Isolamento mais rígido em Curitiba salvou 1,5 mil vidas

Grupo de especialistas alerta para efeitos do afrouxamento das regras promovido desde 5 de abril. Capital paranaense ainda tem 96% de ocupação de UTIs

14 abr 2021 - 10h10
(atualizado às 10h16)

O mesmo grupo de cientistas que previu o aumento de mortes por covid-19 em Curitiba, no início de março, divulgou novo artigo mostrando que a adoção de isolamento social mais rígido após o alerta, entre os dias 13 de março e 4 de abril, reduziu a média de óbitos e ajudou a salvar pelo menos 1.500 vidas.

O documento, que também foi encaminhado às autoridades locais, aponta que apesar de positivas as medidas ainda não foram suficientes para frear uma nova onda de contágio, podendo ocorrer novo aumento de casos em maio com o afrouxamento das regras que valem desde 5 de abril.

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Prefeito de Curitiba, Rafael Greca. Cidade afrouxou regras de restrição no início de abril
Prefeito de Curitiba, Rafael Greca. Cidade afrouxou regras de restrição no início de abril
Foto: Rodrigo Fonseca/CMC/Divulgação / Estadão

Em quatro semanas, três em lockdown, com comércio e outras atividades não essenciais suspensas, a média de novos casos caiu pela metade e as mortes reduziram 16,6%. A média móvel de óbitos nos últimos sete dias está em 31 casos diários.

Em março, a pandemia lotou as UTIs da capital paranaense e o número de mortes e infectados teve um salto. Os registros de óbitos saltaram de 62 mortes na última semana de janeiro para 258 entre 14 e 20 de março.

Após experimentar alívio na fila por leitos de internação e uma redução significativa de sepultamentos, a prefeitura decidiu afrouxar as regras de isolamento a partir de 5 de abril, o que, segundo os especialistas, pode atrapalhar os indicadores positivos.

"No início de março, nós prevemos que Curitiba teria uma terceira onda com número de mortes até quatro vezes maior que em 2020. Para isso, indicamos um período de isolamento de 90% da população, mas o isolamento ficou em torno de 40%, chegando a 60%. Os resultados são positivos, mas seria necessário um período maior de restrições para frear totalmente a terceira onda", explica o pesquisador Lucas Ferrante, doutorando pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e um dos autores do estudo.

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Segundo os pesquisadores, os níveis de isolamento não foram suficientes para frear a onda do contágio. No início de março, os estudos apontavam que Curitiba chegaria a média de cem mortes diárias até o fim daquele mês. Com a nova previsão, após o isolamento, a taxa de óbitos diários para o mês de abril deve permanecer em uma média de 35 óbitos (máxima de até 50 óbitos), tendo a terceira onda um recrudescimento a partir do mês de maio.

"Embora a contenção apresentada seja positiva, as taxas de óbitos diários que ainda se projetam para Curitiba são inaceitáveis, podendo ser ainda minimizadas com a manutenção das medidas restritivas que têm um resultado", emendou Ferrante.

Na segunda nota técnica, os pesquisadores, que são das áreas de de matemática, estatística, infectologia, imunologia e biologia, utilizaram um modelo SEIRS2 (Susceptíveis - Expostos - Infectados - Recuperados e novamente Susceptíveis), em que se considera a mobilidade urbana para o cálculo do nível de isolamento social para toda a população de Curitiba, levando em consideração também dados da vacinação até o dia 3 de abril.

Estima-se que mesmo não atingindo o patamar recomendado, o isolamento social implementado evitou pelo menos 1500 mortes para a cidade de Curitiba.

O estudo também aponta que ainda há grande circulação da variante P1, com origem na região amazônica, que tem um poder de contágio mais acelerado. Motivo pelo qual o grupo também mantém indicação de não retorno das aulas presenciais ou híbridas.

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Na rede pública, a suspensão das aulas segue por tempo indeterminado, segundo tem dito o prefeito Rafael Greca (DEM), pelo menos até que todos os professores sejam vacinados.

Segundo os pesquisadores, há evidências científicas que mostram que a segunda onda de Manaus foi potencializada pelo retorno às aulas o que, afirma Ferrante, originou a variante P1.

Apesar da redução de casos e óbitos, a ocupação das UTIs segue próximo da lotação máxima, com uma taxa de 96%. Até o momento foram contabilizadas 4.238 mortes na cidade provocadas pela doença neste período de pandemia. Curitiba tem 7.356 casos ativos na cidade, com potencial de transmissão do vírus.

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