Os médicos acreditam que o novo protocolo do Ministério da Saúde deve atrapalhar um pouco o trabalho no enfrentamento da pandemia. Na quarta-feira, o governo permitiu a prescrição da cloroquina para casos leves da covid-19, mesmo após diversos estudos terem mostrado que o medicamento não é eficaz para tratar a doença.
"A população vai começar a perguntar para o médico se pode prescrever. Caberá ao médico explicar que não tem eficácia comprovada e talvez não seja a melhor opção", declarou o presidente da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes da Costa.
Ele também esclarece que essa pressão não é incomum e acontece também no tratamento de outras doenças. "Muito frequentemente o médico é solicitado a prescrever tratamento porque pacientes ouvem falar que tem efeito miraculoso. Quando está em portaria tem um peso ainda maior. Mas na portaria também explica que há efeito adversos e não está comprovado cientificamente."
A médica Lessandra Michelim, diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia, também acha que a postura do Ministério da Saúde dificulta o trabalho dos profissionais da saúde. "É mais uma dificuldade. Temos batido muito nessa tecla em falar que não há evidências para casos pouco sintomáticos. A gente vem falando isso há muitas semanas e agora vem o protocolo que a gente não concorda. A pressão sempre virá na direção de quem prescreve."
Michelim, que atende no Hospital Unimed de Caxias do Sul, acredita que não haverá pressão do governo nos hospitais. "Tem que ficar claro que não foi uma nota técnica, não tornou obrigatório. É uma orientação, que as sociedades médicas já disseram que não apoiam", informou.
Antonio Carlos Lopes, diretor acadêmico do Hospital Militar da Área de São Paulo, discordou dos companheiros de profissão. "Tem que saber receitar a dose adequada. O problema é que a cloroquina é um medicamento barato e não interessa para a indústria. Querem queimar para lançar um mais caro.
O presidente da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias) acredita que a recomendação não mudará a compra desse medicamento. "Já não é um produto fácil de achar na farmácia. É um medicamento usado para lúpus, malária e artrite. Cerca de cem mil pessoas no Brasil usam por mês. No início da pandemia, houve um corrida pelo medicamento e faltou. Mas desde que a Anvisa definiu que precisa de receita controlada freou a compra. Esse panorama só vai mudar se os médicos começarem a receitar muito mais."
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