O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avaliou nesta terça-feira que o presidente Jair Bolsonaro não teria apoio da sociedade para demitir um ministro popular como o da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
"Sensível" aos movimentos principalmente das redes sociais, na opinião de Maia, Bolsonaro já vinha acumulando divergências com Mandetta sobre a necessidade do isolamento social, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a disseminação do coronavírus. Mas deve ter se irritado com aparições do ministro - que tem acumulado bons índices de avaliação popular em pesquisas - durante show on line de dupla sertaneja no fim de semana.
"Eu o conheço (Bolsonaro) já há um ano, acho que ele não vai demitir um ministro popular. Ele vai enquadrar, não é enquadrar, ele vai organizar a relação dele, vai construir um discurso com o Mandetta, vai manter o Mandetta, não tenho dúvida nenhuma disso", disse Maia em transmissão ao vivo sobre orçamento e saúde fiscal promovido pela Necton.
"O presidente trabalha muito com popularidade. Popularidade de rede social. É assim na relação dele com o (ministro da Justiça, Sergio) Moro, tem sido agora na relação dele com o Mandetta. E sempre usando essa estrutura paralela para tentar desqualificar o que ele considera... vamos dizer assim, inimigo dele, que pode ser um adversário dele", afirmou Maia, ao relatar conversa com pessoas do entorno do ministro em que o deputado disse ter certeza que o titular da Saúde não seria demitido.
"E disse mais: 'Diga ao Mandetta que a grande raiva do presidente, quando eu vi aquele show do Jorge e Mateus, e o Mandetta entrando a cada meia hora, eu falei, agora que o presidente não vai gostar'", disse o presidente da Câmara.
"Mas ele não tinha condições, acho que ontem, ele sabe disso, os mais próximos devem ter falado a ele, de trocar o ministro neste momento. Seria uma situação, não estou dizendo no Parlamento, não, eu acho que na sociedade", avaliou, acrescentando que Mandetta conquistou "confiança" e por isso tem boa avaliação popular.
Na segunda-feira, após forte especulação sobre eventual demissão de Mandetta, Bolsonaro decidiu manter o chefe da pasta depois de reunião ministerial convocada às pressas. O próprio ministro confirmou, posteriormente, sua permanência em pronunciamento feito no Ministério da Saúde.
Maia criticou ainda publicação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, no Twitter no fim de semana, na qual ele ridicularizou o sotaque de chineses falando português. No post com imagem da capa de um gibi da Turma da Mônica sobre o país asiático, o ministro escreve imitando a fala do personagem Cebolinha, que troca a letra R pela letra L, e ironiza os chineses.
A publicação gerou reação da embaixada da China no Brasil, que na segunda-feira divulgou nota na mesma rede social em que afirma repudiar e classifica de "racista" a publicação do ministro.
"Eu fico pensando, o que faz um ministro pegar... e usar a Turma da Mônica --depois o Maurício de Souza já reclamou-- para tentar desqualificar a China? O que ele ganha com isso? É uma besteira, isso é um erro. Esse vírus podia ter começado em qualquer lugar do mundo. A China é um ator importante econômico na relação com o Brasil, na relação com o mundo, está mais do que provado."
O presidente da Câmara alertou ainda para o risco de se adiar as eleições municipais deste ano, lembrando que as únicas ocasiões em que não houve pleito ocorreram durante ditaduras.
Maia aproveitou para defender o papel do Estado na indução da recuperação econômica, principalmente passada a primeira fase de crise do coronavírus e defendeu a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do orçamento de guerra, idealizada por ele e outros.
Segundo o deputado, os investidores deverão focar sua atenção não no endividamento em si, porque todos estarão endividados, mas na natureza dessa dívida: se permanente ou extraordinária.
A PEC, que deve ser analisada pelo Senado na próxima segunda-feira, permitirá justamente a separação dos gastos com enfrentamento da crise do orçamento principal.
Fazendo coro à maioria do Parlamento, Maia cobrou ainda que o governo libere o mais rápido possível os recursos da renda emergencial de 600 reais a vulneráveis.