Mulheres têm resposta imunológica mais eficiente à covid-19

Estudo identificou que o público feminino teve uma resposta melhor das células T, que estimulam a produção de anticorpos

27 ago 2020 - 07h22
(atualizado às 08h01)

Mulheres têm uma resposta imunológica mais eficiente ao novo coronavírus do que os homens. Esta é a principal conclusão de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e publicada na quarta-feira, 26, na revista científica Nature, uma das mais conceituadas do mundo.

Movimento na Estação ferroviária Termini, em Roma, na Itália, onde a temperatura corporal dos passageiros está sendo aferida como forma de conter a disseminação do novo coronavírus
Movimento na Estação ferroviária Termini, em Roma, na Itália, onde a temperatura corporal dos passageiros está sendo aferida como forma de conter a disseminação do novo coronavírus
Foto: Cecília Fabiano/Dia Esportivo / Estadão

Conduzida por cientistas de vários países, inclusive brasileiros o estudo analisou 98 pacientes (47 homens e 51 mulheres), com média de 60 anos, e identificou que elas desenvolveram uma resposta mais eficiente das células T, aquelas que estimulam a produção de anticorpos ou destroem diretamente as células infectadas pelos vírus, entre eles, o Sars-CoV-2, impedindo a propagação da infecção. Com isso, as mulheres desenvolvem menor número de casos graves de covid.

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"Os homens desenvolvem mais respostas inflamatórias de citocinas do que as mulheres no início da covid-19. Além disso, elas apresentam melhor imunidade às células T do que os homens", afirmou a imunologista Akiko Iwasaki, líder da pesquisa da Universidade de Yale ao Estadão.

As respostas inflamatórias envolvem reações do sistema imunológico que causam o que é conhecido como "tempestade de citocinas" no corpo. Grosso modo, as citocinas são proteínas que estimulam o sistema imunológico. No estudo, os cientistas perceberam que elas estavam elevadas em todos os pacientes com covid-19 em relação a quem não tinha a doença (grupo controle). "E os homens tiveram mais citocinas do que as mulheres", disse Akiko.

Os pesquisadores alertaram que o quadro grave de uma doença não está relacionado apenas ao funcionamento do sistema de defesa do corpo. Existem diferenças hormonais e comportamentais que podem ser associadas aos quadros mais graves. A pesquisa procura caracterizar apenas a resposta imune de homens e mulheres. O estudo também não ofereceu uma razão para essas diferenças.

Mesmo assim, o estudo oferece uma contribuição importante para um cenário que intriga os cientistas desde o início da pandemia: os homens mais velhos, acima de 60 anos, têm maior risco de adoecer e morrer do que as mulheres da mesma idade. Isso se reflete nas estatísticas. Os homens representam 60% das mortes por covid-19 no mundo. No Estado de São Paulo, o último boletim epidemiológico aponta que entre as vítimas estão 16.836 homens e 12.358 mulheres.

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Embora investigue um grupo relativamente pequeno, na opinião do virologista Paulo Eduardo Brandão, o estudo é importante ao apontar certo equilíbrio entre os sexos diante da pandemia. "Os homens têm uma resposta imune menor, mas as mulheres apresentam maior severidade de sintomas. O estudo é útil para nós pensarmos como espécie e não apenas como indivíduos. Surge daí um equilíbrio entre os sexos diante dos efeitos da doença", avaliou.

Sistema imunológico

O desenvolvimento de respostas imunológicas mais rápidas e mais fortes entre as mulheres no combate ao coronavírus pode estar relacionado à proteção contra os patógenos para a gestação. Por outro lado, um sistema imunológico em alerta constante pode ser prejudicial. Muitas doenças autoimunes, caracterizadas por uma resposta imunológica desproporcional, são mais prevalentes em mulheres.

A eficiência da resposta feminina em relação à masculina prevalece mesmo em idades avançadas. Quanto mais velhos os homens, mais fracas são as respostas das células T.

As conclusões da pesquisa indicam que os homens, principalmente acima dos 60 anos, serão os mais beneficiados quando a vacina for descoberta. Em termos práticos, empresas e instituições que buscam o imunizante contra o coronavírus podem ter de considerar os dados por sexo na definição da dosagem da vacina, por exemplo.

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