao Brasil, e precisou pegar um trem até Zurique, na Suíça, para conseguir sair da Europa, já que a Itália havia fechado parcialmente as fronteiras. “Meu medo era acabar ficando presa em algum país sem conhecer ninguém e sem recursos financeiros para me manter, por isso decidi voltar”, explica. Ela também pretende continuar a frequentar as aulas pela internet.
Segundo a assessoria da USP, os alunos e os docentes que se encontram no exterior com bolsas poderão retornar ao país sem a necessidade de devolução integral dos valores, e todas as viagens acadêmicas previstas serão canceladas.
Pesquisa no exterior
A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), instituição federal que conta com 3.300 bolsistas em 37 países, também autorizou os pesquisadores a retornar ao Brasil sem custo e suspendeu a viagem de novos estudantes.
O órgão havia anunciado, na quarta-feira (18), que poderia cortar bolsas de estudantes que estivessem no exterior e não retornassem ao país. No entanto, a instituição recuou da medida após reportagem do jornal Folha de S.Paulo. Em comunicado publicado em seu site, a Capes afirma que “todos os estudantes e pesquisadores que recebem bolsas de estudo da Capes no exterior estão com os benefícios garantidos”.