Mandetta muda discurso, segue no cargo e critica quarentena

'Temos que melhorar esse negócio de quarentena, não ficou bom', diz ministro da Saúde

25 mar 2020 - 18h23
(atualizado às 18h51)
Luiz Henrique Mandetta
Luiz Henrique Mandetta
Foto: Marcos Corrêa/PR / Divulgação

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ajustou o discurso e, alinhado com o presidente Jair Bolsonaro, criticou as decisões dos Estados do País quanto à adoção de quarentena para evitar a propagação do novo coronavírus.

"Temos que melhorar esse negócio de quarentena, não ficou bom", disse Mandetta, durante a divulgação do número de 57 mortos e 2.433 casos confirmados da covid-19 no País. "A última quarentena foi em 1917. É normal, faz parte dessa situação, nós errarmos, calibrarmos e fazermos projeções um pouco fora e questionáveis por A, B ou C. A quarentena é um remédio extremamente amargo e duro."

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Mandetta, que muitos achavam que até poderia deixar o cargo por causa da pressão de Bolsonaro pelo retorno das pessoas às ruas, procurou dizer que sua preocupação é com a saúde e a vida das pessoas e que as quarentenas impostas pelos Estados têm prejudicado, inclusive, o trabalho médico.

Ele não deixou de ressaltar, porém, os problemas econômicos que a situação pode gerar e chegou a citar, inclusive, que se reabram templos e igrejas para as pessoas rezarem. "Que fiquem abertas, só não se aglomerem. Fé é elemento de melhora na alma, no espírito", disse.

Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante videoconferência com Governadores do Sudeste
Foto: Marcos Corrêa/PR / Divulgação

Segundo o ministro, uma "quarentena sem prazo para terminar vira uma parede na frente da vida das pessoas" e as decisões têm que envolver outros assuntos do governo e da própria área de saúde. "A saúde não é uma ilha, não vamos tratar isoladamente, não existe só coronavírus. Eu tenho recebido médico que está fechando consultório de pediatria, clínicas de ultrassonografia. A vida continua. Outras doenças acontecem, as pessoas têm necessidades. As coisas continuam. Os arquitetos têm de trabalhar, as pessoas..."

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Mandetta disse que os governadores vão se reposicionar. "Foi precipitado, foi cedo. As pessoas têm de saber se vamos fazer sacrifício de uma semana, vamos. Assim a gente vai junto", comentou. O ministro, no entanto, não mencionou quais seriam os Estados e municípios que teriam, em sua avaliação, "extrapolado" na dose das quarentenas, mas disse que é preciso revisar as decisões, que podem ser graduais. "Existe possibilidade de trabalhar por bairro, por transporte, por exemplo. Nós saímos, já no início dos casos, para um efeito cascata de quarentena em todo País", comentou. Isso causa transtornos em nosso sistema de saúde."

Embora tenha criticado as quarentenas, Mandetta voltou a pedir para que as pessoas evitem contato. "Evite o contato com outras pessoas, mantenha a higiene das mãos, proteja as pessoas de mais idades, o contato íntimo, o beijo", disse. "A distancia social deve ser observada. Isso tudo ajuda para ter equilíbrio para atravessar esse momento de muito estresse para as pessoas."

Sobre a sua permanência no cargo, disse que fica. "Nesse momento de crise, vou trabalhar ao máximo, a equipe está empenhada, vamos trabalhar com critério técnico", afirmou o ministro. "Na hora que acharem que eu não devo trabalhar, que o presidente achar, ou se eu estiver doente, ou quando eu achar que esse período todo tenha passado e eu possa não ser mais útil..."

Número de casos e mortes começou a 'subir', diz Mandetta

Se por um lado Mandetta criticou as ações de quarentena dos Estados, por outro reconheceu o Brasil começou a "subir" seu número de casos e mortes. "Estamos só no início, temos só 30 dias do primeiro caso. Estamos iniciando a subida, que leva algumas semanas. Temos nossas projeções e vamos ver se elas vão bater", disse.

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O ministro também questionou os dados informados pela China sobre contaminações e mortes pela covid-19. "Isso deve ter acontecido na China, num número astronômico, que por algum motivo ficou embaixo do tapete. É isso que leva a Índia fazer quarentena de 1,3 bilhão de pessoas."

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