Máscara pode reduzir carga viral e gravidade da covid-19, diz estudo

Um novo estudo concluiu, após o exame de vários casos, que o uso de máscaras reduz a carga viral a que estaramos expostos e, se infectados, a manifestação da doença seria mais branda ou mesmo assintomática.

7 ago 2020 - 04h51
(atualizado às 07h44)
O benefício individual de usar uma máscara é mais incentivo para seu uso
O benefício individual de usar uma máscara é mais incentivo para seu uso
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Autoridades de saúde e governos de vários países recomendam ou tornam obrigatório o uso de máscaras porque elas diminuem as chances de pessoas infectadas espalharem o coronavírus.

Porém, um novo estudo concluiu que o uso de máscaras também reduz a carga viral à qual estamos expostos e, se infectados, a manifestação da doença pode ser mais branda ou mesmo assintomática.

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A pesquisa realizada nos Estados Unidos pelos médicos Monica Gandhi e Eric Goosby, da Universidade da Califórnia, e pelo pesquisador Chris Beyrer, da Universidade Johns Hopkins, examinou vários casos e concluiu que a exposição ao coronavírus sem consequências graves devido ao uso de máscaras pode gerar uma imunidade em toda a comunidade e reduzir a propagação da doença.

Muitas pessoas continuam se recusando a usar máscaras mesmo diante da informação de que elas evitam que se contaminem os outros. Mas agora o estudo sugere que as máscaras podem ter um grande benefício individual para quem as usa, o que é um incentivo a mais para seu uso.

O estudo foi publicado no Journal of General Internal Medicine.

A máscara reduz a chance de ter sintomas graves de covid-19, dizem os pesquisadores.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O efeito da carga viral

Os médicos Gandhi, Goosby e Beyrer compararam dados de várias situações: algumas nas quais os grupos usavam máscaras, outras nas quais eles não usavam. E depois fizeram uma relação entre isso, a carga viral à qual as pessoas foram expostase e as de infecções leves ou assintomáticas.

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A infecção assintomática pode ser problemática porque promove a disseminação do vírus por pessoas infectadas sem que elas saibam. Mas, ao mesmo tempo, ser assintomático e não gravemente doente é benéfico para o indivíduo, dizem eles.

Além disso, taxas mais altas de infecção assintomática levam a taxas mais altas de exposição ao vírus.

Os pesquisadores reconhecem que a resposta imune de anticorpos e células T a diferentes manifestações da covid-19 ainda está sendo analisada, mas as evidências encontradas nos dados do desenvolvimento dessa imunidade celular, mesmo com uma infecção leve, são encorajadoras.

Evidências

A conclusão de que os usuários de máscaras são expostos a uma carga viral mais baixa, que resulta em uma infecção mais leve, é apoiada pelo estudo de três importantes acumulações de evidências: virológica, epidemiológica e ecológica.

Até agora, o principal argumento para o uso de máscaras é a proteção de outros
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

As máscaras — dependendo do tipo e do material — filtram a maior parte das partículas virais, embora não todas. Há algum tempo acredita-se que a exposição a esse baixo nível de partículas virais provavelmente produz uma doença menos grave.

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Resultados de experimentos realizados no passado com humanos expostos a diferentes volumes de vírus não letais demonstraram sintomas mais graves em indivíduos que receberam uma carga viral mais alta.

Com o novo coronavírus, a experimentação não é possível nem ética, mas os testes realizados em hamsters que simulavam o uso de máscaras separando os animais com uma parede divisória feita de máscara cirúrgica, não só mostraram que os hamsters protegidos eram menos propensas à infecção, mas que, quando eram infectados com covid-19, tinham sintomas leves.

Em termos de evidência epidemiológica, os médicos indicam que as altas taxas de mortalidade observadas no início da pandemia parecem estar associadas a intensa exposição a alta carga viral antes da introdução do uso de máscaras.

Caso do cruzeiro argentino

Um caso recente em particular é notável: o de um navio de cruzeiro na Argentina, onde todos os passageiros e tripulantes receberam máscaras após a detecção de um surto de covid-19.

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Nesse ambiente fechado, 128 das 217 pessoas a bordo tiveram resultado positivo para coronavírus. No entanto, a maioria dos infectados (81%) permaneceu assintomática.

As taxas de mortalidade permaneceram baixas em países que reabriram, mas ainda usam máscaras
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Como evidência ecológica, pesquisas indicam que países e regiões que estão acostumados a usar máscaras faciais para controle de infecção, como Japão, Hong Kong, Taiwan, Cingapura, Tailândia e Coréia do Sul, não sofreram tanto em termos da gravidade da doença e mortalidade.

O mesmo aconteceu com os países que aplicaram a máscara com antecedência.Além disso, mesmo quando esses países registraram o ressurgimento dos casos de covid-19 ao retomar a atividade social e econômica, as taxas de mortalidade permaneceram baixas, corroborando a teoria da carga viral, afirmam os autores do estudo.

Em conclusão, os médicos argumentam que o uso universal de máscaras durante a pandemia deve ser um dos fundamentos mais importantes no controle da doença e advogam que essa medida seja tomada em particular nos Estados Unidos, onde as diretrizes não são homogêneas e parte da população continua a resisitir, por vezes violentamente, contra o uso de máscaras.

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Eles observam que durante a devastadora pandemia de gripe em 1918, os americanos adotaram com sucesso o uso de máscaras em público, mas a resposta às recomendações atuais dos Centros de Controle de Doenças (CDC) tem sido mista.

O uso de máscaras tem duas vantagens. O primeiro é proteger outras pessoas, evitando a propagação do vírus por uma pessoa infectada. Se essa preocupação com os outros não for suficiente, talvez a segunda vantagem — benefício individual — seja uma motivação mais eficaz.

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